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A aquisição do comportamento anti-social numa perspectiva analítico-comportamental

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Resumo

O presente artigo tem como objetivo apresentar dentro de uma perspectiva Analítico-Comportamental, sob um olhar da vertente teórica da Análise do Comportamento baseada no Behaviorismo Radical de B.F.Skinner como ocorre a aquisição do comportamento Anti-Social e agressivo, a importância do ambiente no controle do comportamento, discutir algumas propostas de intervir no problema do comportamento agressivo e anti-social e o papel dos modelos de controle da sociedade na manutenção, extinção e instalação de novos padrões de comportamentos no repertório do individuo. Foram escolhidos trabalhos já publicados na coleção : "sobre comportamento e cognição"  no periódico "ciência do comportamento : conhecer e avançar" que descrevessem a aquisição e manutenção do comportamento anti-social e autores que apresentassem propostas de intervir no problema do comportamento agressivo.Foram  apresentadas as formas com as quais vem sendo tratado esse tema e  propostas de mudar esse quadro da violência e do comportamento anti-social.

 

Palavras-chave : Comportamento anti-social, agressividade, Análise do comportamento.

 

De acordo com Rodrigues (2007) descobertas de variáveis causais do comportamento anti-social de crianças tem contribuído para que analistas do comportamento investiguem os efeitos das diversas intervenções comportamentais utilizadas nos casos de crianças com esse padrão de comportamento. Com base na preocupação sobre procedimentos e efeitos de intervenção a esse problema, esse artigo visa apresentar o comportamento anti-social e agressivo numa perspectiva analítico-comportamental e discuti-las. A revisão da literatura a seguir irá apontar aspectos que definem o comportamento social e posteriormente, as definições do comportamento anti-social.

O Comportamento social e suas definições

Skinner (2000) define o comportamento social da seguinte forma: "O comportamento social pode ser definido como o comportamento de duas ou mais pessoas em relação a uma outra ou em conjunto em relação ao ambiente comum"(p.325)

Para Skinner (2000) o comportamento social surge quando uma pessoa torna-se parte do ambiente de outra. Se é parte do ambiente, deve-se entender, portanto, o outro individuo como alguém que estabelece ocasião ou libera conseqüências de respostas em contingências sociais.

Para o autor supracitado, as contingências sociais implicam, portanto, na maioria das vezes, em contingências verbais, devido à necessidade de mediação do outro na obtenção de reforços. O reforço social, em uma contingência verbal, é uma questão de mediação pessoal; não pode ser descrito sem a referência a um outro organismo. Por exemplo : a mãe, quando amamenta o bebê ou dá algum alimento para ele, o reforço primário (alimento) em si não é um reforçador social, mas o comportamento da mãe de dar alimento sim.

De acordo com o autor supracitado, os comportamentos amigável ou agressivo são determinados pelas suas conseqüências sociais e isso muda de acordo com a cultura e, mesmo numa mesma cultura, com o passar do tempo (mudando as contingências), o que era classificado como amigável ou agressivo pode adquirir outras funções. Um comportamento que, segundo o autor, não muda facilmente de cultura para cultura, é o de imitar. Indivíduos imitam uns aos outros porque imitando existe a probabilidade de ser também reforçado como o outro que foi imitado.

Para os autores Keller e Schoenfeld (1971) o comportamento social não é privilegio do ser humano. Podemos observar, no nível infra-humano, como nos macacos, interações que são claramente interpretadas como comportamentos sociais. Nos insetos, por exemplo, como as abelhas e formigas, é sabido sobre a divisão de trabalho e especialização de funções que ocorrem na comunidade. Segundo Keller e Schoenfeld (1971), dentre os vários tipos de relação social entre os animais, estão a dominância, a cooperação e a imitação. Um indivíduo pode usar da coerção, punição ou reforço negativo para dominar ou conseguir uma posição de líder no grupo. Pode ainda aprender a cooperar ou imitar comportamentos de um organismo para ter acesso a reforçadores. A imitação, cooperação e dominância são comportamentos muito freqüentemente observados tanto nos seres humanos como nos infra-humanos.

