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Estudo Exploratório sobre Valores na Atuação de Assistentes Sociais e Psicólogos operadores da Política Nacional de Assistência Social.

Resumo

O presente artigo surge como fruto de uma inquietação a respeito do estudo da Política Nacional de Assistência Social, documento este relativamente novo, tendo sido aprovada apenas em 2004 que serve de norteamento para os trabalhos desenvolvidos por assistentes sociais, psicólogos e demais profissionais da área que atuam com famílias e indivíduos em situação de vulnerabilidade social. Assim tal pesquisa exploratória pretende fazer uma breve reflexão sobre o conceito de valores e da teoria do Desenvolvimento Moral de Kohlberg, bem como elencar valores existentes dentro da Política Nacional de Assistência Social (PNAS) e perceber quais os valores priorizados por psicólogos e assistentes sociais em sua atuação profissional.

I. Introdução 

Os estudos sobre os valores humanos e sociais no campo da psicologia atualmente ainda são muitos restritos e necessitam de muitos pesquisadores interessados em tal área. Grandes avanços foram feitos desde o Estudo do Desenvolvimento Moral de Lawrence Kohlberg, mas muito ainda precisa ser percorrido no entendimento da natureza moral dos seres humanos.

O presente artigo pretende fazer uma breve reflexão sobre o conceito de valores e da teoria do Desenvolvimento Moral de Kohlberg, bem como elencar valores existentes dentro da Política Nacional de Assistência Social (PNAS) e perceber quais os valores priorizados por psicólogos e assistentes sociais em sua atuação profissional.

A PNAS trata-se de um documento relativamente novo, tendo sido aprovada apenas em 2004, e serve de norteamento para os trabalhos desenvolvidos por assistentes sociais, psicólogos e demais profissionais da área que atuam com famílias e indivíduos em situação de vulnerabilidade social.

Este documento afirma ser seus objetivos incluir os invisíveis, proteger os que estão em de vulnerabilidade social, prevenir situações de risco por meio do desenvolvimento de potencialidades, fortalecimento de vínculos familiares e comunitários, através de ações, cuidados, atenções, benefícios e auxílios (PNAS, 2004).

Em seu âmago este documento traz valores que se apresentam várias vezes na escrita dele, estes devem ser princípios que orientariam todas as ações e atividades a serem desenvolvidas pelos operadores desta política.

Assim, o presente artigo tenta entender quais são os valores existentes na PNAS e quais são os priorizados pelos assistentes sociais e psicólogos do Município de Porto Seguro – BA que atuam nas aéreas de proteção propostas por esta política pública.

O interesse maior deste estudo é ver se existem diferenças entre as escolhas dos psicólogos e assistentes sociais dos valores existentes na PNAS durante sua atuação com os usuários dos serviços da Assistência Social no Município de Porto Seguro – BA.
 
               
II. Sobre Valores 
           
O presente artigo tem como objetivo fazer um levantamento de valores, comparando os elencados pelas categorias técnicas profissionais do Serviço Social e da Psicologia que atuam na Política Pública de
Assistência Social no Município de Porto Seguro–BA, assim, uma discussão a respeito do conceito do construto valor se torna indispensável.
           
Lourenço (1995), na tentativa de conceituar os valores, afirma que por estes se entende aquilo que uma ou várias pessoas, grupos ou culturas acham digno de ser perseguido, alcançado e desenvolvido.
           
Pais et col. (1999) propõem que os valores seriam crenças sólidas que se traduzem por preferências orientadas por determinados sistemas ou dispositivos comportamentais. A escolha pelo norteamento de um determinado sistema para este autor se daria como “estratégias de adaptação” que os indivíduos usam para organizarem adequados modos de ajustamento aos seus meios sociais envolventes. Assim, para Pais et  col (1999) o valor conforma-se a padrões e convenções sociais.
           
Formiga e Gouveia (2005) vão ao encontro da idéia de Pais et  col (1999) quando reafirmam que os valores são crenças duradouras e, quando explicitando sobre componentes dos valores, explicam que um valor não diz respeito apenas ao que a pessoa quer para si, mas este expressa igualmente o que a pessoa deveria querer, ou seja, tem um forte elemento de desejabilidade social.
           
