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Arte e Emoção: A música como idioma dos sentimentos.

Em tempo de velocidade de informações, ocorre a aceleração da vida, onde as pessoas de forma geral buscam soluções cada vez mais rápidas para suas questões diversas.

O maior desafio é que muitas das dificuldades de cada um, vão se formando assim como as rochas sedimentares que vão acumulando pequenas poeiras da natureza, ou pequenos problemas, e ao final se formam um maior equilíbrio dos sentimentos e pensamentos, favorecendo o vislumbre de maior variedade na forma de abordar as próprias questões e auxiliar na compreensão e dissolução das pedras.

Alguns destes instrumentos são formas de cuidado com a própria saúde num contexto mais amplo. Nos tempos modernos, quem não precisa controlar o stress? Fugir da depressão? Driblar o cansaço?

A psicologia, as artes em geral, esportes, lazer e os propriamente ditos instrumentos musicais, nos ajudam nesse processo de harmonia, porém requerem algum tempo, investigação e dedicação, mas em troca, ajudam a produzir harmonia interna e a trazê-la para fora na vida, em forma de música e maior satisfação pessoal.

A música é uma linguagem, uma forma de expressão que remonta as origens da humanidade, é como um idioma dos sentimentos e sensações, capaz de traduzir artisticamente ou mesmo que sem palavras o conteúdo impresso em cada alma humana.

 

A Arte

Uma das características da arte é a dificuldade que se tem em conferir-lhe utilidade. Muitas vezes esta dificuldade em encontrar utilidade para a arte mascara preconceitos contra a arte e os artistas.

A arte possui a função transcendente, ou seja, manchas de tinta sobre uma tela ou palavras escritas sobre um papel simbolizam estados de consciência humana, abrangendo percepção, emoção e razão (segundo Charles S. Peirce, fundador da semiótica). Essa seria a principal função da arte.

A arte também é usada por terapeutas, psicoterapeutas e psicólogos clínicos como terapia. Nise da Silveira foi uma importante psiquiatra brasileira, aluna de Carl Jung, que utilizou com sucesso em seus pacientes, a partir de 1944, a arte a partir da terapia ocupacional. Graças a este trabalho, fundou o Museu do Inconsciente, em 1952, no Rio de Janeiro.

Paul McCartney, ex-Beatle, diz que a música é capaz de curar. Ele afirmou que em uma de suas visitas a um hospital que realiza tratatamento de autistas, estes respondiam quando se dedilhava algo no violão. Sabe-se que as pessoas vítimas de autismo respondem muito pouco a estímulos externos, de acordo com o grau de autismo.

Para Vygotsky a verdadeira natureza da arte estaria contida no conflito entre emoções opostas, na contradição que se estabelece entre a forma e o conteúdo da obra que acarretariam na transformação dos sentimentos. A música, forma de arte construída por conteúdos retirados da vida, transcenderia seu próprio conteúdo em formas de expressão que pudessem ampliar os sentimentos individualizados para um sentido social e histórico. Para ele, "na arte supera-se certo aspecto do nosso psiquismo que não encontra vazão no cotidiano"

A arte pode trazer indícios sobre a vida, a História e os costumes de um povo, inclusive dos povos e nações já extintos. Assim, conhecemos várias civilizações por meio de sua arte, como a egípcia, grega antiga e muitas outras.

 

Arte e Música x Emoção.

Não é possível falar de arte e deixar de mensionar a música, que está presente em qualquer civilização, desde a antiguidade. A música é uma linguagem tão antiga quanto o homem,  sendo que Darwin declarou que a fala humana não antecedeu a música, mas derivou dela.

Sendo assim, a arte surgiu muito antes da própria linguagem do homem, isso prova que a exteriorização dos sentimentos sejam, eles através de qualquer produção artística, acontece sem que seja preciso qualquer tipo de linguagem, a não ser a emocional, pois através da música é possível exteriorizar alegria, prazer, amor, dor, religiosidade e anseios da alma.

O psicólogo russo Vygotsky defendeu tese semelhante no livro Psicologia da Arte (1999). Ele considerou que, o papel da música na vida do ser humano estaria reduzido, se as canções e melodias se prestassem apenas a contagiar emocionalmente muitas pessoas com os sentimentos de uma. Ao discutir o critério do contágio, denominação por ele apontada para o fenômeno da transferência de sentimentos via intérprete-fruidor, ele aponta para a possibilidade de se instituir um julgamento estético equivocado quando baseado em percepções que consideram boa a obra que suscita bons sentimentos e de pouca qualidade a obra que faz emergir sentimentos negativos.

Por essa via de entendimento, a música seria um instrumento a favor da reorganização de emoções e de transformação pessoal. Os sentimentos, antes presentes na vida e simbolizados no conteúdo e forma da obra, poderiam ser eliciados pela própria arte musical. O fruidor teria a oportunidade de percebê-los com um certo distanciamento, já que uma outra pessoa, ao transmitir o fato musical torna-se personagem das cenas e emoções ali representadas. Nessa dinâmica da emoção estética ou catártica, a pessoa poderia confrontar seus próprios sentimentos suscitados pela música, àqueles que se apresentam na obra. Esse confronto afetivo-cognitivo acarretaria na transformação desses sentimentos em outros diferentes dos originais. Para Vygotsky (1990), o ser humano constrói seu imaginário com base nos fatos que encontra e vivencia no decorrer das interações sociais. As fantasias seriam combinações de elementos retirados da realidade e reelaborados pela imaginação (p.16). Percebe-se por essa exposição que os sentimentos, imagens e pensamentos que se reorganizam enquanto o ser humano partilha a música, procedem de vivências reais, de experiências já apropriadas e constituintes de suas subjetividades.

