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A cura da obesidade associada à anorexia

Propõe-se que a cura da obesidade passa por um processo de anorexização dessa mesma obesidade. Enquadra-se, particularmente, na acentuação, primeiro, da inveja do pénis, ocorrendo associadamente, e posteriormente, a subcompensação narcísica derivada da inveja do clitóris, e isto, importantemente, a nível corporal.

Em Acerca da obesidade – perspectiva psicodinâmica ( Resende, 2007 ), indico que a obesidade deriva de anterior introjecção de agressividade, que, esta última, terá sido excessiva nas relações precoces. Essa agressividade é depois investida oralmente, para sobrecompensar a frustração oral precoce. Desta maneira, o obeso desloca a agressividade sobre a alimentação.

Ora, em Anorexia e inveja do clitóris ( Resende, 2010 ), indico que a anorexia caracteriza-se pela subcompensação narcísica, associada à inveja do clitóris, em que, precisamente, é utilizado o corpo como tentativa de diminuição narcísica. Ter-se-ia, então, que a anoréxica sente o seu corpo verdadeiramente como um falo. Relembra-se que a anorexia ocorre tipicamente nas mulheres, considerando-se, também, a inveja do pénis tipicamente feminina, derivada da descoberta da diferença anatómica entre os sexos pela rapariga, com tentativas de sobrecompensação fálica. Assim, ao considerar o seu corpo verdadeiramente como um falo, a anoréxica faz a passagem entre a inveja do pénis e a inveja do clitóris.

Relacionando os fenómenos da obesidade e da anorexia, tem-se que se deve acentuar, primeiro, a inveja do pénis no obeso, com a correspondente sobrecompensação fálica. Desta maneira, devem acentuar-se características fálicas como o exibicionismo associado à aparência externa. Deve ser promovido e reforçado o gosto por roupas, sapatos, acessórios, como brincos, pulseiras, colares e anéis, ainda, a utilização de cosméticos, como batom e gel no cabelo, etc.. Esta promoção da aparência externa, podendo reforçar o sentimento de união social, reforçando os laços sociais, portanto, é coerente com a indicação que faço, em Tratamento da obesidade: aceitação social dos obesos – perspectiva psicodinâmica ( Resende, 2009 ), de que uma contribuição importante para o tratamento da obesidade é a aceitação social dos obesos, já que isso elimina um mecanismo utilizado pelos mesmos para justificar e perpetuar a sua condição corporal, que é a rejeição social.

Continuando, compreenda-se que ao acentuar características fálicas, o obeso sentirá cada vez mais o seu corpo como um falo. Daí a semelhança com o anoréxico.

Prosseguindo, e numa segunda fase, com o investimento nas características fálicas de realce da aparência, com mais laços sociais, não justificando a rejeição social, aquela agressividade, referida anteriormente como investida oralmente sobre a alimentação, é contrainvestida a nível corporal. Com este contrainvestimento da agressividade, ocorrerá a subcompensação narcísica a nível corporal, enquadrando-se deste modo a inveja do clitóris. Desta maneira, o corpo tenderá a diminuir, tal como acontece no anoréxico.

Assim, resumidamente, o processo todo ir-se-à caracterizar por anorexizar o obeso. Complemente-se que, igualmente crucial, é, clinicamente, ter que se indagar, quanto às relações precoces, a origem da agressividade introjectada, e depois trabalhar, terapeuticamente, a retoma da relação.

Bibliografia
Resende, S. ( 2007 ). Acerca da obesidade – perspectiva psicodinâmica in www.redepsi.com.br, em secção Artigos/Teorias e Sistemas no Campo Psi em 15/04/2007
Resende, S. ( 2009 ). Tratamento da obesidade: aceitação social dos obesos – perspectiva psicodinâmica in www.redepsi.com.br, em secção Artigos/Teorias e Sistemas no Campo Psi em 22/10/2009
Resende, S. ( 2010 ). Anorexia e inveja do clitóris in www.redepsi.com.br, em secção Artigos/Teorias e Sistemas no Campo Psi em 28/10/2010

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