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Gravidez na adolescência Parte VI – Consequências – Fatores de risco

Ainda que nas mulheres adultas a gravidez constitua um fator de proteção contra o suicídio, os estudos assinalam um risco suicida elevado (13%) durante a gravidez e o período pós-parto em adolescentes.

Conseqüências da gravidez precoce

Os estudos realizados por Vásques e Pineros (1997) descrevem as conseqüências da maternidade precoce através de uma pesquisa bibliográfica em Med-Line no período compreendido entre 1988 e 1995. Observaram que a adolescência implica num esforço adaptativo com vulnerabilidade psicopatológica. Ainda que nas mulheres adultas a gravidez constitua um fator de proteção contra o suicídio, os estudos assinalam um risco suicida elevado (13%) durante a gravidez e o período pós-parto em adolescentes. Foi encontrada também uma maior incidência de depressão. A gravidez e a maternidade na adolescência podem levar ao abandono escolar, perdendo-se a capacidade de contribuir com independência econômica. Para os autores acima mencionados, há pouco preparo dos profissionais da área da saúde para fazer frente aos problemas psicossociais das adolescentes grávidas. A jovem que não adquiriu uma identidade adulta poderá ter sérios conflitos na sua função de mãe-cuidadora, visto que a maturidade psíquica é essencial para o desempenho desse papel. Os estudos realizados por Aguirre (1995, p.15) em Berger (1987), Renouf (1987) e Pines (1988) coincidem quanto às difíceis interações das mães adolescentes com seus filhos envolvendo graves descuidos e maus tratos. As adolescentes constituem um grande grupo de risco e a gravidez precoce pode prejudicar seu físico ainda imaturo e impedir o desenvolvimento normal do seu crescimento. A eclâmpsia ou doença hipertensiva específica da gestação é a principal causa de morte materna nesse período. Um parto em idade precoce pode colocar em risco a vida da adolescente e estabelecer uma prática reprodutiva prejudicial à sua saúde e à saúde de seu filho.

A família como fator de risco Não se pode pensar no indivíduo, no caso o adolescente, desvinculado de sua inserção do meio ambiente. A família é o primeiro grupo de referência e, enquanto estrutura primeira na vida de uma pessoa, possibilita as relações da criança com objetos externos, assumindo, juntamente com os fatores constitucionais, uma grande importância para o destino do indivíduo. Para que o processo da individuação ocorra, é de extrema importância que o bebê tenha tido condições de ir constituindo, em seu mundo interno, imagos de mãe e de casal parental seguro e carinhoso. Em estudos das famílias das adolescentes grávidas, Cassorla (1996, p.4) observou que se trata de famílias desestruturadas onde o pai não existe ou é ausente, e a mãe é a figura dominante, vista como autoritária e as filhas, em estudo cuidadoso, comumente não eram desejadas e eram sentidas como uma carga. Essas mães, geralmente, também engravidaram adolescentes, com conflitos semelhantes aos das filhas. Romera (1985, p.4), em estudos com adolescentes grávidas, ressalta: que as mesmas não tiveram ou pelo menos, não lhes ficou registrado, aquilo que Uchôa (1980) denomina de pais equilibrados do ponto de vista psicológico, ou seja, aqueles que proporcionam ao ser em desenvolvimento condições satisfatórias para que não surjam situações traumáticas. Continuando, a autora afirma que uma mãe equilibrada é aquela que possibilitará à menina sólidas identificações que a ela permitirão a aceitação sem conflitos marcantes, da posição feminina…; e um pai equilibrado é aquele que se insinua no mundo interno da menina sem uma masculinidade violenta, e, portanto, traumática […]

Em sua pesquisa a autora observou configurações familiares que possivelmente possam vir a contribuir no aparecimento de problemas no desenvolvimento da personalidade de seus membros, tais como o desequilíbrio no relacionamento entre os pais, freqüentemente encontrados. Uma grande parte das jovens percebia “a mãe como figura autoritária e o pai, fraco, dificultando, dessa forma, a aquisição da posição feminina” (idem, p.132). A imagem da mãe aparece como a mais forte, ameaçadora e dominadora, ressaltando uma forte dependência na relação mãe-filha, como conseqüência de pontos de fixação na fase pré-edipiana da menina. Buscando contrair uma nova família, a adolescente tenta resgatar a estrutura idealizada do núcleo familiar de origem e acaba por repetir, de forma bastante similar, o modelo que obtivera na infância, permeada por deficiências afetivas. Dessa forma, o movimento de desconstrução familiar fracassa e em seu lugar vem a repetição. Em relação às famílias das adolescentes estudadas (famílias geralmente pobres ou em processo de empobrecimento), Oliveira (1999, p.281) observa que as figuras parentais ou seus substitutivos apresentaram semelhanças nos relatos das estudadas; as mães foram referidas com certa ambivalência, porém quase sempre foram mais valorizadas que os pais, apresentados como mais ausentes, pouco envolvidos ou perseguidores. Na sua análise, observou que os perfis das adolescentes estudadas indicaram detalhes de algum “abandono” (grifo da autora) referindo-se, na nossa cultura, a cuidados maternos e paternos: presença, proteção, cuidado e orientação dos pais durante a infância e adolescência. Essa mesma questão foi verificada nos estudos de Aguirre (1995) que aponta as pesquisas de Olson & Worobey (1984) os quais fazem uma investigação da relação mãe-filha através de questionários sobre a percepção de adolescentes grávidas e não-grávidas sobre o relacionamento destas com suas mães; os resultados confirmam que o grupo de grávidas percebia menos amor e atenção por parte das mães, enquanto que as não-grávidas acreditavam que recebiam mais afeto, amor e atenção. Landy et al. (1983), citados por Aguirre (1995, p.12) comparam adolescentes grávidas com adolescentes não grávidas e com gestantes não-adolescentes. Enfatizam que não houve entre os grupos diferença significativa nos testes de personalidade embora afirmem que parece que há uma “síndrome familiar” que predisporia a uma gravidez precoce; um pai ausente ou fraco e uma mãe dominante e super-protetora que mantém com a filha uma relação simbiótica (AGUIRRE, 1995, loc.cit.) Fica evidenciada a importância da família em estudo de Burrows et Al (1994), desenvolvido no Chile, com 3000 adolescentes, onde os autores estabeleceram uma tabela de risco para a gravidez precoce, sendo que, das variáveis selecionadas, a metade estava relacionada à família (estabilidade familiar – com quem vive atualmente, idade do primeiro parto da mãe, escolaridade dos pais, permissividade e religiosidade familiar).

* Na próxima matéria teceremos as considerações gerais sobre este estudo realizado para defesa de tese em Mestrado de Psicologia.

Um forte abraço e até breve,

Alaide Degani de Cantone
www.cepps.com.br

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