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A qualidade de vida no trabalho dos psicólogos que atuam no CAPS

Alberto Machado Borges

Amanda da Silva Evangelista

Bruna Lorena Santos Andrade

Fabiana Lourenço Miranda

Rayssa Soares Mendes[1]


[1] Alunos do curso de psicologia, 6º período, do Instituto Luterano de Ensino Superior de Itumbiara.

² Orientadora do Artigo Científico.

 

 

Introdução

 

Na atualidade, o psicólogo encontra vários campos de atuação para realizar o seu trabalho de forma digna e ética, dessa forma, pode-se citar as seguintes áreas: clínica, escolar, institucional, hospitalar, dentre outras. Assim, há profissionais que optam por exercer a profissão junto ao Centro de Atendimento Psicossocial (CAPS) com o intuito precípuo de atender pessoas com transtornos mentais, sendo que tal instituição possui várias atividades a serem desenvolvidas por uma equipe multidisciplinar. Faz-se necessário, então, averiguar como é a qualidade de vida dos psicólogos que trabalham em tais instituições para se traçar um perfil entre a teoria apresentada pela doutrina e a realidade vivenciada por tais profissionais.

Nesta linha de raciocínio, o presente projeto busca integrar a relação existente entre psicólogo- qualidade de vida – centro de atendimento psicossocial. Posto isto, foca-se no seguinte tema: A qualidade de vida no trabalho dos profissionais da área de psicologia, cuja questão principal de pesquisa será: Como é a qualidade de vida dos psicólogos que exercem a sua profissão dentro do CAPS/CISME em uma cidade do interior de Goiás? Com o objetivo geral de verificar os fatores que compõem a qualidade de vida dos psicólogos do CAPS/CISME em uma cidade do interior de Goiás. Seguido dos objetivos específicos: fazer um levantamento bibliográfico a respeito dos estudos já realizados sobre qualidade de vida no trabalho; verificar quais são os fatores que obstruem a qualidade de vida no trabalho dos psicólogos que trabalham na referida instituição e averiguar quais são as reais possibilidades para se obter uma esperada qualidade de vida no trabalho, mesmo exercendo a profissão dentro de ambiente estressante.

Como dito anteriormente, será destacada a qualidade de vida dos psicólogos que trabalham dentro do centro de atendimento psicossocial em uma cidade de Goiás, adotando-se como base determinados autores que escreveram sobre o assunto. Ressalta-se que será realizado o inventário de qualidade de vida e coleta dos dados demográficos com os psicólogos atuantes nesta localidade para se demonstrar a realidade vivenciada por eles, almejando uma melhoria na qualidade de vida.

De antemão, pode-se tomar a satisfação dos profissionais como uma hipótese para amenizar os dissabores vivenciados. Verifica-se tal probabilidade no enunciado da Organização Mundial de Saúde: “a satisfação dos profissionais de saúde mental foi definida em relação às seguintes dimensões: condições de trabalho, relacionamento com os colegas, qualidade do tratamento oferecido aos pacientes, participação e envolvimento na equipe (World Health Organization, 1996) (BANDEIRA, ISHARA, ZUARDI, p.1, 2011).” Ainda assim, suponhamos o estresse e a sobrecarga de serviço como fatores fundamentais que interferem na qualidade de vida desses profissionais. Diante disto justifica-se tal projeto pela necessidade da qualidade de vida no trabalho, já que ela se integra a qualidade de vida geral dos indivíduos, contribuindo assim para uma vida mais saudável.

A seguir discorrer-se-á sobre a Qualidade de Vida e seus aspectos influenciadores na vida dos indivíduos.

 

Qualidade de Vida

 

De acordo com Leal (2008) apud Pires et al (1998) o termo qualidade de vida possui diversas definições, pode – se mencionar que tem a ver com a forma como as pessoas vivem, sentem e compreendem o seu cotidiano. Envolve aspectos como a saúde, a educação, o transporte, a moradia, o trabalho e a participação nas decisões, em situações muito variadas como o atendimento digno em caso de doença e de acidente, o nível de escolaridade, o conforto e a pontualidade nas deslocações, a alimentação em quantidade suficiente e em qualidade e até a posse de eletrodomésticos, ou seja, tudo aquilo que provoca um bem – estar necessário para o individuo.

