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A Psicoterapia de Grupo e as suas Vicissitudes

A Psicoterapia de Grupo, suas conceituações e indicações terapêuticas.
Daremos início a esse trabalho, nos perguntando o que se entende propriamente como grupo terapêutico? Vamos recorrer a Newcomb em sua “Social Psychology” de 1955. Esse autor aborda duas condições básicas, mediante as quais se pode afirmar que duas ou mais pessoas constituem um grupo.

A-) O grupo só deve incluir membros que “compartilhem de normas” acerca de algo em particular.

B-) O grupo deverá estar constituído por indivíduos cujos “papéis sociais” se encontrem estreitamente interligados.

Assim, o trabalho comum do grupo implica um sistema no qual cada parte ou papel individual depende, de certo modo, dos demais. Sabemos que do ponto de vista sociológico, estas condições são suficientes para configurar a noção de grupo, mas não poderíamos dizer o mesmo no âmbito psicológico. O grupo , psicologicamente considerado, requer algo mais para assim ser constituído, e este algo mais reside na união especial ou na coesão existente em seu seio. De um ponto de vista “formal” podemos definir o grupo como um conjunto de pessoas que se reúnem em um local determinado, num horário comum, e que compartilhem uma série de normas, objetivando a realização de um objetivo comum: A “CURA”.

Enquanto os papéis dos componentes do grupo estão sujeitos à mudanças contínuas, o terapeuta desempenha o papel do líder formal do grupo. Isto não impede que, simultaneamente, o grupo atribua tanto a ele, como aos observadores, as mais diversas funções ou papéis( = transferência).

Faz-se indispensável a formação do grupo de uma forma adequada, mas como se consegue isso? Ele entrevistará o paciente para tecer a sua hipótese diagnóstica e a partir de então, indicar-lhe o tratamento mais adequado a ser seguido. Quando estiver decidido pela terapia de grupo, deverá evitar qualquer contato individual com o paciente. Encontramos em vários autores, a preferência quanto a receber o paciente quando a indicação já tiver sido realizada por outro colega. Isso implica ter o primeiro encontro com os pacientes quando estes se reúnem no grupo. Faz-se necessário também conhecer os dados mais importantes previamente, assim como idade, sexo, nível intelectual e social, hipótese diagnóstica, etc. Ressaltamos que a abstenção quanto a um contato prévio com o paciente, torna-se fundamental no sentido de se evitar o desenvolvimento de laços transferenciais fora do grupo.

Outros autores, propõem que sejam realizadas uma série de entrevistas individuais, o que, segundo eles, traria as seguintes vantagens:

A-) Preparar o paciente, fornecendo-lhe dados informativos necessários para que ele chegue ao grupo em condições de certa familiaridade e conhecimento, o que lhe facilitará uma colocação favorável no mesmo. Isso diminuirá a ansiedade que de outra forma seria inevitável na primeira sessão.

B-) Permitir o estabelecimento de um certo vínculo com o terapeuta, que o fará se sentir mais apoiado e compreendido frente aos estranhos que encontrará no grupo.

C-) Dar oportunidade a que o terapeuta tome um conhecimento mais íntimo dos problemas individuais para utilizá-los e integrá-los durante o funcionamento do grupo.

Autores como León Grinberg, Marie Langer e Emilio Rodrigué, sustentam uma opinião contrária: entendem que a conduta deva ser a mesma que os guia na análise individual. Julgam que as informações prévias levam a uma maior intelectualização, baseada no conhecimento teórico adquirido, diminuindo a possibilidade da livre ocorrência das reações emocionais tão relevantes para o trabalho e a evolução terapêutica. Ezriel diz também iniciar seus grupos sem nenhuma explicação prévia, já que vê os seus integrantes pela primeira vez, na sessão inicial do grupo. Considera esse autor, que as tensões e reações produzidas pela tomada de contato entre pessoas que não se conhecem, constituem um valioso material para interpretação.

