RedePsi - Psicologia

Colunistas

Preparo para a prova

Um atleta se prepara com antecedência para realizar suas provas a fim de obter o melhor rendimento no dia da competição. Um forte candidato às mais disputadas vagas certamente se prepara para realizar suas provas. O preparo do candidato, assim como o do atleta, requer disciplina na execução dos treinos e conta com alguns outros aliados na busca do melhor desempenho.

No artigo anterior tratamos de três aspectos importantes para o planejamento do estudo para concurso: o cuidado com a saúde; o melhor aproveitamento do tempo e o investimento financeiro. Para realização das provas precisamos estar atentos a pelo menos três fatores essenciais para um bom aproveitamento: Preparo físico, teórico (conteúdo programático) e emocional. O preparo físico irá dar condições de bem estar para o estudo e para a realização das provas. Ainda que saiba a matéria e tenha a tranqüilidade de um monge, se um desconforto físico perturba o candidato, o seu desempenho tenderá a cair. O preparo teórico é fundamental. Estudar o programa indicado é condição sine qua non para atingir sua meta de aprovação. O preparo emocional não é menos importante. Costumo dizer que o descontrole emocional é responsável pela reprovação de milhares de candidatos.

Preparo físico

Além da atenção ao estado de saúde, conforme abordado no artigo anterior, a atenção a saúde preventiva deve ser igualmente verificada. A atividade física é uma aliada importante não apenas na obtenção da melhor forma física, mas também no que tange a saúde emocional por conta de fatores sociais e hormonais relacionados ao controle do estresse e ao bem-estar, promovendo qualidade de vida. Observe o artigo “A ‘mente sã em corpo são’ ainda vale” do professor de Educação Física e Personal Trainer Alex de Lima1.

A grande quantidade de conhecimentos que o candidato a concurso tem de assimilar resulta em uma carga horária extensa de estudos. Além do enorme esforço, a alta competitividade na luta pela vaga gera um alto nível de estresse.

Será que atividade física freqüente aumenta a capacidade de aprender e memorizar?

Inúmeras são as evidências que indicam os efeitos benéficos do exercício físico sobre a saúde em geral. Diversos trabalhos científicos têm avaliado o papel da prática de atividade física. Vários sistemas celulares e moleculares poderiam participar dos benefícios proporcionados pela prática de atividade física sobre o sistema nervoso central. Dentre as regiões encefálicas mais favorecidas neste processo, a formação hipocampal, relacionada aos processos de aprendizagem e memória, ocupa um lugar de destaque. Assim, o aumento dos níveis de fatores neurotrópicos nesta região, como o brain-derived neurotrophic factor (BDNF) e da formação de novos neurônios e da síntese e liberação de neurotransmissores (noradrenalina e/ou serotonina) têm sido apontados como moduladores da plasticidade neuronal induzidos pela prática de atividade física.

O exercício físico promove também a liberação de endorfinas, que melhora o humor e alivia a dor, reduzindo os níveis de cortisol sanguíneo, um hormônio produzido e associado ao estresse e à depressão.

Outro ponto a ser abordado refere-se ao ritmo biológico. Os seres humanos são dotados de vários ritmos diários, que controlam funções fisiológicas e o desempenho, os quais são conhecidos como ritmo biológico ou ritmos circadianos. Como cada um de nós possui seu próprio ritmo biológico, é natural que existam variações em relação ao desempenho. Existem aqueles que se sentem melhor ao realizar a atividade à noite, outros à tarde e alguns pela manhã. Entretanto, como aqui a estética é secundária, o mais importante é a organização da atividade física em relação aos estudos.

Organize o seu tempo para realizar a atividade física pelo menos três vezes por semana, com um intervalo de descanso entre elas. Outro ponto importante é o local onde irá realizar a atividade. Atividades ao ar livre são recomendadas. Estabeleça uma hora de treinamento, incluindo aquecimento, parte principal e volta à calma. Dê preferência a exercícios aeróbios (bicicleta, caminhada, corrida ou natação), mas, antes de qualquer coisa, que seja uma atividade prazerosa. Enfim, comece logo, pois os efeitos mais efetivos demoram um pouco a aparecer, mas quando surgem, as diferenças são notáveis!

