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Pesquisa mostra que antidepressivos e tranquilizantes são usados para aumentar os limites do corpo

O trabalho foi o vencedor do Prêmio Nacional de Incentivo à Promoção do Uso Racional de Medicamentos, organizado pelo Ministério da Saúde. A pesquisa, orientada pelo professor da FSP Rubens de Camargo Ferreira Adorno, foi defendida em abril de 2009 com o auxílio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

O trabalho foi o vencedor do Prêmio Nacional de Incentivo à Promoção do Uso Racional de Medicamentos, organizado pelo Ministério da Saúde. A pesquisa, orientada pelo professor da FSP Rubens de Camargo Ferreira Adorno, foi defendida em abril de 2009 com o auxílio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Uso de medicamentos psicoativos, como os antidepressivos e os ansiolíticos – estes também conhecidos como tranquilizantes – é tido como um meio das pessoas buscarem auxílio para superar conflitos pessoais e socioeconômicos e aumentar os limites do corpo diante dos problemas da vida cotidiana, conforme observou uma pesquisa desenvolvida na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP.

A tese de doutorado "A medicalização de conflitos: consumo de ansiolíticos e antidepressivos em grupos populares", do farmacêutico e professor da Universidade Federal de Goiás Reginaldo Teixeira Mendonça, estuda os aspectos relacionados ao consumo de antidepressivos e ansiolíticos fornecidos por uma farmácia pública aos moradores de uma região da cidade de Ribeirão Preto, interior de São Paulo.

Por meio de um estudo etnográfico, fazendo uso de entrevistas, fotografias e observação da vida cotidiana dos moradores, o pesquisador percorreu o “caminho social” do medicamento, que se iniciou na farmácia pública e se ampliou para o dia a dia dos 23 usuários entrevistados.

A área delimitada para a pesquisa foi escolhida pela diversidade, já que é constituída por favela, casas da Companhia Metropolitana de Habitação (Cohab), casas de luxo e casas antigas. “Na região, há uma rua que divide a favela do bairro antigo. Existe, para quem mora no local, um conflito: a pessoa não quer ser relacionada à favela e quer se afirmar no bairro mais antigo. O desgaste emocional é muito grande e o uso de medicamentos é tido como uma forma de organizar esses conflitos”, explica o farmacêutico.

Segundo o pesquisador, o uso desses medicamentos psicoativos tem, inicialmente, a finalidade de auxiliar nos conflitos emocionais dos pacientes, mas acaba causando um silenciamento do diálogo entre as partes conflituosas. “As relações sociais são pautadas pelos medicamentos e essa tendência a medicalizar os conflitos pode ser considerada a produtora de um silêncio que impossibilita a pessoa de encarar qualquer mudança em relação à sua vida cotidiana”, diz Mendonça.
Usos entre homens e mulheres

Durante a pesquisa e a coleta de dados, foi verificado que a maioria das mulheres entrevistadas relacionaram o contexto do ambiente doméstico com o uso dos medicamentos psicoativos. “Elas disseram que o consumo desses medicamentos auxiliava nos afazeres ao proporcionarem disciplina e extensão dos limites do corpo. Além disso, afirmaram que os medicamentos são úteis para evitar e anular conflitos entre membros da família, servindo para manter as estruturas e hierarquia familiar, tendo o homem no ‘comando’ da casa”, explica o pesquisador.

Ao contrário das mulheres, os homens revelaram que o humor e a disciplina do corpo se tornam essenciais em relação tanto ao ambiente doméstico como fora deste. Alguns trabalhadores relataram que utilizavam os ansiolíticos para organizarem o sono e os antidepressivos para serem simpáticos em seus trabalhos. Nesse sentido, os homens buscam nesses medicamentos a superação dos limites do corpo, na tentativa de se manterem como provedores e “donos” da casa.

De acordo com o farmacêutico, “a tendência é que o uso dos medicamentos psicoativos aumente entre os homens, pois estão relacionados ao aumento da atenção e superioridade sobre os limites do corpo. Um exemplo nesse caso são os homens que trabalham como vigias: usam o medicamento para controlar o sono e, com isso ter mais de um emprego”.

Apesar da grande procura por esses medicamentos, o uso indiscriminado de psicoativos pode ser extremamente prejudicial à saúde, pois “muitas vezes, o problema não é físico, mas emocional e social”, afirma Mendonça. De acordo com o pesquisador, o consumo de medicamentos deveria ser mais bem controlado e, para isso, é importante que haja uma relação estreita entre o serviço de saúde e a população consumidora.

Fonte: BOL Notícias

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