Nas relações sociais, estão envolvidas variáveis que podem estar controlando o comportamento do individuo ou do grupo e as emoções estão também envolvidas nestas relações de controle do comportamento. O grupo pode manipular variáveis para tornar certos padrões de comportamentos dos indivíduos mais prováveis de ocorrer, desde reforçar comportamentos de falar a verdade a comportamentos de agressões físicas em torcidas adversárias nos jogos de futebol.

Segundo Skinner (2000), a restrição física é uma das técnicas mais eficazes quando se tem poder para exercê-la. São os casos de policiais quando usam algemas em prisioneiros, camisa de força ou mesmo os pais quando seguram a criança para impedi-la de fazer algo errado. É um tipo de controle que não funciona no nível privado, pois dificilmente se consegue impedir alguém de pensar algo. Existem outras desvantagens no uso desta técnica, pois produzem efeitos colaterais como os contra-controles, que são uma forma de revide, de escapar ao controle do agente punidor e, neste caso, o controlado pode agir de forma agressiva para enfraquecer o controlador, ou para destruir o poder que o controla.
 

Definições do Comportamento Anti-Social

Podemos encontrar na literatura (Rodrigues, 2007) vários termos para definir crianças que apresentam o comportamento anti-social, como: transtorno da conduta,  comportamento agressivo, problemas de comportamento e comportamento anti-social. Segundo Rodrigues (2007), parte das crianças que possuem comportamentos anti-sociais não demonstra ter problemas emocionais mas quase sempre cresceu em ambientes que favorecem e reforçam este padrão de comportamento.

Gomide (2001), define o comportamento anti-social como todo comportamento que infringe regras sociais ou que é uma ação contra os outros, como: comportamento violento, piromania, agressividade, furto, roubo ou comportamento infrator.

Aquisição do comportamento

Segundo Patterson e Dishion (2002), a aquisição do comportamento anti-social se desenvolve muito cedo na vida, logo na infância, e pode causar conseqüências graves no desenvolvimento do individuo. Para os autores acima o comportamento anti-social é sinônimo de comportamento violento e de agressividade dentro de uma mesma espécie de indivíduos, que compartilham regas sociais. De acordo com o dicionário "Vocabulário de Análise do Comportamento" (Teixeira Junior, Ronaldo Rodrigues & Oliveira de Souza, 2006), a agressividade ou o comportamento agressivo são definidos como comportamentos verbais ou não verbais que causam algum dano a um organismo. Segundo Teixeira Junior e Oliveira de Souza (2006), o comportamento agressivo ocorre normalmente em função de uma estimulação aversiva ou como efeito colateral da retirada de um estímulo reforçador.

A comunidade produz comportamentos indesejáveis em diferentes contextos. O uso da violência, por exemplo é freqüentemente observado na nossa sociedade nas escolas, na família, em jogos competitivos e nos grandes centros urbanos

Perguntamo-nos com freqüência por que e como pode ocorrer a violência em torcidas rivais de forma que muitas vezes as brigas acabam em mortes de torcedores. Como podem grupos de indivíduos agirem como vândalos nos grandes centros urbanos?

Diariamente, lemos em jornais noticias de grupos de vândalos nas grandes cidades e sobre comportamento violento de jovens em torcidas de futebol. Como entender esse padrão de comportamento?

De acordo com Marques e Assunção (2004), a sociedade vêm convivendo com episódios de comportamentos violentos em larga escala, comportamentos que começam em casa, na fase da infância e que chegam ate os grupos de delinqüentes nas ruas.

Skinner (2000) descreve que para respondermos a questões como as discutidas neste trabalho, relativas à violência do homem voltada para a própria espécie, precisamos analisar as variáveis que controlam esses padrões de comportamentos.

"o covarde no bando linchador é reforçado quando sua vitima se contorce de terror diante de suas ameaças – sem importar o fato de que centenas de outros estão, e têm que estar gritando também. As conseqüências reforçadoras geradas pelo grupo exercem facilmente os totais das conseqüências que poderiam ser conseguidas pelos membros se agissem separadamente. O efeito reforçador total é enormemente acrescido" (Skinner, 2000, p. 341).

Segundo Gomide (2001), o individuo violento responde a um conjunto de contingências e, se mudarmos as contingências que estão em vigor, podemos mudar o padrão de respostas violentas deste individuo.