Vale ressaltar que na discussão sobre os valores humanos, parecem ser os estes, justamente, formas de direção baseadas sempre nas necessidades do homem.
                       
Podemos pensar então, que os valores seriam critérios segundo os quais valorizamos ou desvalorizamos as coisas, dentro de determinado contexto sociocultural.
           
Rokeach (1973) apud Formiga e Gouveia (2005) partindo das considerações feitas a respeito dos valores, propõe 24 categorias de valores básicos. Seriam estes:
      
. Valores Pessoais: estes valores atendem a interesses individuais, Schwartz (1994) apud Formiga e Gouveia (2005) divide-os em: (1) Valores de Experimentação: descobrir e apreciar estímulos novos, enfrentar situações novas, e procurar satisfação sexual, são aspectos centrais destes valores (emoção, estimulação, prazer e sexual); (2) Valores de Realização: valores que fazem parte do universo desejável dos seres humanos para a obtenção do sentimento de ser importante e com identidade e espaços próprios (autodireção, êxito, poder, prestígio e privacidade).

·Valores Centrais: esta expressão vem para indicar o caráter central destes valores, Schwartz (1994) apud Formiga e Gouveia (2005) afirma que tais valores servem a interesses tanto individuais como coletivos: (1) Valores de Existência: nestes interessa garantir a própria existência orgânica (estabilidade pessoal, sobrevivência e saúde); (2) Valores Supra-pessoais: onde pessoas que assumem estes valores tentam atingir seus objetivos independente do grupo ou condição social e com preocupações menos materiais (beleza, justiça social, maturidade e sabedoria).

·Valores Sociais: as pessoas que assumem estes valores estão direcionadas para estarem com os outros, Formiga e Gouveia (2005) afirmam que tais valores são assumidos por indivíduos que se comportam como alguém que gostam de ser considerados, ou que pretendam manter um nível essencial de harmonia entre os atores sociais num contexto específicos. Os autores acima citados dividem estes valores em: (1) Valores Normativos: que enfatizam a vida social e a estabilidade do grupo, a ordem é mais apreciada que tudo (obediência, ordem social, religiosidade e tradição); e (2) Valores de Interação: a pessoa que assume estes valores tem interesse em ser amada e aprecia a vida social ativa (afetividade, apoio social, convivência e honestidade).

Lourenço (1995) afirma que é impossível falar de valores sem se pensar na teoria do Desenvolvimento Moral de Lawrence Kohlberg, devido à centralidade dos valores nesta teoria e também pela tentativa de Kolhberg de construir uma teoria filosófica e psicológica sobre o desenvolvimento moral.
Para entendermos os estudos de Kolhberg sobre o desenvolvimento da moral nos indivíduos é necessário sabermos que ele acreditava que este desenvolvimento acontece em níveis e estágios. Cada nível teria dois estágios, que se desenvolveriam seqüencialmente.

O primeiro nível seria o “Nível Pré-convencional” onde de acordo com Kolhberg (1984) apud Lourenço (1992) estaria a maioria das crianças antes dos nove anos de idade, e a orientação moral destas estaria pautada em um conjunto de normas externas, a que se obedece para evitar o castigo ou para satisfazer desejos e interesses concretos e individualistas. Neste nível teríamos o estagio um, baseado na orientação para a punição e o estagio dois de orientação instrumental e relativista, baseado em prazer e desprazer.
Seguindo o protótipo da teoria do desenvolvimento cognitivo de Jean Piaget, Kolhberg, afirma Lourenço (1992), propõe que o nível seguinte seria o da moralidade convencional, assim é chamado este nível pela interiorização das normas e expectativas sociais.

Helen Bee (1977) afirma sobre este estágio que as conseqüências das ações (punição ou recompensa) tornam-se menos importantes, agora os julgamentos são baseados nas normas e expectativas do grupo, ou seja, o justo ou o injusto não se confundem com o que leva à recompensa ou ao castigo, antes definido pela sua conformidade às normas sociais e morais vigentes.

É neste nível que segundo Bee (1977) e Lourenço (1992) se encontram o estagio três, chamado de estágio do bom menino ou de moralidade interpessoal, pautado nas convenções sociais. Ainda neste nível estaria o estagio quatro, onde o individuo é orientado pelo ponto de vista das normas, códigos e leis socialmente aceitas e partilhadas.