De acordo com Pnud (1990) apud Minayo, Hartz e Buss (2000), define-se qualidade de vida como uma aproximação do grau de satisfação que se encontra na vida familiar, amorosa, social e ambiental. Esse termo envolve muitos significados, que são os conhecimentos, as experiências e valores de indivíduos que são marcados pela relatividade cultural, que é as variadas épocas, espaços e estórias diferentes. Porém, esse relativismo cultural não deixa de perceber as várias formas de qualidade de vida.

Para a avaliação da qualidade de vida da população foi criado o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), na qual foi elaborada pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e nesse indicador encontra-se a concepção de que renda, saúde e educação são três elementos fundamentais da qualidade de vida de uma população.

O IDH se baseia na noção de capacidades, isto é, tudo aquilo que uma pessoa está apta a realizar ou fazer. Nesse sentido, o desenvolvimento humano teria, como significado mais amplo, a expansão não apenas da riqueza, mas da potencialidade dos indivíduos de serem responsáveis por atividades e processos mais valiosos e valorizados. Assim, a saúde e a educação são estados ou habilidades que permitem uma expansão das capacidades. (PNUD, 1990 apud MINAYO, HARTZ e BUSS, 2000, p.2)

 

Ainda, segundo o autor acima referido, o IDH é bastante utilizado e foi a inspiração para a criação do Índice de Condições de Vida (ICV), desenvolvido pela Fundação João Pinheiro em Belo Horizonte com intuito de estudar a situação dos municípios mineiros. O ICV é composto de 20 indicadores em cinco dimensões: 1) renda (familiar per capita, grau de desigualdade, percentagem de pessoas com renda insuficiente); 2) educação (taxa de analfabetismo, número médio de anos de estudo, percentagem da população com menos 04 anos de estudo, percentagem da população com menos de 08 anos de estudo e percentagem da população com mais de 11 anos de estudo); 3) infância (percentagem de crianças que trabalham e percentagem de crianças que não freqüentam a escola).

A qualidade de vida no trabalho (QVT) tem sido uma alternativa para administradores, técnicos e pesquisadores objetivando combater os efeitos negativos do taylorismo, que envolve a preocupação com a satisfação das necessidades das pessoas e a humanização das relações de trabalho. (BECKER, BOSSARDI, OLIVEIRA, TOSO, p.2, 2011)

 

Portanto, a qualidade de vida no trabalho é tida como uma opção para o melhoramento das relações existentes no trabalho dos indivíduos, trazendo benefícios tanto para os trabalhadores quanto para a produção.

 

Qualidade de Vida no Trabalho (QVT)

 

 O autor Júnior (2011, p.02) apud Huse & Cummings (1985) explicam, em sua obra, os pontos de maiores convergências e preocupações sobre as dimensões que trariam ao indivíduo uma melhor qualidade de vida no trabalho. São eles: adequada e satisfatória recompensa; segurança e saúde no trabalho; desenvolvimento das capacidades humanas; crescimento e segurança profissional; integração social; direitos dos trabalhadores; espaço total de vida no trabalho e fora dele; e relevância social.

Conforme Becker, Bossardi, Oliveira e Toso (2011) a qualidade de vida no trabalho surge para os pesquisadores das relações de trabalho como uma alternativa nas quais os mesmos podem inserir não só aspectos materiais, como o de saúde, bem estar e segurança, além de contar com uma forma ampla de trabalho que inclui: autonomia do trabalhador, partilha de responsabilidade entre a equipe, autocontrole, participação na gestão e nos resultados.

De acordo Guest (1979) apud Lima (1998. p. 136) “Existe qualidade de vida no trabalho quando a organização procura desvendar o potencial criativo de seus empregados, oportunizando aos mesmos a participação nas decisões que afetam sua vida no trabalho.”Além disso, é importante ressaltar que para se ter uma QVT os colaboradores devem estar satisfeitos com a empresa e que estejam empenhados para realizar necessidades pessoais importantes através da sua vivencia na empresa.