A boa alimentação é indispensável. A alimentação é responsável pelo desenvolvimento e correto funcionamento do organismo. Assim, uma alimentação balanceada coopera com o bom aproveitamento do estudo e com o bom rendimento nas provas. Observe as dicas da nutricionista Dra. Edilene Candido2:

A alimentação balanceada:

Uma alimentação adequada em energia, proteínas, carboidratos, lipídios, vitaminas, minerais, fibras e água é de extrema importância para concursandos, pois nesse momento há uma necessidade de estar com tudo em ordem para a competição.

Cada nutriente tem uma função no nosso organismo, por isso a importância do equilíbrio na alimentação:

– os carboidratos nos ajudam a ter energia para realizarmos as nossas atividades, tanto física quanto mental;

– as proteínas fazem a manutenção;

– os lipídios também são fonte de energia, e em excesso podem causar problemas circulatórios, por isso devem ser consumidos com moderação;

– as vitaminas e minerais fazem parte de um grupo seleto para que todos os nutrientes sejam absorvidos de forma eficaz – a deficiência de uma vitamina, como a vitamina B1 (tiamina), causa prejuízo ao bom funcionamento mental, enquanto que a de um mineral, como o Ferro, acarreta falta de concentração, podendo levar tudo a perder.

– a água é fundamental para a hidratação do nosso corpo, pois sem líquido ficamos cansados com mais rapidez, ainda mais em tempos de temperaturas mais altas.

– por fim, as fibras, que fazem com que nosso intestino funcione regularmente, sem retenções indesejáveis, ajudando ainda a controlar nossos níveis de colesterol e glicemia (fibras solúveis).

A alimentação correta é perfeita para o bom funcionamento do corpo, por isso devemos dar mais atenção à alimentação, pois devemos tomar cuidado com dietas com grandes restrições e dietas da moda, que não vão dar ao seu corpo o que ele precisa de forma equilibrada e harmônica – por exemplo, dietas de grandes restrições calóricas proporcionam déficit de energia para todo o corpo, inclusive o cérebro, causando uma baixa estima pelos baixos níveis de serotonina resultantes pela inadequação alimentar de proteínas e carboidratos.

A alimentação indicada para os concursandos é muito simples:

Seria composta de 6 refeições com uma distribuição adequada durante o dia: café da manhã, lanche da manhã, almoço, lanche da tarde, jantar e um lanche 1 hora antes de dormir. O café da manhã à base de frutas, leite desnatado e cereal integral, e o lanche antes do almoço, que poderia ser suco ou fruta com casca, têm por objetivo desestimular o consumo excessivo na grande refeição: o almoço, composto de arroz integral, legumes e verduras, carne branca (de preferência) e feijão – líquidos somente antes ou após a refeição, para evitar a distensão do estômago.

O lanche da tarde poderá ser realizado 3 horas depois do almoço (suco de fruta ou iogurte desnatado com sanduíche natural no pão integral); quanto ao jantar, idem ao almoço, porém em menor quantidade; o lanche da noite poderá conter biscoitos tipo cream cracker, com um chá calmante (camomila) para um sono tranqüilo.

Evite ficar muito tempo sem se alimentar para que não haja prejuízo ao seu rendimento. Fazendo seis refeições ao dia você terá mais disposição para sua jornada intelectual e física.

A alimentação na véspera da prova:

Na véspera da prova evitar alimentos que podem causar desconforto como: bebidas gaseificadas (refrigerantes, cervejas…), alimentos gordurosos (pizzas, chocolates, frituras…), alimentos que causam gases (repolho, ovo, couve-flor, batata doce, feijão, alho, cebola…), bebidas alcoólicas, alimentos com muito açúcar (doces concentrados: pudim, doces de compota caseiros…). O ideal é que se realize um plano alimentar personalizado, evitando assim excessos ou déficit alimentar.