O terceiro nível moral para Kolhberg, afirma Lourenço (1992) é o Pós-Convencional, onde para o indivíduo o valor moral das ações depende menos de sua conformidade às normas morais e sociais vigentes e mais da sua conformidade a princípios éticos universais, tais como direito à vida, à liberdade ou a justiça.

Bee (1977) advoga que neste nível o indivíduo reconhece as arbitrariedades das convenções sociais e legais. As leis são arbitrárias e podem ser mudadas. Neste nível teríamos o estagio cinco: baseado na idéia de relatividade das normas; e o estagio seis: postulado na universalidade e reversibilidade dos princípios éticos.
Os estudos de Kolhberg sobre o desenvolvimento moral tornam-se muito relevantes para tentarmos entender aquilo que as pessoas e os grupos acham de ser perseguido, alcançado e desenvolvido, ou seja, os valores.

A contribuição de Kolhberg e seus estudos também se tornam importantes neste artigo porque este tem como população alvo de pesquisa operadores da Política Nacional de Assistência Social (PNAS). Política esta que propõe as ações a serem desenvolvidas por estes operadores, sempre com o objetivo de promover direito à cidadania e responsabilidade política.

As atividades desenvolvidas por estes técnicos devem agenciar proteção e autonomia para a situação de vulnerabilidade social que se encontram os usuários dos serviços propostos pela PNAS.

Serviços, programas, projetos e benefícios que contribuam para a inclusão e equidade dos usuários, é a meta final da PNAS. E, para o alcance destes objetivos a transferência de renda, a proteção familiar e atividades de convívio familiar e comunitário através de atividades sócioeducativas são os meios propostos pela PNAS para que os usuários alcancem o conhecimento e o reconhecimento da justiça e seus valores. Estas ações estão sendo realizadas em todo o Brasil.

Para Kolhberg são os princípios da justiça que são o âmago do que ele chama de educação democrática, educação que pode ter suas idéias como base para as atividades desenvolvidas pelos operadores da PNAS.
“The value core of civic education, we believe are moral principles of justice” Kolhberg (1987).

Uma vez que as atividades que servem aos objetivos da PNAS são ações para o desenvolvimento das pessoas e comunidades, podemos concordar com as idéias de Kolhberg e seus fundamentos da educação democrática.
Assim, o presente artigo pretende averiguar os indicadores de valores expressos no texto da PNAS e perceber quais os técnicos assistentes sociais e psicólogos que atuam na execução desta política classificam como mais importantes.
                                                                                 

Indicadores de Valores na PNAS 
           
Por se tratar de um documento orientador de uma política pública a PNAS traz alguns indicadores de valores intrínsecos a este documento que serve de norte para o desenvolvimento dos operadores de tais ações.
           
Ao pensarmos que valores seriam critérios últimos de definição de metas ou fins para as ações humanas e concordarmos com Lourenço (1995), que afirma que por estes se entende aquilo que uma ou várias pessoas, grupos ou culturas acham digno de ser perseguido, alcançado e desenvolvido, podemos elencar alguns valores presentes no documento da PNAS ou ainda valores imbricados a indicadores presentes em tal texto.
           
Ao longo de todo o documento valores como democracia, cidadania, responsabilidade, participação, autonomia, inclusão, superação, qualidade de vida, proteção, equidade, pertencimento, socialização, fortalecimento, solidariedade, protagonismo, cuidado, reabilitação, dignidade, emancipação, reciprocidade, diversidade e dinamismo aparecem de forma recorrente no texto.
           
Assim sendo, podemos dizer que as metas para as ações dos operadores da PNAS devem ser as crenças/ valores acima citados.
     

III. Sobre a Política Nacional de Assistência Social  

           
A Proteção Social na nação brasileira ganha o estatuto de política, sendo assumida pelo Estado sua responsabilidade e materializa-se juridicamente como um direito social somente na Constituição Federal de 1988.
           
Cardoso et col. (2009) afirmam que a incorporação da Assistência Social como política pública é muito recente na história brasileira, apesar de a mesma vir sendo tratada no interior das políticas sociais desde a década de 30 do século passado.
           
