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Estresse ocupacional nos profissionais de enfermagem: causas e conseqüências físicas e psíquicas

Soraia Carvalho Gil [1]
Natanael Reis Bomfim[2]  


[1]
Graduanda do Curso de Psicologia da Universidade Metropolitana de Educação -BA. [email protected]

[2] Doutor em Educação pela Universidade do Quebec a Montreal.; Professor Adjunto de Cartografia da Universidade Estadual de Santa Cruz – Ilhéus – Bahia-Brasil. Professor Orientador da disciplina Planejamento e Gerenciamento de Projetos do Curso de Psicologia – FACSUL, Itabuna-Ba. [email protected]
 

Resumo

Esse artigo  insere-se no campo da Psicologia Social e clínica, para tal,  foi realizada a análise das discussões de cinco artigos, a fim de verificar os conceitos acerca do estresse ocupacional, que tanto acomete os trabalhadores. Os resultados apontam que o estresse ocupacional é um estado emocional desagradável decorrente de aspectos de trabalho, os quais são avaliados pelo indivíduo como ameaçadores à sua auto-estima e bem-estar causando a esses profissionais desgaste emocional. As conseqüências nocivas são variadas. Uma delas é a Síndrome de Burnout, caracterizada pela exaustão emocional, avaliação negativa de si mesmo, depressão e insensibilidade diante dos outros.
 
Palavras-chave: Estresse ocupacional, Burnout, trabalho

Introdução  

O estresse, seja ele de natureza física, psicológica ou social, é composto de um conjunto de reações fisiológicas que se exageradas em intensidade ou duração podem levar a um desequilíbrio no organismo. A reação ao estresse é uma atitude biológica necessária para a adaptação às situações novas.

Em termos científicos, alguns autores como Ballone (2002) salientam que o estresse é a resposta fisiológica e de comportamento de um indivíduo que se esforça para adaptar-se e ajustar-se a estímulos internos e externos. Como a energia necessária para esta adaptação é limitada, se houver persistência do estímulo estressor, mais cedo ou mais tarde o organismo entra em uma fase de esgotamento.

As implicações sociais, psicológicas, econômicas e políticas do Estresse são enormes e devem ser consideradas na compreensão global do problema, a qual deve considerar a tríade “Estresse, indivíduo e meio ambiente” e as suas mais diversas características. No Brasil, o Estresse é a terceira causa de afastamentos do trabalho e ocupa o segundo lugar entre os demais transtornos mentais (Lipp & Rocha 1994), logo este artigo tem como objetivo verificar as reações físicas e psíquicas do Estresse na vida do profissional de enfermagem.  

Referencial teórico

A profissão de enfermagem foi considerada freqüentemente na literatura como uma ocupação particularmente estressante, caracterizada pelas contínuas demandas físicas e emocionais que os profissionais recebem de seus pacientes.

De acordo com Araújo et. all (2005), as relações do indivíduo com seu trabalho acabam por influenciar no estilo de vida dos profissionais que cuidam. Os enfermeiros se enfrentam habitualmente à morte e à dor, a múltiplos problemas relativos a sua tarefa, a desajustes organizacionais e não é estranho que se vejam envolvidos em situações difíceis, obrigados a tomar decisões de responsabilidade em situações críticas para as quais em alguns casos somente contam com informação ambígua e incompleta. Dessa forma, necessário se faz lembrar que o cuidado prestado aos clientes seja adequado, para tanto são necessários ambiente favorável, recursos e condições dignas de trabalho para os profissionais de enfermagem desenvolvam suas atividades laborais.

O trabalhador de enfermagem geralmente possui mais de um vínculo empregatício, deve ser considerado o pouco tempo destinado ao lazer e, como a maioria dos trabalhadores pertence ao gênero feminino, a jornada de trabalho doméstico também deve ser considerada na análise da qualidade de vida desses profissionais.

Na visão de Murofuse et all (2005), o estilo de vida frenético decorre muitas vezes, de necessidades financeiras e manutenção de um padrão social, fazendo com que o trabalhador  estabeleça para si um ritmo rigoroso de atividades envolvendo os vínculos empregatícios e a vida domestica, desta forma, propiciando o estresse. Soma-se a isso, o fato de trabalhar em situações adversas impostas pela profissão que impõe grande demanda de atividades variadas r em turnos diferentes  podendo afetar o desempenho físico, gerar distúrbios mentais, neurológicos, psiquiátricos e gastrintestinais como comentam  LAUTERT et. all (2004).

O trabalho do enfermeiro, por sua própria natureza e características, revela-se especialmente suscetível ao fenômeno do estresse ocupacional devido à responsabilidade pela vida das pessoas e a proximidade com os clientes em que o sofrimento é quase inevitável, exigindo dedicação no desempenho de suas funções aumentando a probabilidade de ocorrência de desgastes emocionais.