De acordo com o autor Gadon (1984), mencionado por Lima (1998, p. 136) é possível mencionar: “QVT tem por objetivo o crescimento da produtividade e da satisfação dos empregados.” Assim pode-se perceber que a produtividade deve aumentar, gerando recursos para que a empresa permaneça estimulada a continuar investindo em melhorias.

Muitos trabalhadores tendem a ficar satisfeitos com instituição, no instante em que se têm melhorias, tanto no ambiente de trabalho quanto na sua vida pessoal, pois necessitam de segurança, saúde e bem – estar em geral. É possível comprovar tal assertiva nos dizeres de Walton (1974): “o nível de satisfação de segurança e saúde no trabalho poderia ser melhorado através do estabelecimento de horários razoáveis e de condições físicas de trabalho que reduzam ao mínimo o risco de doenças e danos físicos.”

 

O Caps

 

Fora criado como alternativa aos hospitais psiquiátricos, o Centro de Atendimento Psicossocial (CAPS) como um tipo de serviço comunitário que atende diariamente pessoas com transtornos mentais, em que os casos são acompanhados clinicamente por profissionais capacitados, como também agem com a função de reinserir os usuários dos serviços na sociedade.

De acordo com o Ministério da Saúde , “um Caps (…)é um serviço de saúde aberto e comunitário do Sistema Único de Saúde (SUS). Ele é um lugar de referência e tratamento para pessoas que sofrem com transtornos mentais, psicoses, neuroses, graves ou demais quadros, cuja severidade ou persistência, justifiquem sua permanecia num dispositivo de cuidado intensivo, comunitário, personalizado e promotor de vida (…), realizando acompanhamento clinico e a reinserção social dos usuários pelo acesso ao trabalho, lazer, exercícios dos direitos civis e fortalecimento dos laços familiares e comunitários ( MELO, 2007 apud PELISOLI, 2005, p. 1)

 

Conforme o plano político de planejamento da instituição, na qual a pesquisa foi realizada é o CAPS/ CISME – Centro Integrado de Saúde Mental Emmanuel, este oferece atendimento prioritário aos indivíduos com intenso/persistente transtorno mental, mas também, atende sujeitos com transtornos associados a drogas psicoativas (álcool e drogas). O período de atendimento é de segunda a sexta-feira das 07 (sete) as 17 (dezessete) horas. Os recursos terapêuticos oferecidos são: atendimento individual – prescrição de medicamento, psicoterapia e orientação -, atendimento em grupo – oficinas terapêuticas, expressivas, de alfabetização, reinserção social e atividade física -, atendimento para a família – atendimento nuclear e a grupo de familiares, atendimento individualizado a familiares, visitas domiciliares, atividades de orientação-, atividades comunitárias – atividades desenvolvidas em conjunto com outras instituições existentes na comunidade, que tem como objetivo as trocas sociais, a integração do serviço e do usuário com a família e a comunidade (passeios programados mensalmente: fazenda, cinema, clubes, exposição de orquídeas etc.) -. Dentre estes recursos oferecidos por essa instituição os psicólogos que são 3 (três), atuam nos seguintes serviços: atendimento individual, atendimento em grupo e no atendimento a família.

Segundo uma pesquisa realizada Bichara, Brigagão, Nascimento e Spink (2011) o psicólogo tem os seguintes modos de atuação dentro dos Centros Psicossociais:

Atendimento individual (psicoterapia, acompanhamento) – o profissional da área da psicologia atua fazendo acolhimento, triagem e psicodiagnóstico dos pacientes que chegam, assim como fazem os planos de intervenções terapêuticas;

Coordenação de grupos: as oficinas (grupos) apresentam-se como uma das principais atividades do Caps, sendo assim o(s) psicólogo (s) junto com os demais profissionais (equipe multidisciplinar) trabalha na coordenação desses grupos;

Atendimento psicológico aos familiares: esse tipo de atendimento é realizado individual e em grupos, com familiares de vários pacientes;

Ainda segunda a autora esses profissionais também trabalham com os funcionários da instituição e com equipes multidisciplinares, fazem visitas domiciliares, atuam em rede e na comunidade, fazem pareceres, laudos e prontuários, atividades extramuros, gestão de serviço, operam nas discussões políticas sobre o campo e abordagens teóricas.