Antes da Carta Constitucional de 1988, os benefícios sociais eram reservados aos trabalhadores formalmente vinculados ao mercado de trabalho. Desta forma, a proteção social era garantida perante contribuição, como bem nos lembra Paiva (2006).
             
Cardoso e col. (2009), afirmam no período de 30 a 80 tenha ocorrido um jogo de forças políticas que garantiam a constituição de um sistema de proteção social para os trabalhadores ativos, onde os custos eram sob responsabilidade do empresariadoMovimentos filantrópicos e centros religiosos também desenvolviam algum tipo de trabalho social, voltados para uma pequena parcela dos que não estavam no em situação de trabalho. Na década de trinta a transferência de renda para estas atividades de assistência era feita do governo federal para as entidades, sem controle social ou participação dos estados ou municípios.           

Estes seriam, por exemplo, maneiras institucionalizadas criadas para as vítimas do infortúnio. Um modelo desta época, advoga Paiva (2006), seria a extinta Legião Brasileira de Assistência (LBA), coordenadas pelas primeiras damas, fortemente marcada pelo assistencialismo e pela cultura do favor, impossibilitando a construção de sujeitos ativos.           

Nas décadas seguintes em função do modelo social vigente no país conseqüências como precarização nas relações de trabalho e nas condições de vida da maior parte da população brasileira surgiram. Este modelo social propõem Cardoso e col. (2009) também era econômico e político, todos impostos pelas idéias neoliberais,  assim o Estado não apresentava suporte por meio das políticas sociais para atender um grande contingente que demandava por amparo social.                      

A este modelo social Paiva (2006) atribui por elemento base, a forte e contraditória relação de subordinação do Brasil com o mercado externo. Esta autora exora que de partida o Brasil ingressa no circuito capitalista internacional em condições de inferioridade, marcadas pela tardia modernização e mantem-se com um reduzido alcance do desenvolvimento de forças produtivas.           

Desta forma, ao Estado é imposto que políticas, programas e projetos sejam por ele elaborados, desenvolvidos e financiados. As bases materiais da referida política ainda estão em construção.           

“Por esta razão, a inserção da assistência social como política pública…tem como desafio responder de maneira decisiva, em escala de massas, às necessidades sociais da população brasileira” Paiva (2006).O próprio documento da PNAS de 2004 assume que ela configura-se uma nova situação para o Brasil, asseverando que seu propósito é garantir proteção para todos que dela necessitem sem contribuição prévia a provisão desta proteção.            

Toda esta realidade, discorrerem Cardoso et col. (2009), talvez contribua para explicar o fato de a Assistência Social brasileira ter sido alcançada ao nível de política apenas em 1988, ter sua Lei Orgânica sancionada no final de 1993 e apresentar suas bases organizacionais em 2003/2005, quando da promulgação da PNAS e da apresentação da Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social NOB/SUAS. Foram dezessete anos desde a CF até serem garantidas as condições políticas e institucionais necessárias para a PNAS.           

A Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS) ao ser sancionada em 1993 apresenta os princípios e as diretrizes da Política de Assistência Social e, a Norma Operacional Básica (NOB) apresenta os eixos estruturantes para a realização de um acordo a ser efetivado entre os três entes federados, afirmam Cardoso et col. (2009).A Política Pública de Assistência Social hoje se realiza de forma a considerar as desigualdades sócio-territoriais, visando seu enfrentamento, a garantir os mínimos sociais e a universalizar os direitos sociais (PNAS, 2004).            
Este documento afirma ser seus objetivos incluir os invisíveis, proteger os que estão em de vulnerabilidade social, prevenir situações de risco por meio do desenvolvimento de potencialidades, fortalecimento de vínculos familiares e comunitários, através de ações, cuidados, atenções, benefícios e auxílios (PNAS, 2004).             

É o Sistema Único de Assistência Social que afiança a proteção social para os cidadãos que dele venha a precisar, de acordo com a PNAS ele é dividido em Proteção Social Básica e Proteção Social Especial.            

A Proteção Social Básica – PSB tem como objetivos prevenir situação de risco por meio do desenvolvimento de potencialidades e aquisições, e o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários. É no Centro de Referência de Assistência Social – CRAS que são desenvolvidas as atividades da PSB, ele é uma unidade pública estatal de base territorial, localizado em áreas de vulnerabilidade social (PNAS, 2004).           