O desgaste emocional, a que a equipe de enfermagem se depara nas relações com o trabalho é muito significativo, onde o estresse ocupacional caracterizado como Síndrome de Burnout tem presença marcante na atuação do enfermeiro, pois o ambiente a que está exposto é altamente  estressante, devido às condições caóticas do dia a dia.

A chamada Síndrome de Burnout é definida por Batista et. al (2005), como uma das conseqüências mais marcantes do estresse profissional, e se caracteriza por exaustão emocional, avaliação negativa de si mesmo, depressão e insensibilidade com relação a quase tudo e todos.

Stacciarini e Troccoli (2001), afirmam que o Burnout é o resultado de esgotamento, decepção e perda de interesse pela atividade de trabalho que surge nas profissões que trabalham em contato direto com pessoas em prestação de serviço como conseqüência desse contato diário no seu trabalho.

Com isso, a Síndrome de Burnout correlacionam a fadiga emocional, física e mental, sentimentos de impotência e inutilidade, falta de entusiasmo pelo trabalho, pela vida em geral e baixa auto-estima a estados que combinam esta síndrome.

Murofuse et all (2005), afirmavam que Burnout estava estritamente ligado a profissionais de saúde, que perdiam então, o interesse, empatia e o próprio respeito por seus pacientes.

Como se pode perceber, em uma perspectiva psicossocial, Burnout tem-se definido como uma síndrome cujos sintomas são sentimentos de esgotamento emocional, despersonalização e baixa realização pessoal no trabalho. Estes sintomas podem desenvolver-se naqueles sujeitos cujo objeto de trabalho são pessoas em qualquer tipo de atividade. No entanto, deve ser entendida como uma resposta ao estresse laboral que aparece quando falham as estratégias funcionais de enfrentamento que o sujeito pode empregar e se comporta como variável mediadora entre o estresse percebido e suas conseqüências.

Esse enfrentamento é definido por Batista et. al (2005), como sendo o “conjunto de esforços que uma pessoa desenvolve para manejar ou lidar com as solicitações externas ou internas, que são avaliadas por ela como excessivas ou acima de suas possibilidades”.

Colaborando com o assunto, Lautert et. all (2004), ressalta que os trabalhadores da área de saúde ocupam uma das profissões campeãs do Estress Ocupacional, sendo classificada como a terceira, ficando atrás somente dos controladores de vôo, motoristas de ônibus urbano, que ocupam o segundo lugar e dos policiais e seguranças privados que estão em primeiro lugar. As profissões da área de saúde em geral sofrem pressões de todos os lados, tanto dos clientes/pacientes ou subordinados.

Portanto, nota-se a importância de um cuidado maior com enfermeiros de centro cirúrgico, pois o crescimento do estresse ocupacional nesta área está cada vez maior.
 

Métodos e técnicas

Para atender o objetivo desse artigo, buscamos selecionar os periódicos que abordam essa temática através do site do Centro de Aperfeiçoamento do Ensino superior (CAPES). Em seguida selecionamos os artigos e os tabulamos por categorias, a fim de analisarmos o conteúdo do discursos dos autores. Finalmente confrontamos esse discurso com outros elementos teóricos.

Resultados e discussão

Analisando a produção científica do período de 1999-2003, no campo da psicologia da saúde, buscamos o  interesse pela compreensão do estresse ocupacional na vida do trabalhador, profissional de enfermagem. Assim, no discurso dos autores, fica evidente para a maioria dos  artigo citados,  afirmar que o estresse ocupacional é definido como a soma de respostas físicas e mentais, ou ainda, reações fisiológicas, que, quando intensificadas, transformam-se em reações emocionais negativas. Logo, eles teorizam de forma metodológica e abordagem  teórica específica conforme a pesquisa realizada por cada um.

Troccoli et al, (2001) Estresse na atividade ocupacional do enfermeiro, fazem uso da abordagem fenomenológica, utiliza em sua metodologia uma investigação exploratória através de entrevistas individuais para chegar ao resultado de que os enfermeiros vivenciam diversos estressores relacionados aos fatores intrínsecos do trabalho, as relações no trabalho, aos papéis e a estrutura organizacional.  

Murofuse et al, (2005), “Reflexões sobre Estresse e Burnout e a Relação com a Enfermagem”, numa abordagem psicossocial, através de estudo bibliográfico, vem afirmar que Estresse interfere na vida do indivíduo causando um esgotamento pessoal no trabalhador de enfermagem, posição convergente com o trabalho de Staccarine e Troccoli (2001),  acrescentando ainda que a síndrome de Burnout, envolve atitudes e condutas negativas no trabalho de enfermagem. 

Lauter et al, (1999), “O Estresse na atividade gerencial do enfermeiro”, numa abordagem fenomenológica, também convergente com as teorias dos autores anteriores, onde os resultados da sua pesquisa qualitativa sugerem que o estresse gerado pela atividade gerencial do enfermeiro desencadeia alterações na saúde.

