O mesmo está ocorrendo hoje quanto à linguagem e à cognição, uma lacuna teórica não fechada pelo Comportamento Verbal de Skinner (o qual consiste em um programa orientador, e não em uma explicação acabada), ou pelos experimentos realizados por Epstein (1986), e nem mesmo por esforços mais atuais como a Teoria dos Quadros Relacionais de Hayes (2001), ou a Equivalência de Estímulos de Sidman (1994). A persistência dessa lacuna teórica aliada às nossas explicações simplistas sobre a ligação dos pontos entre a teoria e o mundo, “tem servido de combustível para que muitas pessoas de pouca fé recorram a respostas mentalistas e cognitivistas, em detrimento das explicações da análise do comportamento” (Malott, p.1, 2003). A moda, o mito e a ideologia da Revolução Cognitiva, a qual é o criacionismo da Psicologia, na medida em que insiste em postular a existência de uma entidade mediadora da variação e seleção do comportamento (Skinner, 1990), é a maior representante daqueles de pouca fé.
Reproduzindo um fenômeno semelhante ao Criacionismo a nível filogenético (das espécies).
Outra lacuna importante é aquela no campo das Neurociências. Ainda é rudimentar o conhecimento de como o cérebro funciona, e, portanto, de como os princípios comportamentais modificam o organismo e o mantém modificado até a próxima interação. Ainda é predominante nas neurociências a concepção de um “fantasma na máquina”, (e na Psicologia a concepção do behaviorismo como sendo a abordagem do “organismo vazio” ou “caixa-preta”) que vem sendo combatida pelo neurocientista português António Damásio, por exemplo, em “O Erro de Descartes”. Uma proposta interessante é a de Donahoe e Palmer (1994), de que a análise experimental do comportamento poderia ser suplementada, não substituída, por análises experimentais das neurociências, dando origem à abordagem biocomportamental. A integração dos achados comportamentais e neurocientíficos, resultaria em uma nova síntese similar a moderna síntese da evolução, a qual poderia reivindicar a complexidade comportamental como seu domínio, assim como a teoria sintética da evolução faz com a complexidade morfológica.
Assim, mesmo que concordemos com Roediger (2004), um psicólogo cognitivista, quando afirma que “a resposta mais radical que eu ofereço é que o behaviorismo é menos discutido e debatido hoje em dia porque, na verdade, ele venceu o debate intelectual” visto que todos os psicólogos experimentais atualmente estudam algum tipo de comportamento (Roediger, 2004), não podemos, entretanto, nos acomodar na nossa fé enquanto muitos estudarem o comportamento como a expressão de uma entidade interna mediadora entre os processos de variação e seleção.
Destarte, este artigo visou alertar nossa comunidade e principalmente os jovens behavioristas, a abandonarem os campos de batalha retórica e darem a sua estimada contribuição na construção prática de uma ciência natural do comportamento.
* Psicólogo Analista do Comportamento Mestrando em Psicologia Experimental: Análise do Comportamento pela PUC-SP. Mantenedor do Blog www.janeladeskinner.blogspot.com
Referencias Bibliográficas
Damásio, A. R. (2004). O Erro de Descartes. São Paulo: Companhia das Letras. (Trabalho original publicado em 1994).
Donahoe, J. W. & Palmer, D. C. (1994). Learning and Complex Behavior. Boston/London: Allyn and Bacon.
Epstein, R. (1986). Simulation research in the analysis of behavior.
Hayes, S. C., Barnes-Holmes, D., Roche, B. (2001). Relational frame theory: A Post-Skinnerian account of human language and cognition. New York: Plenum Press.
Malott, R. W. (2003). Behavior Analysis and Linguistic Productivity. The Analysis of Verbal Behavior, 19, 11-18. (Texto não paginado traduzido por Thaís Saglietti Meira Barros, com revisão de Hélio José Guilhardi e Noreen Campbell).
Roediger, H. L. (2004). O que aconteceu com o Behaviorismo? American Psychological Society Observer, 17, 3. (Tradução para o português de Roosevelt R. Starling. FUNREY, MG).
Sidman, M., (1994). Equivalence Relations: a Research Story. Boston: Authors Cooperative.
Skinner, B. F. (1990). Can psychology be a science of mind? American Psychologist, 45, (11), pp. 1206-1210.