 

A sobrecarga de serviço, o estresse e a motivação

 

Conforme o explicitado no tópico acima, estima-se dois fatores como os que mais intervêm na qualidade de vida desses profissionais, quais sejam, a sobrecarga de serviço e o estresse. Assim, passa-se a discorrer sobre a sobrecarga de serviço, a qual segundo Maurin e Boyd (1990), apud Bandeira, Ishara, Zuardi (2011) alude à compreensão de demandas excessivas direcionadas para o indivíduo somadas ao sentimento de carregar um peso devido as conseqüências das mesmas. Ela pode exercer influência na qualidade do serviço prestado, além disso, o profissional fica mais vulnerável ao cansaço e suas conseqüências.

Baixos níveis de satisfação com o serviço e a sobrecarga sentida pelos profissionais em decorrência do trabalho diário com portadores de transtornos mentais podem afetar seu bem-estar e saúde mental e podem ter conseqüências na qualidade dos cuidados prestados aos pacientes e, portanto, na qualidade dos serviços (BANDEIRA, ISHARA, ZUARDI, p.1, 2011)

Os autores acima citados ainda revelam outra conseqüência que a sobrecarga de serviço pode causar: o estresse.

 

A sobrecarga percebida pela pessoa no seu trabalho pode resultar estresse emocional, definido por Lipp (2000) como uma reação complexa e global do organismo, que ocorre quando a pessoa é exposta a fatores estressantes que ultrapassam sua capacidade de resistir física e emocionalmente, reação que envolve componentes físicos, psicológicos, emocionais e hormonais e que se desenvolve em quatro fases crescentes: alerta, resistência, quase-exaustão e exaustão. (BANDEIRA, ISHARA, ZUARDI, p.1, 2011)

 

A autora Castilho (2011) atribui a maneira de comportar-se no trabalho um fator que deixam as pessoas mais propensas a ter uma sobrecarga de trabalho, como ficar responsável por atividades que não são da responsabilidade daquele profissional e falta de organização e acumulação de tarefas. Relata, ainda, algumas possíveis soluções para evitar esse tipo de situação, dentre as quais envolve organização e busca de satisfação tanto no trabalho quanto fora dele.

É preciso refletir e mudar certos comportamentos no trabalho e buscar satisfação fora dele. Saber dividir o tempo entre as obrigações mais importantes e urgentes e o tempo de descanso e prazer com nossos amigos e familiares, pois é isso que nos mantém sãos mentalmente, psicologicamente e fisicamente também para suportar a rotina desgastante e diária de trabalho. (CASTILHO, 2011, p.1)

 

Finalmente, como segundo fator que manifesta na qualidade de vida dos psicólogos que trabalham no CAPS, pode-se referir ao estresse. Tal fenômeno cresce cada dia mais e na maioria das vezes interfere na qualidade de vida no trabalho, visto que alguns funcionários ficam sobrecarregados de serviços, o ambiente de trabalho é hostil e até mesmo por causa de problemas particulares.

Becker, Bossardi, Oliveira, Toso (2011) descreve o significado de estresse como sendo reações orgânicas e psíquicas emitidas pelo sujeito quando é colocado frente a estímulos que provocam certas sensações como o medo e a felicidade. Deste modo, pode-se conferir essa descrição nas palavras do seguinte autor “estresse é um estado de tensão no corpo e na mente, resultado de eventos ameaçadores ou ambíguos do mundo exterior ou assim interpretados”. (PUSTILNICK , p.37, 2010 apud ALVES, 2000, p. 25)

O autor Pustilnick (2010) relata que o estresse não tem somente aspectos ruins, mas, tem também fatores positivos, visto que foi através deles que os ancestrais se superaram e encontraram novas estratégias de sobrevivência, das quais resultou em um maior desenvolvimento das habilidades humanas. Sendo assim, estresse é distinguido em dois tipos: o distressante – aquele que envolve os aspectos negativos – e o eustresse – aquele que engloba os aspectos positivos.