Pode-se perceber que os três autores acima citados, concordam entre-se quando dizem que o estresse ocupacional  decorre por alguns aspectos do trabalho.  Batista, et al. (2005), Estresse Ocupacional e Enfermagem abordagem em Unidade de atenção à Saúde Mental, analisaram 100% dos profissionais de enfermagem que trabalham na USM, com dados coletados através de entrevista semi estruturada, cujo resultado demonstra que o nível de estresse  dos profissionais de saúde da USM é de normal a baixo, resultado divergente dos anteriores, tendo em vista tratar-se  da mesma profissão, porém em ambiente diferenciado.

Araújo, etal. (2003), “Aspectos Psicossociais do Trabalho e Distúrbios Psíquico”, num estudo de corte transversal, incluindo 502 trabalhadores  de enfermagem de um hospital público da Bahia, nesse estudo foi observado que a prevalência de DPM foi mais elevado no quadrante  de trabalho com alta exigência.

Percebemos que os autores concordam entre-se quando dizem que o estresse ocupacional  decorre do desgaste físico e psíquico provocados por alguns aspectos do trabalho considerados como ameaçadores. Vale ressaltar que esse tipo de estresse independe do nível intelectual do trabalhador e do cargo que ele ocupa na empresa.

Qualquer condição que pressione o indivíduo em sua atividade de trabalho pode provocar a reação de estresse. Mesmo em ocasiões que possam ser angustiantes para um indivíduo e não para o outro, se tal pessoa interpreta aquela situação como um perigo ou ameaça potencial, surgirá a reação de estresse.
           
Considerações finais Nas últimas décadas, a expressiva mudança em todos os níveis da sociedade passou a exigir do ser humano uma grande capacidade de adaptação física, mental e social. Muitas vezes, a grande exigência imposta às pessoas pelas mudanças da vida moderna e conseqüentemente, a necessidade imperiosa de ajustar-se à tais mudanças, acabaram por expor os trabalhadores em especial à uma freqüente situação de conflito, ansiedade, angústia e desestabilização emocional.

Assim, pode-se dizer que o estresse é uma reação emocional que tem componentes físicos e psicológicos que podem surgir diante de qualquer mudança da vida que amedronte ou confunda. Fatores sociais, econômico e emocionais são alguns dos motivos que podem levar o sujeito ao estresse.

Lidar com o estresse no trabalho compreende um esforço conjunto da empresa e de profissionais habilitados em combaterem esse distúrbio. Esta união poderá ajudar o indivíduo afetado e que não consegue, por recursos próprios, enfrentar a situação.

Assim, necessário de faz uma intervenção psicológica centrada no indivíduo, na qual consiste em treinar os sujeitos para melhorarem seus recursos em controlar e manejar o stress.Diante desse estudo, pode-se perceber que a Psicologia permite repensar e sentir, desde uma nova perspectiva, o ser no mundo, chegando a trabalhar os erros, ter uma compreensão mais real da vida e da própria conduta, aprende com o auxílio dela a rever o mundo interno e em conseqüência também o externo, que pode então vir a ser ou mais ameno e menos ameaçador ou, talvez, a reconhecer idealizações desnecessárias, falsas ligações emocionais e até a submissão ou desprezo por fatos, idéias ou pessoais, que para cada um de foi, na realidade, fonte de conflitos que agora entende-se bem melhor.        

Referências bibliográficas 

ARAÚJO Tânia M, AQUINO Estela, MENEZES Greice, SANTOS, Cristiane Oliveira. (2005) Aspectos psicossociais do trabalho e distúrbios psíquicos entre trabalhadoras de enfermagem. Disponível em  http://www.scielo.br/pdf/rsp/v37n4/16776.pdf . Acesso em 20/09/08 

BATISTA Alves, SOARES Lucilane, GUEDES Mota Helisamara, 2005. Estresse Ocupacional e Enfermagem:Abordagem em Unidade de atenção à Saúde Mental. Disponível em:http://www.unilestemg.br/revistaonline/volumes/02/downloads/artigo_17.pdf. Acesso em 10/09/08 

LAUTERT  Liana, CHAVES Enaura H. B. e MOURA Gisela M. S. S. de. (2004) O estresse na atividade gerencial do enfermeiro. Disponível em http://www.scielosp.org/pdf/rpsp/v6n6/0968.pdf . Acesso em 15/09/08

MUROFUSE, Neide Tiemi, ABRANCHES, Sueli Soldati and NAPOLEAO, Anamaria Alves. Reflexões sobre estresse e Burnout e a relação com a enfermagem. Rev. Latino-Am. Enfermagem, Mar./Apr. 2005, vol.13, no.2, p.255-261. ISSN 0104-1169. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/rlae/v13n2/v13n2a19.pdf. Acesso em 10/09/08  

STACCIARINI JM,TROCCOLI BT. Estresse na atividade ocupacional do enfermeiro. Ver.latino-am Enfermagem, 2001. Disponível em : http://www.inicepg.univap.br/INIC_07/trabalhos/sociais/inic/INICG00865_01O.pdf. Acesso em 10/09/08

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