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Skinner e percepção ambiental: um diálogo possível?

Neste trabalho, serão articuladas as ideias do Behaviorismo Radical de Skinner no campo da Percepção Ambiental, trazendo como diálogo principal a interação do indivíduo com o meio ambiente. Defende-se a ideia que o indivíduo não é um ser passivo diante do meio ambiente, mas como alguém que está inserido e assume um autocontrole sobre o meio, pois seu comportamento molda e modifica, constituindo assim uma cultura. 

O comportamento Skinneriano

Por um tempo, o Behaviorismo tornou-se foco principal entre as escolas da Psicologia, deixando de lado as escolas do Estruturalismo e Funcionalismo. A escola comportamentalista (Behaviorismo) foi palco de críticas, mas por muito tempo foi considerada a escola que oferecia melhores respostas para a compreensão do homem.  
John B. Watson foi o líder da escola e buscava uma psicologia objetiva, que lidasse apenas com atos comportamentais que fossem observáveis, passíveis de descrição objetiva em termos de estímulo e resposta (S-R). Para alcançar esta meta, a psicologia do comportamento rejeitou os conceitos de imagem, mente e consciência, termos estes herdados da filosofia da mente. (Schultz & Schultz, 2002).
O início da escola comportamentalista baseada no estímulo e resposta sofreu mudanças ao longo da história, surgindo em cena os neocomportamentalistas, renovando a visão comportamentalista defendida por Watson. Esta mudança foi representada pelo estudioso B. F. Skinner, em que propôs uma nova leitura sobre o comportamento humano, definida como Behaviorismo Radical.
A psicologia sem mente defendida por Watson não se aplica ao Behaviorismo Radical, já que esta vertente do Behaviorismo acredita numa teoria da mente, sendo esta entendida como atividade. A mente é uma “anima”, ou seja, é algo que se movimenta (comporta). (Teixeira, 2005).
O Behaviorismo Radical adota uma visão anticartesiana, isto é, não separa mente e corpo, pois tem uma concepção monista de ciência. O monismo é uma doutrina filosófica que afirma que há só uma espécie de substância, contrapondo assim o dualismo. (Teixeira, 2005; Carrara, 2005; Mora, 2004).
Isto significa que Skinner defende a unificação da mente e corpo (anticartesiano), diferente da visão dicotômica de Watson, em que vê mente e corpo como substâncias diferentes, concebendo o indivíduo numa posição cartesiana.
Além deste posicionamento monista que Skinner aplica no Behaviorismo Radical, Carrara (2005) nos apresenta outras características: interação da relação organismo-ambiente; pressupõe um modelo científico de seleção pelas conseqüências, substituindo o modelo de causalidade tradicional; influências filogenéticas, ontogenéticas e culturais na determinação do comportamento; e, propõe o comportamento como a raiz do entendimento das atividades humanas.

Meio ambiente, comportamento e os problemas socioambientais

Skinner (1983) nos diz que o ambiente pode ter a função de controlar o homem, mas esse ambiente foi inteiramente construído por ele. O mesmo afirma que “assim como o indivíduo se controla através da manipulação do mundo em que vive, também a espécie humana construiu um ambiente em que os seus membros se comportam de uma forma extremamente eficaz” (Skinner, 1983, p.154).  
Frente a concepção skinneariana de que a mente se articula com o comportamento e que perpassa pela interação com o meio ambiente, é válido refletir esta ideia sobre as crises comportamentais com o meio ambiente, seja este ambiente físico, social ou natural, tem sofrido gradativamente por meio de um comportamento ambientalmente insustentável.
Skinner (1983) afirma que a evolução de uma cultura é um exercício de autocontrole, ou seja, contextualizando esta nova prática cultura nos dias atuais numa visão skinerianna, entendemos que as pessoas sofrem controle desse meio ambiente destruído, mas é um ambiente destruído que foi construído pelo próprio homem.
A base do comportamento humano é vista como uma solução para os problemas ambientais, a fim de realizar uma “promoção de mudanças comportamentais” (Steg & Vlek, 2009, p.314). Mas, questiona-se: como mudar uma cultura em que foi construída pelo próprio homem? Como modificar o comportamento insustentável para uma comportamento ambiental responsável, já que o próprio homem é responsável por esta prática cultural de desvalorização com o meio ambiente?
Skinner (1983) nos diz que devemos saber como o ambiente atua nas pessoas para depois podermos modificar o meio ambiente e depois o comportamento. Assim, a Psicologia Ambiental surge como um ramo da psicologia a fim de compreender numa totalidade como as pessoas interagem com os ambientes, e vice-versa. Para isso, é necessário verificar como as pessoas percebem, vivenciam e valoram o ambiente em que estão inseridos, sendo estas informações de suma importância para os gestores de políticas públicas para planejar e atender as demandas sociais (Kuhnen, 2011).
Dessa forma, a Percepção Ambiental, é uma possibilidade de estudo da Psicologia Ambiental que pode contribuir para identificar os aspectos cognitivos, afetivos, socioculturais e econômicos de determinados ambientes, a fim de promover projetos no âmbito das políticas públicas e, em programas de educação ambiental.