Diante disso, aborda-se, aqui, o distresse, tipo esse que afeta a qualidade de vida no trabalho. “O estresse prejudicial ou nocivo à saúde, é a permanência e constante reação do organismo aos acontecimentos inesperados que causam sintomas físicos, emocionais e mentais” (BECKER, BOSSARDI, OLIVEIRA, TOSO, p.7)

Na essência, a reação do estresse é uma mobilização das defesas do corpo, a fim de responder a alguma circunstância ambiental. Isto representa um mecanismo bioquímico de sobrevivência que foi aperfeiçoado no decurso do processo evolutivo do organismo, permitindo assim que as pessoas lutem em reações adversas. (BECKER, BOSSARDI, OLIVEIRA, TOSO, p.7)

 

Ainda, segundo Pustilnick ( 2010), o estresse, a longo prazo, pode causar determinadas alterações desvantajosas para o organismo, dentre eles: úlceras digestivas, atrofia do timo, degranulação dos neutrófilos (afetando o sistema imunológico), envelhecimento precoce, arteriosclerose generalizada.

Em relação ao estresse, sintomas como insônia, irritação, crises de ansiedade ou pânico, dores, espasmos musculares, queda de cabelo, entre outros, podem ser sintomas que indicam que o indivíduo pode estar entrando em estágio de exaustão. Esses são alguns sinais de alerta que o corpo emite e jamais devem ser desprezados. (PUSTILNICK, p. 43, 2010)

 

Como alternativa para o alivio do estresse, apesar de estratégias físicas (atividade física, organização da agenda e o cuidado com a alimentação), Pustilnick (2010) também descreve estratégias mentais, as quais são: 1º – Dedicar um tempo para si mesmo; 2º – Buscar fontes de prazer; 3º – Cultivar o afeto e 4º – Relaxar.

Sendo assim, pode-se dizer que a qualidade de vida no trabalho, beneficia tanto o trabalhador quanto a empresa que a implanta, uma vez que o empregado satisfeito ao exercer suas funções, gera, conseqüentemente, mais eficiência e lucratividade. Os autores Marchi e Silva (1997), cita em sua obra alguns desses benefícios que a empresa ganha com a implementação desse recurso: redução de gastos com medicamentos e assistência médica, conjuntamente com exames e hospitalizações, aumento da produtividade e, consequentemente, o lucro.

O programa Live for Life, a Johnson & Johnson, de NJ, nos estados Unidos, conseguiu uma redução de 378 dólares por empregado/ ano sem seus custos de assistência médica. Além do que é economizado com assistência médica, há que se levar em conta, também, o prejuízo representado pelas horas de trabalho perdidas em decorrência das faltas e dos afastamentos por razões de doença. (MARCHI, SILVA, p. 34,1997)

 

Como alternativa de uma melhor qualidade de vida no trabalho, o autor também propõe que a instituição estimule os funcionários a praticar atividades físicas com a finalidade de tentar combater o sedentarismo. “Quando se faz uma investigação da prática de atividade física entre s funcionários da maioria das empresas, o resultado mostra que mais de 50% são sedentários.” (MARCHI, SILVA, p. 119, 1997). Considera-se sedentário aquele sujeito que não tem uma prática regular de exercício físico e não somente aquele que não tem prática nenhuma. Dessa forma, os escritores descrevem determinados benefícios que o incentivo dessa prática pode trazer tanto para o empregador quanto para o empregado. Para o empregador haverá uma redução dos custos de assistência médica, diminuição do absenteísmo, diminuição do turn-over, relevação do moral e menos tempo perdido devido a doenças relacionadas à elevação do risco cardíaco. Pode-se afirmar que os funcionários terão uma melhora da qualidade do sono, redução do nível de estresse, facilidade na manutenção do peso adequado, maior auto-estima, maior capacidade de concentração, aumento da produtividade do trabalho, atitudes mais positivas em relação ao trabalho e melhora nos relacionamentos.

