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Geração X, Y & Z: Podemos analisa-las a luz da analise do comportamento?

Recentemente no âmbito organizacional podemos observar a mais nova tendência tipológica em dividir o homem x seu tipo de personalidade para estudar o seu (s) comportamento (s): “A teoria das gerações”. Antes de teoriza-las, é importante observar que tal contingência sempre existiu. É algo presente e facilmente observado em nosso dia a dia e relações familiares (De avô para pai, de pai para filho, etc), porém, somente nos últimos anos é que este fenômeno (“Gerações”) ganhou a atenção da mídia e das organizações, ainda mais se considerarmos tal atenção em uma sociedade que apoia interpretações vinculadas a determinantes mentalistas. Quando o estudo veio a tona na mídia, nas organizações, na área de recursos humanos e marketing, foi rapidamente difundido entre seus profissionais.


 

A analise do comportamento, vertente teórica de psicologia que se propõe a estudar o homem, o mundo e a relação entre eles de forma funcional, sendo esta ultima, reconhecida como a noção diferenciada do que é “comportamento” para estes cientistas comportamentais, defende que o homem é único em sua totalidade de modo que nem gêmeos idênticos apresentem o mesmo repertório comportamental. Podem apresentar comportamentos topograficamente semelhantes, mas dificilmente iguais em sua estrutura funcional. Nesta visão de “homem e mundo”, a exemplo de grandes pensadores comportamentais como Skinner (2000), Matos e Tomanari (2002) e Baum (1999), os sujeitos são multideterminados por contingências filogenéticas (relativas a espécie), contingências ontogenéticas (pertinentes a sua história peculiar de vida e interação) e contingências culturais (Meio cultural, político ao qual o sujeito está exposto), ou seja, considerações filosóficas que inicialmente já contrapõe teorias tipológicas como as das “gerações” que atribuem topografias comportamentais determinadas pelo momento histórico de nascimento de seus membros e não pelas contingências de interação com o seu meio.

O estudo das gerações especificamente, surgiu no campo científico do Marketing afim de entender como se comporta o mercado consumidor e rapidamente virou estudo de psicólogos e profissionais de RH para entender como agem seus colaboradores. Há divergência acadêmica entre o período exato de onde começa e onde acaba cada geração, porém, parece haver um comum acordo sobre quais topografias comportamentais compartilham cada geração.

No dia – a – dia, percebemos que podemos ter algumas características da geração “X”, mas pertencer a geração “Y” ou vice – versa. Isso se dá exatamente pelo fato de que cada comportamento ser fruto de contingências / interação com o meio no qual fomos gerados, pela nossa herança genética e pelo meio cultural com o qual nos relacionamos e não meramente por esta ultima determinante.

Não foram as gerações que mudaram, não foi você quem mudou. O MUNDO MUDOU! O AMBIENTE MUDOU. Respondendo a pergunta inicial do meu texto: sim! É possível uma analise comportamental sobre os fenômenos das gerações e você LEITOR, é meu convidado especial nestas analises:

 

Veteranos: 1922 – 1943

Foram criados em um cenário de “amor à pátria” / Período da Era Vargas, 2º Guerra Mundial, o diálogo praticamente não existia em casa. O homem era a autoridade máxima. O casamento era algo para vida toda, o lugar de mulher “era em casa”, as profissões valorizadas eram: direito, medicina e engenharia.

Slogan desta geração: “Dedique-se ao trabalho e aos estudos que isso trará recompensas.”

Características topográficas de comportamento ficaram em evidência:

           Moral;

           Autoridade;

           Disciplina;

           Ética;

           Respeito a regras;

           Liderança;

          Responsabilidade;

           Planejamento (Centralizado em homens)

           Etc

Variáveis comportamentais que podem nos ajudar e compreender este cenário e a influência dele na modelagem dos sujeitos desta geração: Comportamento governado por regras, coerção, agências controladoras, modelagem, modelação, etc.

