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O Conceito de Renegação em Psicanálise

O intúito primordial deste trabalho, é o de podermos dierenciar a renegação da repressão. Teremos para isso necessáriamente que avaliar o problema da clivagem,a qual está relacionada com ambos conceitos. A represão é, em Freud, o processo de exclusão da consciência que sofre uma determinada idéia. Em seu trabalho de 1915 sobre essa temática, ele afirma: “sua essência consiste em rechaçar e manter distantes da consciência determinados elementos”. Assim, o conceito de repressão leva em conta a separação entre inconsciente e consciência.

Ao enfocarmos a renegação, vamos percorrer um duplo caminho para o desenvolvimento da conotação que o termo possui em Freud:

= A passagem em que trata explícitamente de diferenciá-la da repressão.

= Os exemplos que Freud oferece e nos quais sustenta o referido conceito.

Em “O Fetichismo”(1927) afirma Freud: “ se queremos diferenciar mais claramente entre a vicissitude da idéia como distante da do afeto, e reservamos a palavra repressão para o afeto, então a palavra correta para a vicissitude da idéia seria renegação”. Ressaltamos que essa é uma colocação que nos causa espécie, pois logo notamos estar ela em contradição com tudo que ele vinha expondo ao longo de toda obra. Freud sempre sustentou que o que se reprime é sempre a idéia( cadeias representacionais). Em seu artigo sobre “O Inconsciente”,sustenta que as ideias reprimem-se e os afetos suprimem-se. No entanto, Freud foi o primeiro a entender como inadequada a diferenciação entre repressão e renegação que apresentava no “Fetichismo”. Modificou então a sua posiçãono Capítulo VIII do “Esboço de Psicanálise”(1938), e onde apresenta o seguinte critério diferencial: “O ego infantil libera-se das demandas dos impulsos indesejáveis por meio da repressão, além de que encontra-se na posição de eliminar algumas demandas do mundo exterior, as quais sente como perturbadoras; isto é efetuado por meio da renegação da percepção que trás ao conhecimento essa demanda da realidade”. Chegamos então a constatação de que a diferença entre a repressão e a renegação seria a que a primeira age contra a demanda do impulso e a segunda contra a percepção que faz conhecer uma demanda da realidade. Assim, a separação conceitual estaria colocada sobre um mesmo plano : o conteúdo do qual o sujeito tenta se ver livre.

Cabe aquí um questionamento: essa separação conceitual, estaria suficientemente referenciada sómente sobre os conteúdos sobre o qual operam? Tentaremos encaminhar uma aproximação possível de resposta, nos utilizando dos momentos em que Freud faz uso do termo renegação. Por exemplo, em “A Organização Genital Infantil”(1923) nos diz ele: “ nós sabemos como os meninos reagem às primeiras impressões sobre a ausência de pênis; eles renegam (…) e crêem que vêem um pênis (…) eles dissimulam a contradição entre a observação e a pré-concepção, dizendo a sí próprios que o pênis ainda é pequeno, mas crescerá”.

A renegação não age sobre o dado perceptivo em sí, e sim sobre o vestígio mnêmico deste. Ao se falar em renegação, estamos entendendo que o menino percebeu a diferença e chegou a conclusão de que pode faltar-lhe o pênis. Estamos aquí claramente diante da assim denominada “Angústia de Castração”.

Queremos insistir no fato de que o conteúdo renegado é o de uma percepção, muito embora a operação da renegação não ocorra no ato perceptivo própriamente dito e sim na manipulação do vestígio mnêmico ou mnésico que é o seu produto. No momento em que o menino pensa “ainda é pequeno,mas crescerá”, ele apela para uma teoria em que fica (ou tenta deixar) rechaçada a angústia de castração.

No seu trabalho sobre “A perda da realidade na neurose e psicose”, Freud expressa, ainda que de outra maneira, de que a neurose não nega a realidade e sim a ignora; a psicose a renega e trata de substituí-la. Daquí entendemos que Freud estabelece uma diferença entre ignorar a realidade renegá-la, de modo que nem toda a alteração da realidade em favor da realização de um desejo é equivalente à renegação. O histérico esquece a ocorrência traumática = está alterando a lembrança da realidade = e a amnésia histérica, surge, em Freud, diretamente ligada a esquecimento de um acontecimento ocorrido na realidade. Recordamos que toda a história do conceito de repressão constituiu-se ao redor da amnésia de acontecimentos, não só de fantasias, como também ocorridos na própria realidade.Esse conceito do esquecimento, pela repressão de acontecimentos reais, Freud o mantém não só nos históricos da primeira época sobre a histeria, como nos trabalhos posteriores.

Assim, a função de resgatar a repressão, o recuperar do esquecimento, os acontecimentos infantis “realmente vividos e reprimidos”, mantenha-se ainda atualmente como constituindo um dos objetivos de um processo de análise.

Recapitulando:

= Na repressão: a representação da realidade enquanto representação reprimida acha-se no inconsciente; na consciência o substituto aparece em forma de resto metonímico daquele, ou de elemento que o representa simbólicamente ( ver o caso clinico de Freud referente a paciente Lucy R. ). No caso da repressão, o inconsciente sabe da realidade e a consciência não,e só esta conhece elementos que se lhe apresentam como desprovidos de sentido.

= Na renegação: quando o menino afirma que a mulher tem pênis, uma crença é substituída por outra crença, que é a contrapartida daquela, ou seja, a sua imagem em negativo. Dessa forma, onde não existe algo, afirma-se que existe. Trata-se da substituição de uma realidade por outra, só que não é qualquer outra, mas sim a sua recíproca. Como nos afirma Hugo Bleichmar: “este substituto recíproco, no entanto, não possui qualidade sensorial, não se constituindo numa alucinação, segue estando a nível de uma crença”. A presença de uma crença implica na renegação da outra. Já na repressão, fica como que um “buraco” na consciência, sendo que depois o retorno do reprimido( ou recalcado) originará um resto ou um substituto simbólico, mas já não simplesmente uma realidade que se contraponha à anterior. Para Freud, o substituto age na qualidade de uma contra-catexia e é enquanto permite manter excluído da consciência o elemento reprimido ou recalcado, e não mais porque signifique o contrário deste.

Objetivamos em trabalho posterior,continuar abordando a mesma temática e introduzindo novos conceitos que venham agregar respaldo às colocações aqui realizadas .

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