2) "Eu sou pobre de marré marré"
"Eu sou pobre, pobre, pobre,
De marré, marré, marré.
Eu sou pobre, pobre, pobre,
De marré de si.
Eu sou rica, rica, rica,
De marré, marré, marré.
Eu sou rica, rica, rica,
De marré de si."
3) "Tenho medo de apanhar"
"Vem cá,
Bitu! vem cá, Bitu!
Vem cá, meu bem, vem cá!
Não vou lá! Não vou lá, Não vou lá!
Tenho medo de apanhar."
4) "Marcha Soldado"
"Marcha soldado,
cabeça de papel!
Quem não marchar direito,
Vai preso para o quartel."
5) "A Canoa virou"
"A canoa virou,
Quem deixou ela virar,
Foi por causa da
Que não soube remar."
6) "Samba Lelê tá doente"
"Samba – lelê tá doente,
Tá com a cabeça quebrada.
Samba – lelê precisava
É de umas boas palmadas."
7) "O anel que se quebrou"
"O anel que tu me deste
Era vidro e se quebrou.
O amor que tu me tinhas
Era pouco e se acabou…"
8) "O cravo brigou com a rosa"
"O cravo brigou com a rosa
Debaixo de uma sacada;
O cravo saiu ferido
E a rosa despedaçada.
O cravo ficou doente,
A rosa foi visitar;
O cravo teve um desmaio,
A rosa pôs-se a chorar."
9) "Passa Passa 3 vezes"
"Passa, passa três vezes..
a última que ficar
tem mulher e filhos
que não pode sustentar…"
Ao analisar a lista de músicas infantis brasileiras, psicólogos adeptos da psicodinâmica tem um prato cheio para interpretação de conteúdos inconscientes que se instalam no sujeito através da infância. Psicólogos que atuam com comportamento do consumidor tem um prato cheio para leitura de mensagens subliminares e seus impactos no comportamento, já os psicólogos adeptos da analise do comportamento podem refletir através das determinantes do comportamento, em especial, junto a determinante da cultura.
Aparentemente, as letras sugerem que desde pequenos somos modelados a coagir e ser coagido, somos expostos a contingências de reforçamento recheadas de operantes de fuga, esquiva, contra – controle, liberação de punição e afins. É claro que a música infanto – juvenil pura e simplesmente "solta" não tem e nem deve ser responsabilizada pelo adulto de amanhã. O que se quer mostrar é como alguns fatos da cultura estão a todo momento somados as demais determinantes do comportamento humano, por exemplo, somados a herança genética (filogênese) e a história de vida construída socialmente (ontogênese).
Imaginemos uma criança cuja herança genética não lhe dá grandes vantagens físicas, que em sua construção ontogênica foi sempre de submissão aos seus irmãos e amigos do colégio, exposto a contingências da cultura brasileira, exposto ao atual sistema educacional que não prepara o jovem para vida profissional, exposto a um sistema político coercitivo e corrupto que ao invés de instalar comportamentos adequados e corrigir os dito socialmente inadequados em sua população só tem gerado novas relações de coerção (índices de criminalidade, inadimplencia, mortalidade, acidentes de trânsito, violência nas escolas, violência na família, desequilíbrio econômico, outros).
O que o psicólogo independente de sua abordagem teórica pode fazer é ficar atualizado, manter um pensamento crítico – construtivo a respeito da cultura e influências políticas de seu país pois elas tem a sua parcela na determinação do comportamento dos grupos e dos indivíduos, além de propor por exemplo, algumas atividades de natureza ocupacional (artes, música, vídeos, peças teatrais e afins) ou alternativa que apoiem o desenvolvimento das pessoas.
A psicologia não precisa de grandes intervenções ou grandes recursos para promover saúde, ela pode utilizar-se das ações mais simples que imaginarmos, principalmente na visão comportamental onde o comportamento, como dito no início do texto é considerado não apenas o que os homens faz, mas qual a conseqüência de suas ações no ambiente e como estas retroagem em seu próprio comportamento. Toda mudança, por menor que seja, já é considerada uma mudança.
Não digo que não devemos mais cantar estes tipos de músicas para as nossas crianças, mas podemos incluir uma dosagem de mensagens, músicas, desenhos animados e afins com teor encorajador como tem feito os EUA que durante muito tempo foi e mesmo diante a crise ainda é e provavelmente será considerado uma das nações mais desenvolvidas do globo. Podemos utilizar a cultura para que ela seja agente mantenedor e liberador de reforçamento para novos comportamentos. Esta possibilidade assim como o acompanhamento terapêutico (AT) supera o limite do setting clinico e potencializa o alcance de intervenções psicológicas – comportamentais.
Podemos repensar em uma gama de estimulação sócio – cultural que não as motivadoras de repertórios coercitivos, podemos por exemplo, incentivar a inclusão social (como o autor do desenho animado "procurando nemo"), podemos incentivar a quebra de paradigmas do bom e do mau (como o autor do desenho animado "deu a louca na chapéuzinho"), podemos incentivar outros padrões de beleza que não os magros e malhados (como uma propaganda do sabonete Dove focado nas mulheres que estão acima do peso), podemos incentivar o lúdico, a criatividade e o imaginário (como o autor do filme Harry Potter), podemos criar contingências que levem as crianças ao teatro, que façam uso reflexivo da internet e não apenas cedam ao processo de robotização e mecanização tecnológica, e assim sucessivamente. Fica aberto o convite para pensarmos no papel do psicólogo junto a cultura.