O dia da prova pela manhã:

Reserve um tempo para sua primeira refeição. Não esqueça de fazer um café da manhã bem saudável, nunca comece qualquer atividade sem antes repor a energia: frutas, pão integral, queijo branco e leite desnatado são opções de café da manhã sem exageros.

Não esquecer da água sem gás, ela pode ser nossa grande aliada contra a fadiga física e mental, pois sem água acontece uma queda no funcionamento corporal.

O acompanhamento de um nutricionista proporcionará uma alimentação de acordo com a real necessidade individual de cada um, e conseqüentemente o melhor rendimento físico e mental.

O uso de medicação e outras drogas podem interferir no seu desempenho. Fique atento!

O conteúdo

A disciplina nos treinos é observada na execução do planejamento de estudo. Dedicar-se ao conteúdo previsto no programa é fundamental. Estude mesmo que não haja concurso em andamento. Não espere sair edital para começar seu preparo.

Durante suas leituras, explore cada conceito e concentre-se nos estudos de casos apresentados na bibliografia sugerida nos concursos anteriores. Aplique seu método pessoal de estudo. O segundo passo é muito simples e extremamente produtivo – resolva questões de provas anteriores e questões propostas que seguem o estilo das provas de concursos.

Aprenda a matéria de prova: Leia os textos sugeridos e textos relacionados. Se possível, verifique a possibilidade de ter acesso a toda bibliografia indicada. Assinale os assuntos que forem mais relevantes para o cargo oferecido. Estude esses assuntos.

Aprenda a fazer prova:

  1. Identifique o órgão que fará a prova;

  2. Resolva provas anteriores do mesmo órgão e familiarize-se com o estilo de prova;

  3. Resolva também provas (de conteúdo similar) de outras bancas. É comum questões repetidas.

  4. Resolva o máximo de questões que conseguir, isto proporcionará maior confiança.

  5. Recorra a materiais próprios para concursos.

  6. Reproduza a “cena da prova”. Faça simulados. Simule uma prova e observe o tempo gasto em cada questão. Este recurso ajudará a distribuir melhor seu tempo na situação de prova real.

O

fator emocional






Fonte: Santos, W. D. R. "Como passar em provas e concursos". Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. p. 273

É muito comum ouvir dos candidatos que a ansiedade é a grande vilã do baixo rendimento nos concursos. Neste artigo iremos chamar de ansiedade as manifestações emocionais e fisiológicas experimentadas pela grande maioria dos candidatos durante a preparação e realização das provas. Estudantes ansiosos algumas vezes dizem que se sentem bloqueados ou que engasgam em testes e que não são capazes de recuperar informações que conhecem. De acordo com L. Davdoff (1983), a ansiedade pode influenciar a codificação (que em primeiro lugar interfere na fixação da informação na memória), armazenamento e/ou recuperação de dados.

Etimologicamente, ansiedade provém do grego Anshein e quer dizer estrangular, sufocar. Para S. Freud a ansiedade é uma reação a uma situação de perigo. A reação a este perigo seria o reflexo de fuga e se enquadra dentro das pulsões de auto-conservação. Embora S. Freud defendesse a teoria de que a ansiedade neurótica era simplesmente libido transformada, Freud desde o início insistiu na estreita relação entre a ansiedade em reação a perigos externos e a perigos instintuais. Em seu primeiro artigo sobre a neurose de angústia (1895) escreveu:

A psique é dominada pelo afeto de ansiedade se sentir que é incapaz de lidar por meio de uma reação apropriada com uma tarefa (um perigo) que se aproxima de fora.

Em 1926, faz referência a experiência de desamparo do ego frente ao acúmulo de excitação.

O determinante fundamental da ansiedade automática é a ocorrência de uma situação traumática; e a essência disto é uma experiência de desamparo por parte do ego face de um acúmulo de excitação, quer de origem externa quer interna, com que não se pode lidar.