A equipe técnica de profissionais que atuam no CRAS é sempre por assistentes sociais, psicólogos, podendo haver também a inserção de outros profissionais da área social.             A Proteção Social Especial – PSE se configura em uma modalidade de atendimento assistencial destinada a famílias e indivíduos que se encontram em situação de risco pessoal e social, decorrentes de situações do abandono, violência uso de substâncias psicoativas, cumprimento de medidas socioeducativas, situação de rua, situação de trabalho infantil, etc. (PNAS, 2004) .           

A PSE esta estruturada em Média, que oferece serviço para as famílias e indivíduos com seus direitos violados, mas cujos vínculos familiares e comunitários não foram rompidos, e alta complexidade para os mesmo indivíduos, mas que tiveram seus vínculos rompidos. A PSE funciona nos Centros de Referência Especial de Assistência Social – CREAS, e sua equipe técnica de profissionais que atuam na PSE é a mais variada, sendo composta por assistentes sociais, psicólogos, educadores e demais categorias da área social.A PNAS é um documento recente de uma política também recente, mas o seu conhecimento é necessário por todos que operam esta política seja na PSB ou ainda na PSE. Este documento traz em si arraigado uma série de valores que precisam ser perseguidos pelos seus trabalhadores.Democracia, Cidadania, Responsabilidade, Participação, Autonomia, Inclusão, Superação, Proteção, Equidade, Qualidade de vida, Convívio, Pertencimento, Socialização, Fortalecimento, Solidariedade, Protagonismo, Cuidado, Reabilitação, Dignidade, Emancipação, Reciprocidade, Diversidade, Dinamismo e Eficiência são valores que podem ser claramente reconhecidos no eixo do texto da Política Nacional de Assistência Social e seus executores precisam desenvolvê-los nos seus trabalhos.      

IV. Questões da Pesquisa 
           

A Assistência Social, como explicitado no capítulo anterior, foi incorporada no campo das políticas públicas recentemente no Brasil e a PNAS, mesmo tendo origens em anos anteriores, é apenas em 2004 aprovada em nosso país. Esta política preconiza serviços e níveis de proteção para as famílias em vulnerabilidade social.
Dentro do quadro técnico que opera a PNAS diretamente no atendimento as famílias e indivíduos que se encontram em situação de vulnerabilidade social, o profissional de Serviço Social e o profissional da Psicologia são os mais comuns na composição das equipes que promovem ações e projetos com estas populações.

Assim, o presente artigo propõe um estudo exploratório de um levantamento de valores que os assistentes sociais e psicólogos utilizam na sua prática profissional quando no atendimento destas famílias.

Tentar perceber quais os valores existentes na PNAS que foram escolhidos por estes profissionais na execução dos seus serviços e, se existem diferenças quanto à escolha e prioridade de valores elencados, entre as categorias profissionais em questão é que se propõe esta pesquisa.
  

Objetivos
 

Objetivo Geral: 
 
Fazer um levantamento de escolha de valores retirados da Política Nacional de Assistência Social (PNAS) em assistentes sociais e psicólogos que atuam na área.
 

Objetivos Específicos: 

1. Perceber quais os valores, contidos na PNAS, escolhidos e priorizados pelas assistentes sociais na sua prática profissional com famílias e indivíduos em situação de vulnerabilidade social;

2. Compreender quais os valores, contidos na PNAS, escolhidos e priorizados pelos psicólogos na sua prática profissional com famílias e indivíduos em situação de vulnerabilidade social.

3.  Apreender se existem diferenças na escolha e prioridade dos valores em questão entre as categorias profissionais de assistentes sociais e psicólogos.
 

Metodologia: 

Tipo da pesquisa
 
Tal investigação trata-se de uma pesquisa quantitativa, uma vez que utilizará dados estatísticos, freqüência e média, como o centro do processo de análise do levantamento dos valores nas categorias profissionais.

E pode-se afirmar que também se trata de uma pesquisa exploratória, pois sua função é aumentar a familiaridade do pesquisador com o construto valores e possibilitar a realização de uma pesquisa futura mais precisa havendo a clarificação de alguns conceitos.
  

