Já na utilização de sinais ou índices, que ocorre entre os animais, não há uma compreensão ou transcendência da experiência, apenas a ação efetiva. O animal é condicionado a agir de determinada forma todas as vezes que receber um determinado sinal.
Até mesmo as abelhas, que possuem uma forma avançada de transmissão dos sinais, não conseguem simbolizar, devido à imutabilidade do conteúdo de suas mensagens, à incapacidade de retransmitir uma mensagem já efetuada, além de suas mensagens não poderem ser decompostas em partes que possam ser estudadas e reorganizadas de diferentes maneiras, como acontece com os fonemas e morfemas da linguagem humana.
A psicolinguística é uma ciência criada para estudar a língua como um objeto de estudo próprio, integral e concreto, pois não se pode repartir o objeto de estudo. De outra forma, poderia-se ter física da linguagem, química da linguagem, etc.
A linguagem é essencial à sociedade humana. Ela é individual e social. Individual porque cada um constrói a sua fala. Social porque a fala é contruída segundo um conjunto de convenções da sociedade. O que há de social na linguagem é a língua, que representa a transmissão de experiências subjetivas a outros sujeitos através da fala.
A linguagem intermedia a realidade do homem com a realidade do mundo. Através dela, podemos sair do plano individual e nos inserir no plano social. Isso ocorre da seguinte maneira: como a experiência em si não é comunicável, precisamos transcendê-la e abstrair o necessário para a representar e a transmitir utilizando o sistema simbólico. Essa capacidade é específica do ser humano. Assim, torna-se possível falar de situações da ordem do não ser, como o passado e o futuro. O passado que são experiências que não existem mais na realidade, e o futuro é aquilo para o que ainda não existe realidade.
Assim como a linguagem, o tabu do incesto é exclusivo do ser humano. Muitas são as explicações dadas ao problema do incesto, no entanto, elas são insatisfatórias, pois não conseguem explicar a ambigüidade da proibição.
Uma dessas explicações é a biológica, cuja finalidade é evitar que os filhos nasçam ou se tornem degenerados. As prescrições mais positivas que mais freqüentemente encontramos nas sociedades primitivas ligadas à proibição do incesto são as que tendem a multiplicar as uniões entre primos cruzados e, por conseguinte, a união entre primos paralelos.
A humanidade não conhece os perigos ,desde sempre, das uniões consangüíneas. A biologia é de desenvolvimento recente, de forma que o conhecimento científico não pode ser projetado no passado da humanidade para se explicar a proibição do incesto, cuja a obediência é universal no tempo e no espaço.
Uma outra explicação é a psicológica. Essa baseia-se na repulsa instintiva do incesto. Aliás a psicanálise chama a atenção para o contrário do que afirmam os defensores dessa explicação, já que ela mostra a universalidade não na repulsa frente às relações incestuosas, porém em sua procura. Na realidade, toda a explicação psicológica acaba por conduzir-nos à fenômenos de psicologia individual.
Uma outra explicação para a proibição do incesto é a sociológica. Tal explicação tem algo em comum com a psicológica, ou seja: ambas procuram reduzir um dos termos da antinomia.
Uma explicação social da interdição baseia-se na civilização totêmica Australiana. Nesta última o grupo se considera descendente do animal totêmico, havendo em conseqüência uma obrigação de respeitar o sangue de tal animal, que não pode ser caçado, pois em caso contrário o sangue do grupo seria derramado.
Lévi-Strauss mostrou a fraqueza e as contradições das três maneiras segundo as quais a proibição do incesto foi considerado. Para sua explicação satisfatória, consiste em deixar a análise estática para empreender uma síntese dinâmica, uma vez que sua origem não se encontra nem na cultura sozinha nem unicamente com a natureza, e muito menos numa soma confusa de ambas.
Com efeito, a proibição do incesto acaba por constituir-se em condição da cultura, mas conservando da primeira sua universalidade, ao mesmo tempo em que tem da segunda, seu caráter de regra.
A interdição forma então aquele ponto crucial do limite entre natureza e cultura, não sendo portanto uma união estática.
Os pontos de vista de Lévi-Strauss, Monod e Marx, que falam sobre a origem da cultura complementam-se de alguma maneira. Lévi-Strauss exigiu um estudo das transformações do cérebro para se entender a gênese da cultura (a sociedade constituindo-se através das relações de parentesco); ele estava traçando um programa que foi cumprido pelo estudo de Monod, que deduziu a qualidade humana e a linguagem dos Australantropos do fato de que usavam instrumentos (a linguagem, estabelecendo a comunicação das consciências e a acumulação dos saberes); deixando assim uma abertura para as teses de Marx (a produção, possibilitando a satisfação das necessidades e a circulação e a apropriação dos bens).
Sendo assim, pode-se dizer que a cultura é simultaneamente criatividade e comunicação: criação coletiva e socialmente realizada; criação de elementos materiais e espirituais para serem comunicados, de forma que pela comunicação uma maior criatividade possa surgir. Os circuitos se ampliam e as mensagens se enriquecem através da história. A cultura não podia ter começado sem ter uma natureza humana, com a comunicação de consciências, de bem e de vidas que a caracteriza.