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Mecanismos de defesa e Mecanismos de ataque

Destaca-se, neste artigo, a distinção entre Mecanismos de defesa e Mecanismos de ataque, surgindo estes na sequência de uma tentativa de preservação de relacionamentos interpessoais de modo borderline, com características histéricas e psicóticas, e preservação de fenómenos de massas, como a histeria de massas.

Laplanche & Pontalis ( 1990 ), no seu Vocabulário da Psicanálise, referem-se ao mecanismo de defesa no sentido de este defender o ego. Trata-se, pois, de um mecanismo que é suposto defender o ego. Muito em Psicanálise e Psicologia Clínica se tem escrito e falado relativamente ao mecanismo de defesa.

Venho agora apresentar aquilo a que designo de mecanismo de ataque, e que estará presente predominantemente nos fenómenos histéricos e psicóticos, particularmente num quadro borderline, e que está relacionado com o socius, com a sua preservação. Ao invés dos mecanismos de defesa, os mecanismos de ataque não se relacionam tanto com a defesa do ego, mas mais com a preservação de relacionamentos interpessoais e com a preservação de fenómenos de massas. Na verdade, apesar da superficialidade típica dos relacionamentos histéricos, o histérico tende a manter diversos relacionamentos interpessoais. Mas, e como acontece nos fenómenos psicóticos, particularmente num quadro borderline, há uma predominância de fenómenos de ataque, digo eu, de mecanismos de ataque, e que caracterizam esses relacionamentos e são estabelecidos para mantê-los.  É o exemplo do ataque preemptivo, que se caracteriza pela malignidade e é baseado na coerção, que, neste aspecto, se assemelha à raiva disfuncional de que Bowlby ( 1998 ) nos fala.

É de notar que sociedades histéricas contemporâneas, ou seja, com a caracterização de massas ao nível do histerismo, tenham vindo a fazer ataques preemptivos em relação a outras nações, com exércitos de ocupação invadindo esses países. É curioso que os líderes das nações beligerantes têm justificado, nestes casos, que se deve atacar para não ser atacado. É de referir, neste caso, o título de uma canção do famoso músico Prince. A canção, simbolizando o choro das pombas da paz, é " When Doves Cry ". O status quo destes ataques é mantido, e estabelecido para controlo das massas, particularmente, através de manipulação, desinformação e indução de sentimentos através dos meios comunicacionais de massas. É, pois, assim que o histérico e, mais em geral, o borderline, parece funcionar.

Caracterizando os mecanismos de ataque, cito agora o meu artigo " Complexo de Anti-Cristo – Perspectiva Psicodinâmica "  ( 2007 ), para referir a necessidade presente, mais frequentemente na mulher, de querer "crucificar" alguém nas relações externas, para expiar os sentimentos negativos tidos e não admitidos como seus. Isto é, a necessidade de um bode expiatório, em que há uma relação tóxica com os outros, projectando toxicamente os seus maus objectos.

Passa-se, particularmente, ao nível da saúde mental, em que há uma projecção maciça dos seus medos, a saber, um grande medo quanto à existência de patologia mental nela. Com esta toxicidade, há um estilo de relação esquizofrenizante, que predomina, particularmente, num sistema capitalista, e que é de linha psicótica ( Deleuze & Guattari, 2004 ). Isto, segundo o tipo de funcionamento da maior parte das mulheres, em que há o recalcamento do que lhes é indesejável, desagradável, num funcionamento tipo histérico, e em que verbalizam agressivamente, a nível fálico ( agressividade fálica )              ( Laplanche & Pontalis, 1990 ), o que sentem interiormente, mas em relação a alguém exterior. Será histérico, mas com as características referidas de projecção maciça, que é mais psicótico. Neste âmbito, estamos perante um quadro borderline, com sintomas neuróticos histéricos e sintomas psicóticos.  Lembro o que Bergeret ( 1997 ) refere quanto a cerca de 50 % da população europeia não poder ser considerada normal, devido a ter uma caracterização borderline, de se constituir enquanto aestruturação, não sendo, pois, uma verdadeira estrutura psicológica. Nunca é demais realçar o carácter agressivo dos mecanismos de ataque.

Voltando aos mecanismos de ataque como meio de preservação de fenómenos de massas, é de referir a importância da "toda-poderosa" televisão, da Internet, de jornais, etc., como meios comunicacionais de massas. Na televisão, em particular, nas suas séries, novelas, notícias, publicidade, etc., há uma constante instigação e apelo para que precisamente se ataque o outro, num contexto em que se tenta preservar as massas como uma unidade, pois, está claro, desta maneira é mais fácil o seu controlo, a sua manipulação. Um dos casos mais gritantes são as eleições, mas temos também o exemplo da compra de determinados produtos, como ainda, por exemplo, através de novelas, o induzir de sentimentos em relação a assuntos de opinião pública, o que poderá também ser feito através das notícias. Como vemos, a televisão, e outros meios comunicacionais de massas, é, ela própria, utilizada enquanto mecanismo de ataque, em que se tenta preservar a unidade das massas. Termino, referindo novamente Prince, quando ele diz: " Don't let your children watch television before they can know how to read "!

Bibliografia
Bergeret, J. ( 1997 ). A personalidade normal e patológica ( tradução portuguesa ). Climepsi Editores
Bowlby, J. ( 1998 ). ( original de 1973 ). Attachment and Loss: Vol. 2 – Separation: Anger and anxiety. London: Pimlico
Deleuze, G. & Guattari, F. ( 2004 ). O Anti-Édipo – Capitalismo e Esquizofrenia ( tradução portuguesa ). Assírio & Alvim. Lisboa
Laplanche, J. & Pontalis, J. B. ( 1990 ). Vocabulário da Psicanálise ( tradução portuguesa ). Editorial Presença. Lisboa 
Resende, S. ( 2007 ). Complexo de Anti-Cristo – Perspectiva Psicodinâmica in www.redepsi.com.br, em secção Artigos/ Teorias e Sistemas no Campo Psi em 28/10/2007

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