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A agorafobia enquanto perturbação obsessiva

Pretende-se enquadrar a agorafobia na sintomatologia obsessiva e enquanto estrutura obsessiva de personalidade, também para isso utilizando o referencial teórico de Bergeret (1997).
A agorafobia refere-se ao medo, com ou sem ataque de pânico, de sair e de se deslocar em espaços abertos, como praças públicas (Houzel, Emmanuelli & Moggio (Coord.), 2004). A agorafobia, enquanto psicopatologia, enquanto descompensação psicopatológica, estará relacionada com a neurose obsessiva, devido a nessa situação haver falta de pormenores, de detalhes, de referência, caracterização essa que nos leva a pensar numa neurose obsessiva. Com essa falta, precisamente, o obsessivo entra em descompensação.

E, precisamente, o Dicionário de Psicopatologia da Criança e do Adolescente, coordenado por Houzel, Emmanuelli & Moggio, e publicado em 2004, na sua tradução portuguesa, embora inicialmente referindo o cariz fóbico da agorafobia, também desenvolve, ou estabelece, a relação da agorafobia com a neurose obsessiva. Isto no sentido de ocorrerem frequentemente rituais obsessivos nesta psicopatologia. Deveremos interpretar estes rituais, com base no já dito, no sentido da tentativa do obsessivo tentar lidar com uma situação que lhe é mais desconhecida, com poucos, menos, ou nenhuns pontos de referência, em que se basear para se relacionar com o mundo exterior.

Quanto ao cariz fóbico já referido e enquadrando-o na neurose obsessiva, é necessário aqui fazer uma revisão teórica das estruturas de personalidade, tal como elas são consideradas por Jean Bergeret ( 1997 ). Este autor considera que existem as estruturas psicótica, histérica e obsessiva, situando-se o borderline enquanto aestruturação, portanto, como não tendo uma verdadeira estrutura. Quanto às estruturas referidas, todas elas têm desenvolvimentos normais, não patológicos, portanto, só havendo psicopatologia quando ocorre uma descompensação em qualquer das estruturas.

Por exemplo, se um neurótico obsessivo descompensar, só descompensará na linha obsessiva e seus correlatos, como traços de carácter. Ora, o cariz fóbico da agorafobia inscreve-se aqui, na sua relação com a neurose obsessiva, e tendo em conta o já dito acerca dos rituais obsessivos característicos na agorafobia, tendo esta, portanto, estratégias ou mecanismos de defesa tipicamente obsessivos (Houzel, Emmanuelli & Moggio) (Coord.), 2004). Os sintomas fóbicos estão correlacionados com a descompensação numa neurose obsessiva, tendo o fóbico, portanto, e o agorafóbico, em particular, uma estrutura neurótica obsessiva de base ou de fundo, que entrou em descompensação. Ou seja, a agorafobia está enquadrada numa das estruturas obsessivas de personalidade que é a estrutura fóbica.

Bibliografia

Bergeret, J. ( 1997 ). A personalidade normal e patológica ( tradução portuguesa ). Climepsi Editores Houzel, D., Emmanuelli, M. & Moggio, F. ( Coordenação ) ( 2004 ).

Dicionário de Psicopatologia da Criança e do Adolescente ( tradução portuguesa ). Climepsi Editores.

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