Quando ouvimos uma música, geralmente a associamos a algum acontecimento, isso se dá devido a escuta musical  sempre buscar um referencial, imagens e situações baseando em experiências de vida. É curioso o poder que a música exerce sobre nós humanos, se formos sensíveis o bastante poderemos perceber que nossa vida é uma trilha sonora, que marca nossa infância, adolecencia, vida adulta, e alguns casos, a morte de alguém próximo.

Algumas músicas tem o poder de nos levar ao céu, outras conduzem qualquer alma ao abismo, outras despertam o extinto da loucura, outras a ousadia, o desconforto, e outras o desejo de desconberta e criação.

Além de nos conduzir a diversos estados emocionais diferenciados, a ciência comprovou que a música é um fator relevante que contribui para o desenvolvimento auditivo, motor, congnitivo e social, além de ajudar a fortalecer as ligações afetivas nas famílias (Beatriz Ilari – UFPR).

 A música é capaz de chegar ao mais profundo íntimo do ser humano, tocar o  emocional, nos levando a um mundo extremamente pessoal, e a partir do momento que nos vemos nesse mundo pessoal, as emoções se exteriorizam de alguma forma, seja ela através da dança, da pintura, do choro, do sorriso, e tantas outras manifestações, que podemos chamar de as mais profundas e verdadeiras manifestações artísticas, criadas e vividas pelo Ser humano.

Sendo assim, a música é a porta de saída de nossas emoções, e através dessa porta, conseguimos realizar coisas infinitas, as quais podemos dar o nome de arte. Começando pela nossa própria existencia, um mistério tão gostoso, que pode ser resumido como a arte de viver. A arte de "Ser" e sentir.

 

A música no relacionamento humano

A música exerce um papel importante nas relações interpessoais, sendo responsável por determinados efeitos na atração entre os indivíduos. Embora completamente diferente a atração e a música têm algo em comum: ambas estão ligadas ao surgimento dos sentimentos.

A música pode ser também facilitadora de atividades, onde ela promove a aproximação de indivíduos. E pode ser também um artefato mnemônico, onde ela facilita o armazenamento de eventos significativos na memória. Isso é comum em casais e amigos que elegem uma canção musical como um ícone de representação de seu relacionamento.

Do ponto de vista da psicologia cognitiva, a música está relacionada à atração interpessoal. Por exemplo, na escolha de parceiros. Alguns estereótipos de personalidade são associados a algum gênero musical, como por exemplo, a pobreza associada ao samba, e a música clássica associada ao idoso. Conseqüentemente isso sugere que a música pode influenciar na escolha de parceiros. A música parece aproximar os indivíduos, além de promover a interação social e de trazer riqueza cultural e diversidade.

 

 Concluindo

E assim, o homem simples, se emociona com a música, com a poesia, e com todo o tipo de arte que envolve o seu íntimo.

Apreciar telas e esculturas, ouvir musicas, assistir interpretações, ler, e quando nos momentos dos orgasmos, muitos acreditam que são completadas as ligações com o divino.

Um texto inspirado despertará inspirações; bem elaborado, mexendo com o íntimo, com a alma, provocará a liberação de emoções.

Beethoven terá afirmado que Deus se faz ouvir com música, e não com palavras. Tolkien narrando o surgimento do seu mundo mitológico e dos anéis, explicando o surgimento dos Elfos, Magos, Homens, do Condado, dos animais e, dos seres e entidades do mal, atribui ao criador, muito especialmente descrito, o entendimento e comunicação também e exclusivamente pela música.

Na música cantada, letrada, fusionam-se artes. A música e a literatura, a poesia.

Algumas com poesias maravilhosas e arranjos de sons geniais, que mais facilmente alavancam as emoções de todos, mesmo que só algumas emoções, mas não menos intensas. Sou convicto que, se por mágica, trouxéssemos Beethoven ou Mozart para ouvir as musicas atuais, ou as levássemos a eles – aquelas que sobrassem de uma seleção hábil , ele iriam adorar.

Nossas emoções sempre serão postas e expostas à "flor da pele", quando aproximadas e submetidas ao enlevo das artes, mais ou menos, não importa, até porque não são mensuráveis.

Mayck Djúnior Hartwig


Indicação de Filme: "O Som do Coração".

Sinopse

Era uma vez um garoto chamado August Rush. Filho de um encontro casual entre Louis, um guitarrista de rock e Lyla, uma violoncelista clássica, ele cresceu em um orfanato com a determinação de um dia encontrar seus pais Dono de um talento musical impressionante, August se apresenta nas ruas de Nova York sob o olhar atento de dezenas de pessoas e de Mago. Porém, mesmo se transformando num astro mirim da música, August continua certo que o encontro com seus pais pode acontecer a qualquer hora.



Referências

 
HERCULANO, Dirley. O poder da música nas emoções. [S.l.]. Disponível em: http://www.almacarioca.net/o-poder-da-musica-nas-emocoes-dirley-herculano/. Acesso em: 24 nov. 2009.

CUNHA, Rosemyriam. A vivência social da música. Faculdade de Artes do Paraná, Curitiba/PR. 2009.

VOLCHAN, Eliane. MOCAIBER, Izabela. Musica, emoção universal. [S.l.]. Disponível em: http://www.openinnovatio.org/2009/06/13/musica-emocao-universal/. Acesso em: 24 nov. 2009.

STEVENS, John.  Tornar-se presente: experimentos de crescimento em gestalt-terapia.  12 ed., São Paulo: Summus, 1988.

 

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