Resumidamente, de acordo com as contribuições teóricas, a ansiedade é uma emoção caracterizada por sentimentos de previsão de perigo, tensão e aflição e pela vigilância do sistema nervoso simpático, colocando o corpo em estado de alerta para que esteja apto a enfrentar uma situação percebida como ameaçadora. Em geral, a ansiedade agrega fenômenos somáticos como taquicardia, sudorese, problemas gastrointestinais, dificuldade em adormecer ou sono insatisfatório, palpitações, sensação de vazio no estômago, aperto no tórax e demais sintomas físicos perturbadores.

A ansiedade é quase sempre vista como um desconforto desnecessário diante da realização de uma atividade, normalmente algo novo para o indivíduo ou que represente em sua execução um nível alto de exigência. Porém, as respostas fisiológicas associadas à ansiedade têm o objetivo de proporcionar melhor desempenho em situações emergenciais. Assim, nem toda ansiedade é ruim. Quando a ansiedade ou a preocupação faz com que o indivíduo busque a solução, a ansiedade é positiva, mas se é excessiva, muito prolongada e intensa ou desproporcional à situação, bloqueia o desempenho, pois o terror psicológico, que contagia, vai aumentando à medida que a “situação perigo” se aproxima.

A literatura nos apresenta diversos tipos de ansiedade, iremos, portanto, classificá-la apenas em ansiedade normal (inerente as situações cotidianas) e patológica:

A ansiedade normal se restringe a uma determinada situação, e nos faz pensar sobre como resolver os problemas e enfrentá-los da melhor forma. Como, por exemplo, um estudante frente a uma situação de exame. Certa ansiedade é importante, pois mobiliza o organismo para a execução do trabalho. Torna-se preocupante, porém, se os sintomas forem muito intensos, persistirem por um longo período e/ou atrapalharem as tarefas cotidianas.

A ansiedade patológica é diagnosticada quando esses sintomas tornam-se constantes e a preocupação injustificável, normalmente desproporcional à situação real. A ansiedade patológica pode possuir causas físicas ou psicológicas, ocorrer só ou simultaneamente a outras alterações psicofisiológicas, como o estresse, e afetar ou não algumas funções psicológicas tais como a atenção e a memória. No entanto, o diagnóstico deverá ser feito por um médico que avaliará cada um desses sintomas e excluirá outras doenças que possam se parecer com a ansiedade patológica. Vale ainda alertar que o candidato a concurso ou vestibulando, no período que antecede a prova, pode sofrer vários outros distúrbios físicos e psicológicos e até mesmo, depressão.

Uma ansiedade descontrolada ou crônica sabota a capacidade intelectual, priva o indivíduo de seus melhores recursos emocionais e intuitivos, dificulta a articulação verbal, o senso de humor e a presença de espírito, reduz a capacidade de concentração e afeta a memória. Quem experimenta esse tipo de ansiedade antecipa acontecimentos que não estão ocorrendo no momento e que não é certo que venham a ocorrer no futuro. Desta forma, poderá transformar num desastre o desempenho de uma pessoa talentosa.

Cada pessoa reage de uma forma diferente à ansiedade. Assim, não existe uma fórmula para resolver o problema. Cada indivíduo é distinto e, por isso, é sempre importante buscar o autoconhecimento, aprendendo, descobrindo e elaborando técnicas próprias de controle.

1 Alex de Lima é professor de Educação Física, preparador físico pessoal para candidatos a concursos (especialmente prova física), pós-graduado em bases biomédicas, especialista em esporte para pessoas com necessidades especiais e divulgador do Handebol em cadeira de rodas.

2 Dra. Edilene Candido é nutricionista, atendimento em consultório com equipe de balão intra-gástrico e domiciliar, pós-graduada em nutrição clínica e materno infantil.

Acesso à Plataforma

Assine a nossa newsletter