População
 
Foram entrevistados onze psicólogos e sete assistentes sociais, todos trabalhadores da Secretaria Municipal de Assistência Social do Município de Porto Seguro – BA, operadores da PNAS.
 

Instrumento
 
Foi aplicado um questionário que trazia consigo um quadro contendo vinte e quatro valores, todos retirados da PNAS, e dez linhas onde os participantes da pesquisa escolhiam entres os vinte e quatro valores, dez e poria em ordem de prioridade durante sua prática profissional com as famílias usuárias da Assistência Social.
     

Procedimentos
 
Em um primeiro momento o documento da PNAS foi lido pelo pesquisador com ajuda de uma psicóloga e uma assistente social e valores aqui entendidos como advoga Lourenço (1995), como aquilo que uma ou várias pessoas, grupos ou culturas acham digno de ser perseguido, alcançado e desenvolvido, foram retirados confeccionando um quadro de 24 valores.

O segundo momento da pesquisa se deu quando foram entregues questionários para os onze psicólogos e sete assistentes sociais, solicitando destes a lida dos valores expostos no quadro e a escolha por prioridade de dez valores que estes profissionais acham importante ao longo de seu fazer profissional.
Uma tabulação foi realizada para quantificar as freqüências dos valores e os três valores mais freqüentes nas duas categorias profissionais foram evidenciados para a análise e discussão dos dados.
                    

V. Resultados e Discussões

Após a aplicação do instrumento foram contadas a freqüências em que apareceram cada valor escolhido pelo profissional da área de Serviço Social e pelo profissional de Psicologia.  Segue a tabulação
 
Tabela I – Freqüência no levantamento de valores para assistente sociais.

 

É possível perceber que dos sete assistentes sociais entrevistados, todos acham o valor responsabilidade importante na construção do seu fazer profissional, destes 42% acham a responsabilidade como de máxima prioridade em relação a todos os outros valores.

Pode-se pensar que os assistentes sociais quando elencam a responsabilidade com um dos valores a serem perseguidos em sua prática queriam lembrar-se da obrigação de se responder por suas ações.

Socialização e dignidade então aparecem como os outros dois ideais a serem alcançados no fazer profissional do assistente social, promovendo nos usuários de seus serviços a socialização, tão importante na superação dificuldades pessoais, familiares e comunitárias em que estão inseridos as famílias e usuários da PNAS.

E promovendo a dignidade, esta elencada no roll de direitos fundamentais da Constituição Federal de 1988 e, que poderia ser compreendida como honestidade e ações corretas que criariam a reputação moral do indivíduo. 
  

Tabela II – Freqüência no levantamento de valores para psicólogos.

Através da tabela II podemos ver que assim, como os assistentes sociais 100% dos psicólogos acham a Responsabilidade, valor a ser considerado na prática profissional, a diferença neste caso dos psicólogos 72,2% deles acham a responsabilidade prioridade na escala de valores, fazendo-nos pensar que a prática do psicólogo está pautada na obrigação em responder por suas ações, como também promover isto nos usuários de seu serviço.
           
Três outros valores aparecem como premissas a serem seguidas na opinião dos psicólogos a democracia, a dignidade e a eficiência.  Sobre a democracia enquanto poder de tomar decisões em um determinado tipo de governo, é presumível pensar que ela é trabalhada no fazer do psicólogo através de atividades que promovam o empoderamento e protagonismo social.
           
A dignidade, também bastante elencada entre os assistentes sociais, permeia a prática do psicólogo em suas atividades e ações com as famílias em vulnerabilidade social, trazendo não só a Constituição Federal de 1988 como também documentos do Conselho Federal de Psicologia e artigos científicos norteadores no desenvolvimento e entendimento da dignidade para o profissional psicólogo.
           
A eficiência como valor, trazido na PNAS 2004, se refere à eficiência na constituição da rede de serviços que cabe a Assistência Social, ou seja, que os resultados sejam maior que os recursos empregados, independente da natureza dos recursos, e esta parece ser um preocupação dos psicólogos onde 72,2% dos psicólogos acham que a eficiência nos serviços prestados deve ser um valor a ser perseguido em sua prática profissional.
                   

