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Uma violência invisível à infância: a publicidade dirigida à criança

Estudo desenvolvido pela psicóloga Ana Olmos e publicado no periódico “Construção Psicopedagógica” faz uma reflexão acerca dos aspectos relacionais entre a mega-exposição da crianças as estratégias de publicidade comercial dirigida a infância e seus efeitos danosos, tendo em vista que a publicidade dirigida possui papel fundamental na formação de conceitos voltados para o consumismo, transmitindo aos infantes modelos de uma sociedade que favorece e reconhece quem tem acesso aos bens de consumo e exclui quem não pode ter, sendo a criança tratada não como cidadã em formação mas sim como público-alvo consumidor, interferindo em seu desenvolvimento e induzindo-a a não pensar.
A partir da conceituação dos estágios evolutivos segundo a teoria de Jean Piaget e Lev Vigotsky, a autora aborda os aspectos necessários para o saudável desenvolvimento infantil e as principais características de cada etapa, até a adolescência.

Ao apresentar os impactos e repercussões da publicidade dirigida as crianças, a autora aponta que a mesma se acostuma a ser tratada desde muito jovem como consumidora e não como indivíduo em formação, tendo seu desejo capturado e sendo seduzida por tal publicidade dirigida (a autora cita a criança como sendo encantada pela bruxa da “Bela Adormecida”).

Os modelos de mídia global predominante induzem o consumo de produtos que muitas vezes não são necessários para a maioria das crianças e adolescentes em seu processo de desenvolvimento, sendo que a publicidade acaba por gerar padrões como a rotina de consumir ou identificação de valores; Relaciona-se também o intenso bombardeio de estímulos provenientes de tais meios à indução do jovem a necessidade de consumir, sendo que os mesmos são pressionados a comprar e comprar desde pequenos; Há o predomínio da lógica do mercado.

As consequências que os fatos supracitados acarretam aos infantes toma proporções diversas, como a busca de uma ideia inalcançável (o poder de consumo sem limites) que passa a ancorar determinados sentimentos como a vergonha, seja de si ou de outros objetos, sendo que tal vergonha repercute nos laços desenvolvidos consigo mesmo e com outros objetos de amor.

Essa vergonha de cunho social passa a exercer um papel violento contra o jovem, já que através de tal sensação as nomeações como “pobre”, “gordo”, “feio” são desenvolvidas, desencadeando sentimentos de inadequação e derrota do “bom de si”, por exemplo; Consequentemente, todas essas nomeações lembram o risco do jovem ser excluído da comunidade, tornando tal processo ainda mais angustiante. Fato importante é a participação dos meios de comunicação social em tal processo, principalmente quando os mesmos estão a serviço dos interesses de consumo do mercado; O mercado aborda o jovem consumidor, oferecendo-lhe o produto para sua adequação e para aliviar sua angústia passa, com as grifes, a confundir as identidades na tentativa de lidar ou eliminar a vergonha de si, e os objetos (adquirindo características humanas) declaram que é aquele jovem que os possui.

O artigo destaca que o ponto central que envolve essa colocação do objeto no lugar da carência se trata da ligação entre a imagem ao produto, que adiciona algo à sensação de desamparo, de preenchimento do vazio; Considerando a situação do Brasil, onde milhares vivem abaixo da linha da pobreza e convivem com o analfabetismo funcional e as dificuldade de acesso à saúde, educação, cultura e lazer (fontes essenciais de estímulo ao desenvolvimento emocional e intelectual) tal situação adquire contornos ainda mais graves.

A autora, por fim, destaca que o olhar da criança (assim como de qualquer telespectador) é tratado, negociado e vendido como audiência; Explicita também os tipos de práticas publicitárias, e de que maneiras as mesmas atingem seus respectivos telespectadores e, fora de determinado escopo, como a publicidade dirigida a criança se sinaliza como prática abusiva contra o psiquismo infantil.

OLMOS, Ana. Publicidade dirigida à criança: violência invisível contra a infância. Constr. psicopedag.,  São Paulo,  v. 19,  n. 19,   2011 .   Disponível em http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-69542011000200003&lng=pt&nrm=iso. acessos em  25  abr.  2012.

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