Nesse contexto a organização opera como estimuladora e facilitadora, a fim de proporcionar aos funcionários condições saudáveis de trabalho, podendo desenvolver programas que priorizem essa prática como a promoção de eventos esportivos ou convênios com locais que ofereçam a prática de atividades físicas.

 

 Método

 

Os sujeitos da pesquisa foram 03 (três) profissionais da área da psicologia, em um trabalho de investigação da qualidade de vida no trabalho de psicólogos que atuam no Caps, em um município do interior de Goiás, na qual a amostra é 100% do sexo feminino, com as respectivas idades: 34%. Sendo que 66,6% são casadas e 33,3% são solteiras. Apresentam também horário de serviço diversificado: das 7h ás 11h; das 7h ás 15h e das 7h ás13h, sendo que cada uma trabalha em um dos turnos apresentados. Em relação ao tempo de serviço na instituição, 66,6% das psicólogas são de dois anos e 33,3% delas trabalham a mais de 15 anos. Quanto à especialidade das participantes, uma psicóloga é especializada em saúde mental; outra em atenção psicossocial e saúde mental e uma não tem especialização. No que desrespeita ao critério de inclusão para a realização da pesquisa, não foi utilizado nenhum método de exclusão de participantes, e sim apenas de inclusão, uma vez que a pesquisa foi feita com todos os profissionais de psicologia que trabalham no Caps.

 

Instrumentos

 

Utilizou-se o Inventário de Qualidade de Vida (IQV), que é um questionário publicado por Lipp no ano de 1994, o qual permitiu fazer uma avaliação dessa qualidade de vida a partir de quatro quadrantes: o Social – avalia a área social do participante – , o Afetivo – avalia os relacionamentos afetivos e a relação de dar e receber afetos – , o Profissional – avalia a percepção do participante quanto ao seu trabalho – e o de Saúde – avalia e pesquisa os hábitos de vida e de saúde do participante – . O instrumento foi corrigido obedecendo algumas particularidades, de cada quadrante, assim sendo: no quadrante social, somou-se 03 pontos por resposta positivas nas alternativas: 01, 03, 05, 07 e 10, e subtraiu 01 ponto nas alternativas: 02, 04, 06, 08 e 09, indicando sucesso se os resultados forem iguais ou superiores a 09 pontos; no quadrante afetivo, somou-se 01 ponto por respostas positivas, sendo que resultados iguais ou superiores a 08 pontos indicam sucesso; no quadrante profissional, somou-se 01 ponto por respostas positivas nas alternativas: 01, 02, 03, 04, 05, 07 e 09 e subtraiu 01 ponto por respostas positivas nas alternativas: 06, 08 e 10, assim resultados iguais a 05 pontos indicam sucesso; já no ultimo quadrante, o saúde, subtraiu 01 ponto por respostas positivas nas alternativas 11 e 13 e somou-se 01 ponto por respostas positivas dadas nas demais alternativas, dessa forma resultados igual ou acima de 09 pontos indicam sucesso nessa área. Destaca-se que também foi usada uma ficha com os dados demográficos de cada profissional seguido do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

 

Procedimentos de coleta de dados

 

A metodologia empregada nesse artigo foi a pesquisa bibliográfica que serviu de auxilio para o levantamento de dados e estudos que já foram feitos sobre o tema referido. Assim como também foi feita uma pesquisa de campo de forma quantitativa, no Caps/ Cisme em uma cidade no interior de Goiás, com 03 (três) profissionais da área da psicologia do sexo feminino. Sendo assim Filho e Terence (2011) diz que a pesquisa quantitativa aceita mensurar opiniões, reações e hábitos e atitudes através de uma amostra representada estatisticamente. Além disso, os autores citam as principais características presentes nesse tipo de pesquisa: corresponde a um plano pré-estabelecido, com objetivo de enumerar ou aferir eventos; usa a teoria para desenvolver hipóteses e as variáveis; analisa as relações entre as variáveis por técnicas experimentais ou semi-experimentais, controlados por rigor; confirma as hipóteses ou descobertas por deduções; empregam dados que representam uma população especifica (amostra); utiliza-se de questionários estruturados, elaborados com questões fechadas, respondidos em entrevistas individuais, como instrumento para a coleta de dados.