Queremos lembrar que uma das características diferenciais entre a psicoterapia de grupo e a individual, é justamente a falta de obrigatoriedade de falar. Sabemos que a análise individual está baseada na “talking cure”, ou na “cura pela palavra”, enquanto o paciente no grupo pode manter-se em silêncio e ainda assim se beneficiar com o tratamento. Apesar do silêncio, o paciente participa da dinâmica geral pois cumpre de qualquer forma, uma função dentro da gestalt do grupo.

Neste momento, queremos nos deter numa interrogação: “Até que ponto devem e podem ser expostos no grupo, problemas íntimos? Foulkes afirma que dentro de certos limites, podem ser levados ao grupo assuntos privados, sentimentos e fantasias, não sendo tais limites fixos,mas, pelo contrário, alterados a cada momento. A tendência do grupo será a de aceitar aquilo que for compatível com ele mesmo, fixando, deste modo, os limites da comunicação.

Aqueles autores que foram citados nominalmente, afirmam que existem fatores particularmente determinantes da coesão no grupo, os quais contribuem para a criação de uma atmosfera de permissividade e solidariedade, facultando a exposição de intimidades. Um outro aspecto a ser considerado, é que a psicoterapia de grupo pode ser considerada como sendo um processo complementar em relação à psicoterapia individual. É notório também na psicoterapia de grupo, a existência do fator econômico e de tempo de que dispõem os participantes. No entanto, queremos aqui deixar claro que esse tipo de “vantagem” não deve induzir ao equívoco de se subestimar a relevância e o valor terapêutico dessa abordagem coletiva. Com o passar do tempo, a psicoterapia de grupo já acumula méritos suficientes para ser indicada por si própria,e seja como terapia única ou mesmo complementar.

Algumas Ressalvas:

Existem algumas contra-indicações no que tange a psicoterapia de grupo, a saber:

+ naqueles estados depressivos graves e que demandam um acompanhamento mais individualizado.

+ pessoas com tendências suicidas.

+ pacientes com sintomas de importantes desvios sociais e com antecedentes criminais.

+ personalidades psicopáticas muito impulsivas.

+ pessoa muito íntimas fora do grupo( amigos, casais, irmãos, etc). Estes podem constituir uma espécie de subgrupo, o qual pode ficar desconectado do restante.

Continuando, entendemos que deve receber uma atenção especial, a coexistência no mesmo grupo, daquelas pessoas que só fazem o grupo e de outras que também fazem as suas análises individuais. Pode existir uma certa aura de superioridade por parte desses últimos, acabando por constituir iatrogenicamente um outro tipo de subgrupo.

Uma outra questão relevante:

Qual o número mínimo de membros requeridos para que uma sessão de grupo tenha o seu início? Uma sessão de grupo poderia ter o seu início com apenas um elemento? Aqui também nos encontramos diante de controvérsias. Seguindo ainda na esteira dos autores mencionados acima, também entendemos não existir nenhum tipo de impedimento em se dar início à sessão com apenas um membro, uma vez que, psicológicamente, este se sente como um representante de todo o grupo. Normalmente, nesse caso, o sujeito costuma trazer material correspondente as últimas sessões, ou faz referencia aos membros ausentes. Também pode acabar por expressar a fantasia de estar tendo uma sessão individual, se referindo a problemas pessoais. Ainda nesse caso, acreditamos que o “clima grupal” estará presente constituindo um pano de fundo.

Finalmente, queremos tecer algumas breves considerações que se referem ao psicoterapeuta de grupo: assim como os terapeutas individuais, deverão possuir como um requisito imprescindível, uma vivência enquanto membro de um grupo terapêutico. Acreditamos que será tanto melhor se também possuir a vivência de uma análise individual. Existem também, sem qualquer sombra de dúvidas, aquelas pessoas que até por características pessoais, encontram-se mais habilitadas ao desenvolvimento do trabalho com grupos terapêuticos.

Apenas o domínio da técnica não será o bastante para o desenvolvimento do trabalho com grupos. Relevante citar que a sua vivência pessoal em grupo e individual, lhe facultará em nosso entender, a possibilidade de suportar os lugares transferenciais nos quais será colocado pelo grupo, assim como a sua possibilidade de percepção de sua própria contratransferência.

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