De acordo com a autora supracitada, a punição como forma de educação de pais com os filhos, nos tempos atuais, vem sendo substituída pelo diálogo entre eles. Alguns pais, ao invés de punir, conversam sobre os maus comportamentos dos filhos como forma de evitar os efeitos indesejáveis, e já conhecidos da técnica de punição. Porém, segundo a autora, a punição, como forma de controle, ainda persiste nos modelos das práticas educativas.

Segundo Sidman (1995), a punição induz o organismo a se comportar de forma agressiva. De acordo com o autor, a punição e a privação produzem agressão em várias espécies e funcionam como efeitos colaterais desta técnica de controle. Para um individuo que acaba de ser punido, agredir um outro individuo ou objeto inanimado terá valor reforçador. Isso dá margem para entendermos a violência em vários contextos.

De acordo com Valentim (2005) o comportamento a aquisição do comportamento agressivo pode ocorrer , além  das determinações filogenéticas, por ser uma estratégia que esta solucionando problemas para o individuo em curto prazo , mesmo que a médio e longo prazo essas conseqüências estejam sendo punitivas. De acordo com a autora supracitada o comportamento pode estar sendo reforçado negativamente: "o agir agressivo é, na maior parte das vezes, negativamente reforçado. Como conseqüência imediata de tais comportamentos costuma ser a fuga da situação aversiva pela intimidação do outro, essas ações  acabam sendo selecionadas"(p.117)

Considerações Finais

É possível perceber que, apesar de inúmeros profissionais, como os citados acima, estarem preocupados em dedicar ao entendimento desses padrões de comportamentos, os resultados obtidos não têm se mostrado eficazes a ponto de diminuir o problema, por exemplo, da violência nos grandes centros urbanos, pois sabemos que entender um problema não é suficiente para podermos alterá-lo.

A ciência do comportamento tem contribuído e analistas do comportamento  tem buscado intervir no problema da violência nas escolas e demais locais em que o comportamento anti-social ocorre alterando contingências e planejando um futuro melhor porém , Segundo Valentim (2005), a sociedade ainda tem preocupado mais em arranjar condições de remediar o mal causado pelas práticas coercitivas e ineficientes de controle do que com o planejamento cultural com medidas preventivas ao comportamento agressivo e anti-social. Devemos repensar e planejar formas de intervir no problema com medidas preventivas para não deixar com que contingências mal planejadas possam se transformar num futuro complicado de se viver em sociedade.

 

Referências

Gomide, P.I.C. (2001).Efeitos das práticas educativas no desenvolvimento do comportamento anti-social. Em: M. L. Marinho e V. E. Caballo (orgs.). Psicologia Clínica e da Saúde (pp. 33-53). Londrina: UEL.

Keller,F. S. & Schoenfeld,W. N (1971). Princípios de Psicologia. São Paulo: Herder

Marques, R. G. & Assunção, M. R. B. (2004) Comportamento Anti-social: O que os Behavioristas Radicais têm a dizer. Em: A. C. Cruvinel, A. L.F. Freitas, E. N. Cillo (orgs.) Ciência do Comportamento: Conhecer e Avançar. (vol 4 pp.19-22). São Paulo: ESETec.

Patterson, G., Reid, J. & Dishion, T. (2002). Anti-social Boys: Comportamento anti-social. Santo André: ESETec.

Rodrigues, A. M. P. L.;Ramon, S. P.(2007) Comportamento Anti-Social Infantil Sob a Perspectiva dos Princípios da Análise do Comportamento. ( Dissertação de Mestrado  – Universidade Católica de Goiás, 2007)

Sidman, M.(1995) Coerção e suas implicações. Tradução Maria Amália Andery; Teresa Maria Sério. São Paulo: Ed Psy II.

Skinner, B. F. (2000). Ciência e Comportamento Humano. 5.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1981. Tradução: João Cláudio Todorov e Rodolph Azzi.

Skinner, B. F. (1991). Questões Recentes na Análise Comportamental. Campinas: Papirus, 1991. Tradução: Anita Liberalesso Neci

Teixeira J. R. R. & Oliveira,, M. A. S (2006). Vocabulário de Análise do Comportamento. São Paulo: ESETec.

Valentim, M. G.(2005). Violência e omissão: como fica o behaviorista. Em H.Guilhardi, Aguirre.N.C (orgs). Sobre comportamento e cognição (vol 16 pp.116-121). São Paulo : ESETec

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