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Psicoterapia Analítica de Carl Gustav Jung

A Psicoterapia Analítica (assim como a Psicologia Analítica) é uma abordagem criada e desenvolvida por Carl Gustav Jung (1875-1961), um proeminente psicólogo suíço. Este autor contribuiu com uma conceptualização marcante, quer no campo da psicoterapia, em  
particular, quer no campo da psicologia, em geral.
Para esclarecer a conceptualização de personalidade feita por Jung, importa referir que este autor é considerado um dos representantes do modelo conflitual da Personalidade e, em particular, do conflito intra-psíquico.

Como Kaufman (Corsini et al, 1979) indica: " … Analytical psychotherapy is an attempt to create, by means of a symbolic approach, a dialectical relationship between consciousness and unconscious. ". Desta frase, para além da importância da abordagem simbólica e da relação dialéctica, deve ter-se em conta que para Jung, o inconsciente distingue-se em inconsciente pessoal – mais relacionado com o desenvolvimento ontogenético da psique –  e o inconsciente colectivo, constituído por propensões psíquicas, designadas de arquétipos, que resultam de sedimentos de experiências colectivas antepassadas da Humanidade.

Relativamente ao seu modelo, Jung esclarece: " … quanto a mim, prefiro a expressão " psicologia analítica ", para a minha conceituação, procurando um modo genérico de englobar a "psicanálise", a " psicologia individual " e outras tendências da psicologia  
complexa. " (Jung, 1988). Exemplificando estas "outras tendências", Kaufman (Corsini et al, 1979) diz: " The Junguian poit of view accords easily with other contributions to the  understanding of the psyche, such as the Gestalt theory, interpersonal and Adlerian theories, and even some aspects of behaviour modifications. ". Ainda para esclarecer melhor esta referência a outras terapêuticas, é de indicar o que Jung diz quanto às neuroses mais difíceis: " … dependendo do tipo de problema, a análise deve seguir de preferência, os princípios de Freud ou os de Adler. " (Jung, 1988).

O psicólogo suíço, diz ainda que, enquanto se estiver no campo da psicologia das neuroses propriamente ditas, são indispensáveis tanto os pontos de vista de Adler como os de Freud. Mas ao verificar-se a repetitividade e a monotonia das sessões, sugerindo a estagnação do processo ou, ao surgirem os conteúdos mitológicos, ou arquetípicos, dever-se-à abandonar o tratamento analítico-dedutivo (característico dos autores anteriores) e passar a " … tratar os símbolos anagogicamente, ou sinteticamente, o que equivale ao método dialéctico e à individuação. " (Jung, 1988).

Para um melhor enquadramento da psicologia analítica, em termos psicoterapêuticos, é de referir que, na sua origem, ela foi considerada aplicável, principalmente àquela pessoa que se teria ajustado bem ao mundo exterior, às expectativas que a sociedade tinha dela, mas que ao entrar na segunda metade da vida, se encontrava insatisfeita consigo própria. A Psicoterapia Analítica, foi então dirigida, principalmente, ao homem e mulher de meia-idade, considerados " ajustados ". No entanto, Jung veio a considerar que eram requisitados diferentes modos de tratamento, consoante a " metade " da vida em que o indivíduo se encontrava.

A psicoterapia analítica diferencia-se de outros sistemas pelo ênfase no funcionamento prospectivo e pela colocação do ser humano numa constelação arquetípica específica ( os arquétipos de Jung são a tradução psicológica dos imperativos filosóficos de Kant, no sentido em que esses imperativos são impostos ao processo perceptivo, determinando aquilo que se vê, aquilo que se percebe; os arquétipos são, pois, propensões psíquicas, constituindo a essência do inconsciente colectivo ). Aponta para um funcionamento tanto teleonómico como teleológico, já que acentua tanto causalidades históricas, filogenéticas, como causalidades finais –  aspectos criativos, transformadores, da psique, culminando idealmente na experiência do Si-mesmo, através do processo de individuação, considerando que existe uma tendência autónoma da psique nesse sentido da individuação. O aspecto prospectivo parece estar  em sintonia com a psicoterapia existencial e a logoterapia, no sentido de apontar para uma maior conotação filosófica destas terapias.

Considera-se, também, a psicologia analítica, como sendo empírica (Jung considerava-se um observador de dados psicológicos) e fenomenológica, pois é requisitados ao terapeuta para deixar de lado preconceitos sobre o comportamento humano e estar preparado para seguir as indicações da psique.

Esta psicoterapia critica outros sistemas dinâmicos (incluindo o de Freud) pelo seu exagerado ênfase no pensamento redutivo e causal.

Epistemologicamente, Jung considera que o objecto do conhecimento "… tem que passar por um complicado processo de transformações fisiológicas e psíquicas, antes de se tornar uma imagem psíquica. Só esta é que é o objecto do imediato conhecimento. A existência do mundo tem duas condições: uma é existir, a outra ser reconhecida. " (Jung, 1988). A importância da relação psique-conhecimento, para Jung, é realçada quando o autor afirma que: " A psique simplesmente é o espelho do SER, é o conhecimento dele e tudo se move nela. " (Jung, 1988).

Bibliografia

Corsini, R. J. et al ( 1979 ). Analytical Psychotherapy in Current Psychotherapies ( 2nd ed. ). Itasca: F. E. Peacocock

Jung, C. G. ( 1988 ). A prática da psicoterapia in Obras Completas de C. G. Jung, Vol. XVI ( tradução portuguesa ). Petrópolis: Editora  
Vozes. ( Edição Original, 1971 )

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