Dialogando a percepção ambiental com Skinner
    
Segundo Kuhnen (2011), a percepção ao ser complementada com o termo ambiental não determina apenas numa área do conhecimento, neste caso ao ambiente, mas forma um conceito analítico a fim de compreender o comportamento humano.
As relações humanas perante as paisagens naturais são diferenciadas, pelo fato da cultura interferir no processo de percepção. É através dos filtros culturais que possibilita a pessoa selecionar as informações e dar significados diferenciados, assim, é importante o papel da cultura para entender a valorização que se tem perante a natureza (Risso, s/d).
Skinner (1983) defende a ação das contingências que asseguram o organismo na direção ou propriedade de um objeto e não a outro, assim, a pessoa aprende a perceber no sentido de responder a coisas de determinada forma devido às contingências ambientais. 
Segundo Ittelson (1973 citado por Pinheiro, 1997), a percepção ambiental assume o percebedor no ambiente como parte da cena percebida. Seria o modo de como a pessoa vivencia os aspectos ambientais na relação com o seu entorno, levando em consideração não apenas os aspectos físicos, mas psicossociais (cognição, afeto, preferências, etc.) socioculturais (significados, valores, estética), históricos (contextos políticos, economia etc.) (Ittelson,1978 citado por Kuhnen, 2011).
Assim, parte-se da ideia que a percepção ambiental assume o indivíduo não apenas como um receptor de informações sobre o seu ambiente, mas como alguém que modifica e molda esse ambiente. Esta visão vai ao encontro com Skinner (1983), quando afirma que uma pessoa quando modifica o meio ambiente físico ou social desempenha dois papéis: como controlador, em que planeja uma cultura de controle; e como controlado, sendo como produto de cultura. Estes papéis, mostram o ato de autocontrole no indivíduo. 
O homem não é um receptor passivo de estímulos, nem psicologicamente autônomo, mas é uma tensão dialética com o seu meio, em que interage com ele, moldando o ambiente e sendo moldado por ele (Ittelson et al, 1974).
“Uma cultura não tem existência desvinculada do comportamento dos indivíduos que mantêm suas práticas. É sempre um indivíduo que se comporta, atua sobre o ambiente e é modificado pelas consequências de sua ação, e que mantém as contingências sociais que constituem uma cultura” (Skinner, 1983, p.156). 
Skinner nos mostra em sua leitura o papel crucial do meio ambiente no comportamento do indivíduo, mas nos apresenta esse indivíduo não de forma submissa, mas ativa na construção desse meio ambiente que está inserido. O próprio Skinner (1957 citado por Teixeira, 2005) afirma que o estudo do comportamento é baseado nas interações entre organismos que se comportam, e ambientes que são modificados pelo comportamento dos organismos, retroagindo sobre o ambiente e controlando-os.
O comportamento está presente na percepção ambiental, sendo fruto desta interação indivíduo e meio ambiente, em que estão numa constante construção de uma prática cultural. Kuhnen (2011) assevera que a percepção envolve inúmeros aspectos da realidade e não são apenas subordinados à cognição ou estruturas do desenvolvimento, deve-se levar em consideração a atuação da pessoa no mundo, pois é através desta atuação que constroem sua subjetividade, este ocorre nos processos de apropriação e de identificação dos espaços e ambientes possibilitando o indivíduo interpretar e construir significados.

Referências bibliográficas

Carrara, K. (2005). Behaviorismo radical: crítica e metacrítica. 2. ed. São Paulo: UNESP.
Kuhnen, A. (2011). Percepção ambiental in Sylvia, C., Elali, G.A. (Orgs.), Temas em Psicologia Ambiental. São Paulo: Editora Vozes.
Mora, F.J. (2004). Dicionário de filosofia. 2 ed. São Paulo: Edições Loyola.
Ittelson, W.H. (1973). Environment and cognition. New  York: Seminar.
Ittelson, W.H., Proshanky, H.M., Rivlin, L.G., & Winkel, G.H. (1974). Homem Ambiental. Série: Textos de Psicologia Ambiental, n. 14. Brasília, DF: UnB, Laboratório de Psicologia Ambiental.
Ittelson, W. H. (1978). Environmental perception and urban experience. Environment and Behavior, 10 (2), 193-213.
Pinheiro, J.Q. (1997). Psicologia Ambiental: a busca de um ambiente melhor. Estudos de Psicologia, 2(2), 377-398.
Risso, L.C. (s/d). Estudo de percepção e conservação do parque ecológico de Ourinhos. UNESP, Ourinhos. 
Skinner, B.F. (1983). O mito da liberdade. 3 ed. São Paulo: Summus.
Skinner, B.F. (1957). Psychology in the understanding of mental disease. Cumulative Records:A Selection of Papers. New York: Appleton-Century-Crofts.
Schultz, D.P. & Schultz, S.E. (2002). História da psicologia moderna. 16 ed. São Paulo: Cultrix.
Teixeira, J.F. (2005). Filosofia da mente: neurociência, cognição e comportamento. São Carlos: Claraluz.
 

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