A natureza da pesquisa segue a linha exploratória que segundo Carnevalli e Miguel (2001) apud Mattar (1996) tem por objetivo arraigar o conhecimento do pesquisador sobre o tema explorado, sendo usada para facilitar ou servir de base para uma pesquisa futura e conseqüentemente ajudar na formulação das hipóteses ou na formulação mais precisa do problema da pesquisa. Dessa forma, Clemente apud Gil (1999) define a pesquisa de natureza exploratória como uma pesquisa que envolve um levantamento bibliográfico, entrevista com indivíduos que tiveram ou tem conhecimento prático com o problema da pesquisa. Outrossim, tem como finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e opiniões para a elaboração de abordagens posteriores, proporcionando um maior conhecimento para os pesquisadores acerca do assunto, para que eles formulem problemáticas mais precisas ou criem hipóteses a serem pesquisadas futuramente.

O contato com a instituição para a realização da pesquisa foi feito através de 01 (um) dos pesquisadores, o qual foi ao Caps, expôs a proposta de pesquisa e demonstrou o cronograma previsto para a concretização do trabalho, como também apresentou aos participantes os objetivos e a justificativa da pesquisa. Posteriormente, como já mencionado, foi combinado com os pesquisadores e participantes uma data e horário para a aplicação do instrumento. Dessa forma, os pesquisadores foram ao Caps no dia marcado, no qual foi aplicado o IQV durante a pesquisa de campo, assim os pesquisadores explicaram como preencher o questionário para a amostra e estiveram presentes durante sua aplicação, possibilitando a comparação da coleta de dados com a teoria relatada e estudada. Ressalta-se, ainda, que o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, assinado pelos participantes, foi conforme a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.

 

Resultados e Discussões

 

Conforme a pesquisa de campo realizada, dentre os dados coletados dos quatro quadrantes avaliados: Social, Afetivo, Profissional e Saúde, os dois primeiros apresentaram sucessos e dois últimos indicaram insucessos.

 O quadrante Social tem valor de referência 09 pontos, ou seja, se a média apresentada por esses quadrantes for igual ou superior a 09 significa sucesso no resultado. A média encontrada por esse quadrante foi de 12,7 pontos, indicando sucesso social.

O quadrante Afetivo apresenta como referência o valor igual ou superior a 08 pontos, sendo assim o resultado da média dos 03 inventários foi de 9,3 pontos, indicando também sucesso nessa área.

O terceiro quadrante, o Profissional, tem como valor de referência igual ou superior a 05 pontos, assim os resultados obtidos nesse quadrante foi de 3,3 pontos, apontando insucesso profissional.

O quarto e último quadrante, o Saúde, tem referência de valor igual ou superior a 09 pontos. No entanto, apresentou média de 8,7 pontos, também indicando insucesso.

Considerando que o quadrante Social e o Afetivo foram satisfatoriamente atendidos, pode-se dizer que as participantes têm qualidade de vida no que se relaciona ao ambiente social em que estão inseridas, assim como sentem e lidam com as situações apresentadas em suas vidas diárias.  Confirma-se tal assertiva por meio do autor Leal (2008) apud Pires et al (1998) o qual diz que a qualidade de vida está ligada com a forma como as pessoas vivem, sentem e compreendem o seu cotidiano. Além disso, o autor apresenta vários aspectos que compõe a qualidade de vida de um sujeito, dentre esses estão a educação, o transporte e a moradia, ou seja, envolve tudo aquilo que traz benefícios que são necessários para o indivíduo. Corroborando com essa idéia, os escritores Pnud (1990) apud Minayo, Hartz e Buss (2000) atribuem à qualidade de vida, o significado de uma aproximação do grau de satisfação que se encontra na vida familiar, amorosa, social e ambiental. Dessa forma, a qualidade de vida nesses aspectos acaba por ser não somente no trabalho, mas sim um bem-estar geral na vida do trabalhador.