 

Boomers: 1943 – 1960

Foram criados em um cenário de “Pós Guerra”, reconstrução da pátria destruída pela guerra, otimistas, com visão de progresso, esperança por um mundo melhor, interessados por política, colocavam a carreira à frente da família. Foram em busca de mudar o mundo. Torná-lo um lugar melhor.

Slogan desta geração: “Vamos construir um mundo melhor: O sucesso só depende de mim mesmo”

Características topográficas de comportamento ficaram em evidência:

          Otimismo;

           Iniciativa;

           Consciência política;

           Diversidade;

           Liberdade de Expressão;

           Sensibilidade;

           Ambição;

          Planejamento (Começa a se estender a mulheres);

           workaholic (desejo e paixão incansável por ser e fazer algo útil);


 Variáveis comportamentais que podem nos ajudar e compreender este cenário e a influência dele na modelagem dos sujeitos desta geração: Exposição com prevenção de resposta, contra controle, fuga, esquiva, enfrentamento, comportamento governado por regras, outras agências controladoras que não o governo, etc.

 

Geração X: 1960 – 1980

Foram criados em um cenário onde seus pais eram workaholic, seus maridos e pais com tempo de empresa foram desligados devido aos avanços tecnológicos e ações de drowsing (Reduções de posição de trabalho). Mulheres foram em busca de seus empregos para agregar renda à família. Abandonaram definitivamente a função de donas de casa mesmo sem ter estrutura de babás, creches, etc. Novas carreiras surgiram para homens e mulheres. 


Slogan desta geração: “Quero trabalhar para viver e não viver de tanto trabalhar”

Características topográficas de comportamento ficaram em evidência:

          Sensibilidade às primeiras tecnologias;

           Criatividade;

           Anseio por atividades prazerosas;

           Busca de significado / sentido de existência;

           Inicio da liderança feminina;

           Comunicação;

           Extroversão;

           Independência;

Variáveis comportamentais que podem nos ajudar e compreender este cenário e a influência dele na modelagem dos sujeitos desta geração: Exposição com prevenção de resposta, contra controle, fuga, esquiva,  comportamento governado por regras, outras agências controladoras que não o governo, reforço positivo, esquemas de reforçamento, fading, etc.

 

 Geração Y: 1980 – 2005

Foram criados em um cenário onde seus pais haviam saído de casa para trabalhar, ficaram então com seus avós Boomers, trata-se da geração que tinha tudo pronto: hora de ir para escola, hora de ir a natação, hora de jantar, hora de brincar, hora de fazer judô, etc. Foram condicionados a seguir um cronograma e a obter consequência positiva no final dele: Estude este ano e no final ganhará uma bicicleta, seja bom e ganhará mesada, obedeça seus avós que ganhará….Geração formalmente assediada pelos avanços tecnológicos.

Slogan desta geração: “Quero crescer e ter coisas boas rápido!”


Características topográficas de comportamento ficaram em evidência:

          Perderam a capacidade de planejar;

           Elevaram o Dinamismo;

           Aprendem com facilidade;

           Resilientes;

           Fazem várias coisas ao mesmo tempo;

           Aceitam a diversidade;

           Otimistas e sonhadores (Vivem o hoje de forma intensa);

           Práticos, objetivos / diretos;

           Inovação, autenticidade, espontaneidade e criatividade;

           Ansiedade (Querem ser felizes agora! Exigem mais feedback)

           Empreendedorismo (Não possuem medo de hierarquias ou de trocarem de empregos)

           Noção de qualidade de vida está ligado ao reconhecimento (não necessariamente de um cargo, mas de uma tarefa / status);

Variáveis comportamentais que podem nos ajudar e compreender este cenário e a influência dele na modelagem dos sujeitos desta geração: comportamento governado por contingências de reforçamento, ausência de pausa pós reforço, reforço positivo, esquemas de reforçamento, técnicas para aumento de emissão de resposta, respondentes, etc.