VI. Conclusões 
           
É possível concluir que independente da categoria profissional valores como responsabilidade e dignidade são princípios que aparecem como importantes e norteadores de fazeres profissionais com formação diferente, mas com objetivos semelhantes.
           
O Assistente Social e o Psicólogo são profissionais chamados a contribuir na construção de uma política tão recente, contudo bastante importante na mudança da realidade socioeconômica de nosso país, logo podemos pensar que o para o enfrentamento da vulnerabilidade os psicólogos e assistentes sociais vem a responsabilidade e a dignidade como digno de ser perseguido, alcançado e desenvolvido com conceitua  Lourenço (1995) os valores.
           
A socialização para 71% dos assistentes sociais é um valor que merece destaque na sua pratica profissional, já os psicólogos apenas 2,7% destes acham a socialização merecedora de apreciação na construção do trabalho do psicólogo, talvez devido ao entendimento diferenciado a respeito da socialização para cada categoria profissional, mas isto somente outra pesquisa mais aprofundada poderia ajudar a entender tal resultado.
          
A respeito da democracia 72% dos psicólogos acham que ela deve ser prioridade nas atividades a serem desenvolvidas em sua prática, já os assistentes sociais 42% destes vêem a democracia como um valor a ser perseguido. E 72% dos psicólogos acham que a eficiência na prestação do serviço deve ser levada em conta e dos assistentes sociais 57% possuem a mesma opinião.
           
Com certeza a formação acadêmica de cada profissional, o nível de proteção com o qual este profissional trabalha dentro da PNAS, se Proteção Social Básica ou Especial, as escolhas pessoais deste profissional e o seu entendimento do seu próprio trabalho e da PNAS influenciam nas escolhas dos valores a serem priorizados em sua prática.
           
Outro estudo mais aprofundado com estas categorias profissionais levando em conta seus valores pessoais, talvez possa esclarecer sobre a escolha e priorização de cada valor elencado, bem como a aplicação dele em outros municípios também poderiam ajudar no entendimento da priorização de valores de acordo com a categoria profissional.
           
Assim uma nova pesquisa seria necessária para o maior entendimento dos valores escolhidos pelos assistentes sociais e psicólogos na sua prática profissional, sendo este artigo uma breve introdução no entendimento de práticas profissionais novas em uma política também inicial.
  

VII. Bibliografia  

Bee,  H. (1977). A Criança em Desenvolvimento. São Paulo: Harper & Row do Brasil.

Cardoso Et Col. (2009). Proteção Social No Brasil: O Impasse Entre Garantia De Direitos E A Visão De Benefícios. In: Revista Científica Augustus  – Issn : 1981-1986. Disponível Em:http://apl.unisuam.edu.br/
augustus/artigo.php?ed=24&art=53. Acessado em 25/11/2009 Às 17:05min.

Kohlberg, L. Democratic Moral Education. In: Psicologia. V, 3:  335-341.

Lourenço, O. (1992). Psicologia do Desenvolvimento Moral. Coimbra: Liv. Almedina

Lourenço, O. (1995). A Comunidade Justa de Kohlberg: Um Caso Especial de Educação Moral. In: Revista de Educação, vol. V. nº 1. Jun. Departamento de Educação da F.C. da U.L.

Pais, J.M. et col (1999).  Gerações e Valores na Sociedade Portuguesa Contemporânea.

Paiva, B.A. O SUAS e os Direitos Socioassistenciais: A Universalização da Seguridade Social em Debate. In: Serviço Social & Sociedade. Nº 87 – ANO XXVII – setembro.

Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia. Departamento de Educação.

Formiga, N.S. & Gouveia, V.V. (2005) Valores Humanos e Condutas Anti-Sociais e Delitivas. In: Psicologia: Teoria e Prática 7(2): 134-170.
           

Apêndices

Estudo de Valores 

O presente instrumento deseja fazer um levantamento de valores na prática profissional. Assim, dos valores relacionados no quadro abaixo, escolha dez e classifique-os, nas linhas abaixo, de acordo com sua ordem de prioridades no seu fazer profissional.

Não existem respostas certas ou erradas, apenas gostaríamos de ouvir sua opinião a respeito dos valores abaixo.

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