Já o quadrante Profissional e de Saúde não obtiveram êxito como os dois primeiros, apresentando resultado de insucesso, o que pode ser indícios de insatisfação com o trabalho, seja por não atendidas todas as suas necessidades – forma esta que a pessoa percebe o lado profissional – ou por variáveis que estão interferindo nessa percepção mais negativa. O autor Júnior (2011, p.02) apud Huse & Cummings (1985) descrevem, oito pontos de maiores convergências que trariam uma melhor qualidade de vida no trabalho ao indivíduo, sendo eles: adequada e satisfatória recompensa; segurança e saúde no trabalho; desenvolvimento das capacidades humanas; crescimento e segurança profissional; integração social; direitos dos trabalhadores; espaço total de vida no trabalho e fora dele; e relevância social. Esses pontos apresentados pelos autores podem ser considerados as necessidades do sujeito no âmbito do trabalho, em que estando elas não atendidas ser uma interferente na QVT do trabalhador. A insatisfação pode ainda ser decorrente do estresse no trabalho, assim Becker, Bossardi, Oliveira, Toso (2011) descreve a palavra estresse como sendo reações orgânicas e psíquicas emitidas pelo sujeito quando é colocado frente a estímulos que provocam certas sensações como o medo e a felicidade. Assim, essas reações são decorrentes de outros fatores, como a sobrecarga de serviço, nota-se na obra de Maurin e Boyd (1990), apud Bandeira, Ishara, Zuardi (2011) a qual alude à sobrecarga de serviço como sendo a compreensão de demandas excessivas direcionadas para o indivíduo, somadas ao sentimento de carregar um peso devido as conseqüências das mesmas, podendo exercer influência na qualidade do serviço prestado, além de deixar o profissional mais vulnerável ao cansaço e suas conseqüências.

 

Conclusão

O presente estudo pautou-se na seguinte relação: psicólogo – qualidade de vida – centro de atendimento psicossocial. Sendo assim, buscou-se averiguar a qualidade de vida de tais profissionais os quais atuam no Caps, balizando-se por uma doutrina de realce e, também, por instrumentos os quais nortearam os resultados encontrados.

Consoante os resultados da pesquisa realizada, foi constatado que os psicólogos que trabalham no Caps possuem QVT parcialmente satisfatória, já que nos quesitos de ambiente social e afetividade, resultaram de forma positiva, proferindo qualidade de vida no ambiente social em que os sujeitos estão inseridos. Já no aspecto profissional e saúde não foram percebido de forma satisfatória, uma vez que existem variáveis que interferem nesse resultado, as quais supostamente são a sobrecarga de serviço e o estresse.

 

Ainda assim, é confirmada a hipótese levantada inicialmente da importância da satisfação dos funcionários que se dá através da motivação, a qual deve ser não somente de aspectos econômicos e materiais, mas também se deve dar autonomia ao trabalhador, partilhar as responsabilidades entre os membros da equipe, não deixando sobrecarregar apenas alguns dos integrantes, o que trará benefícios tanto para o funcionário quanto para a própria instituição, que terá um serviço com maior presteza.

Salienta-se, finalmente, sobre a importância de analisar o colaborador dentro da sua individualidade, ou seja, vive-se em uma época pós-moderna, no entanto, os anseios, as expectativas e as subjetividades devem ser enfrentadas, a fim de que o objetivo maior da instituição seja alcançado e garantindo-se uma verdadeira qualidade de vida (dentro do trabalho e, também, fora deste) para os trabalhadores.

 

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Acesso à Plataforma

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