 

Geração Z: 2005 – atual

Foram criados em um cenário onde a geração do “tudo pronto – Y” estão inclusive tendo filhos antes de amadurecerem “cognitivamente”. Os relacionamentos de seus pais duram cada vez menos tempo e estes são criados por avós (X) ou instituições de apoio (Creches, escolas, babás, etc). Computador e tecnologia já fazem parte de sua educação básica. Com cerca de 4/5 anos, estas crianças já se sentem bem a vontade com as tecnologias. Diferentes da Y que sofreram o momento de mudança.

Slogan desta geração: “——-”. Percursores teóricos acreditam que ainda é cedo para postular rótulos a esta geração. Fazem apenas a ressalva que agora entramos em um mundo sem volta. Talvez 20/15 anos para estudar gerações seja um prazo longo. Fica aberto aos interessados a leitura de textos complementares e participação em pesquisas, fóruns, palestras e eventos ligados ao debate do tema.

Variáveis comportamentais que podem nos ajudar e compreender este cenário e a influência dele na modelagem dos sujeitos desta geração: comportamento governado por contingências de reforçamento, ACT, FAP, esquemas de reforçamento, modelos de ensino, etc.

 

Conclusão

Para analise do comportamento, sendo o comportamento do homem multideterminado por instâncias filogenéticas, ontogenéticas e culturais, como vimos no inicio deste texto, existe um grande perigo para não dizer “analise reducionista” em atribuir tipos de personalidade única e exclusivamente por espaços cronológicos. Por outro lado, ela atende parte do que esperam as organizações: medidas de avaliação comportamental mais simples, práticas e ágeis e descentralizadas de psicólogos.

Como psicólogo em organizações, o desafio que vamos enfrentar está exatamente aqui. É um paradoxo! Como avaliar sujeitos em massa na velocidade exigida pelos empregadores se estes sujeitos são únicos, multideterminados e diferentes? É óbvio que existe um grande espaço para pesquisa no campo das “gerações” em função da ausência de dados empíricos que forneçam sustentação para estas especulações, por outro lado, não digo que esta analise está inteiramente perdida ou sem serventia.

De fato acredito que a determinante cultural dos anos 70 é diferente dos anos 80, 90 e assim por diante e isso pode nos ajudar de alguma forma, porém, para uma analise funcional de comportamento, ela não é suficiente para constatar com alta probabilidade como um ou outro membro irá agir.

A riqueza de dados e controle de variáveis que temos na clinica psicológica, por exemplo, está muito além da oferecida nas organizações. Dirigentes e empresários que contratam psicólogos organizacionais se sentem no direito de interromper, intervir, modificar, alterar ou reestruturar projetos, principalmente quando ele está nas “asas” do departamento de Recursos Humanos.

Este estudo das “gerações”, por exemplo, sabemos no campo de psicologia que ele é insuficiente para uma avaliação profunda, ao mesmo tempo ele já não atende mais os empregadores, pois estes querem medidas mais rápidas do que esta história de gerações. O mundo está avançando muito rápido e a psicologia como um todo carece de atualizações em suas técnicas, sejam elas, testes, inventários, modelos de entrevistas, dinâmicas de grupo, crivos de correção, enfim, técnicas que acompanhem esta nova demanda sem perdermos a qualidade e profundidade de nossas avaliações.

Assumir que pessoas são diferentes umas das outras, é descobrir que a única coisa que temos em comum é a certeza de sermos diferentes, isso é em si, o segredo para atingirmos a harmonia na gestão das relações interpessoais nas organizações, respeitar um sujeito único é o mesmo que prover condições mais efetivas para o seu agir e, portanto, agregar mais assertividade na gestão de pessoas rumo aos resultados organizacionais. É uma pena que nem todo empresário está aberto às contribuições da analise do comportamento.

 

BIBLIOGRAFIA

Baum, W.M (1999) compreender o Behaviorismo: ciência, comportamento e cultura. Porto Alegre. Artes médicas.

Matos, M. A e Tomanari, G.Y (2002) A análise do comportamento no laboratório didádico. Barueri Ed. Manole Cap. I e II.

Skinner, B.F. (2000). Ciência e comportamento Humano, Editora Martins Fontes.

Site:

– http://www.abrhnacional.org.br/noticias/105-noticia-12.html

 

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