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A espécie, o ser e a cultura II (Elias N. Mora)

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Continuação do artigo "A espécie, o ser e a cultura"

Dando continuidade à série, pensaremos então na coexistência deste ser, que fora criado, ou melhor, produzido por contínuas contingências e interdependências entre fatores individuais e ambientais. Sendo que o individual já é em si, função antes de tudo, de sua genética – que perdurou no tempo através de uma melhor adaptação ao ambiente – e que já foi demasiado elucidado na "parte I". Nesta que será a nossa segunda parte então e talvez última, dispor-se-á a lidar com este ser inserido em nossa contemporaneidade pós-moderna, que a partir do momento em que escrevo (e vocês lêem) se transforma numa velocídade característica destes novos tempos de Era da Comunicação.
Então temos um indivíduo; um sujeito que é sujeito à Lei – podendo vir-a-ser simbolizada na "figura paterna", que simbolicamente "castra" este hominídeo – ou seja, impede-lhe de fazer o que seu organismo simplesmente deseja e foram nestas bases sócio-normativas que a sociedade foi se configurando. Estas restrições simbólicas, se objetivadas, revelam facetas sociais, históricas e econômicas da qual surgiram. Mas não vou prender-me na questão moral agora, justamente pela adaptação e sobrevivência deste artigo. A questão é que o ser, interage com o ambiente sócio-cultural, seja em que bases ele estiver estruturado, desenvolvendo suas habilidades assim,  a partir deste formato básico do qual ele se sujeita (se tornando objeto) desde o seu nascimento. Agora como ele interage com este ambiente social senão através da comunicação?
Podemos dizer que a linguagem intermedia as relações entre o ser e o ambiente; pensamos através de palavras, nos tornando conscientes de nós também a partir delas e conseqüentemente muitas de nossas decisões passam pelo crivo deste "fluxo mental", lembrando que este é também função de variáveis ambientais, o pressuposto lógico é sempre interacionista.
Tomando isto como base e estando consciente disto, podemos começar a nos dar conta da importância dos veículos de comunicação na produção de um indivíduo. Aliás, por isto digo em "produção", ainda que o termo soe estranho. Somos produtos das interações sujeito-ambiente. Porém dada a nossa complexidade, teremos grande parte do tempo uma relação indireta com o ambiente. Neste segundo milênio onde conseguimos praticamente tudo sem sair de casa, podemos viver basicamente através da troca de informações. Por exemplo uma pessoa pode trabalhar e pedir comida através da internet ou mesmo sentir que está informada sobre o que acontece no mundo através da mídia. De certa forma os indivíduos estão à mercê do que lhes é dado neste sentido, portanto a confiança nas emissoras de televisão, rádio e jornais devem ser no mínimo questionadas já que podem ser usadas como ferramenta de controle social. Dizer que podem ser usadas é no mínimo um eufemismo cuidadoso de minha parte, visto que é um tanto óbvio que é há  nas mãos de alguns um poder imenso que é capaz de transmir e veicular opiniões.
Não obstante, a discussão sobre a imparcialidade ou não da mídia é uma outra questão a ser levantada e que torna um princípio de solução discutível. A princípio tomar consciência do que pode estar nos controlando já é alguma coisa. Assim como se faz necessário um cuidado sobre o que se lê e de quem se lê, ou que se assiste, de quem e para que é a informação. Por isso ficaria a importância de um contato, ou de encontrar "informantes" que tenham noção da problemática da parcialidade e que ao menos tenham a preocupação com a ética daquilo que se propõe a fazer, tendo em vista a sua importância. Para um maior aprofundamento da questão da imprensa, recomendo do livro "Metacontingências: comportamento, cultura e sociedade" organizado por João Cláudio Todorov, Ricardo Corrêa Martone e Márcio Borges Moreira, em especial o capítulo "Comportamento Social: A Imprensa com agência e ferramenta de controle social" de Ricardo Corrêa Martone e Roberto Alves Banaco.
Por enquanto, é isto que tenho para escrever. Somos produtos de uma série de fatores e variáveis da interação sujeito-ambiente e que implica também na nossa cultura e quem a veicula e a produz e porquê, fazendo com que seja mister uma reflexão neste âmbito, para sermos no mundo de maneira um pouco menos manipulável e fazer jus as nossas capacidade humanas.

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