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Bonecas para meninas, carrinhos para meninos: crianças pequenas estabelecem estereótipos de gênero?

Via Boletim Behaviorista

Que crianças pequenas sabem o que são brinquedos tipicamente masculinos e femininos é um fato, mas elas concordam que, por exemplo, bonecas são para meninas, e carrinhos para meninos? Estudo de Laura Rabelo, Renato Bortoloti e Debora Souza, da Universidade Federal de São Carlos, publicado no The Psychological Record, pode nos ajudar a responder essa pergunta.

Os pesquisadores recrutaram 10 crianças, seis meninos e quatro meninas, de 7 a 10 anos de idade, que responderam um instrumento chamado “Procedimento de Avaliação Relacional Implícita (IRAP, em inglês), que baseia-se em um conceito costumeiramente chamado de cognição implícita, e parte do pressuposto de que respondemos a relações consistentes com nossa história de aprendizagem mais rápido do que a relações inconsistentes. Em outras palavras, uma criança que precisa responder inicialmente que bonecas combinam com meninas e, mais tarde, que bonecas combinam com meninos, responderá mais rápido à primeira relação do que à segunda, se tiver aprendido, durante sua vida, que bonecas são para meninas, e não para meninos. Da mesma forma, se a relação fosse “carrinhos combinam com meninos”, e depois “carrinhos combinam com meninas”, ela provavelmente responderia mais rápido à primeira relação.

As tarefas consistiam em visualizar as seguintes configurações na tela: “Maria e boneca”, “João e carrinho”, “Maria e carrinho” e “João e boneca”, e responder, pressionando uma determinada tecla localizada à direita ou à esquerda no teclado do computador, de maneira rápida (no máximo 3 segundos) e com alto nível de acertos (pelo menos 70% ), à instrução dada pelo experimentador. Nos blocos ditos consistentes, as crianças tinham que dizer que “Maria e boneca” e “João e carrinho” combinavam (tecla da esquerda), enquanto que “Maria e carrinho” e “João e boneca” não combinavam (tecla da direita). Nos blocos ditos inconsistentes, as crianças deveriam responder o oposto.

 

Como era de se esperar, as crianças responderam mais rápido quando apontaram que Maria e boneca combinavam, e que “João e boneca” não combinavam. Entretanto, a latência das respostas para “carrinho e João” e para “carrinho e Maria” não diferiu significativamente, o que indica que, para essas crianças, carrinhos combinam tanto com meninas quanto com meninos.

 

Os autores comentam o resultado citando pesquisas que demonstraram que meninos são mais punidos ao manusear brinquedos considerados femininos do que meninas o são ao manusear brinquedos considerados masculinos. Além disso, meninos sofrem maior pressão de seus pares para se comportar de acordo com padrões normativos de gênero.

 

Embora o objetivo do estudo fosse avaliar a adequação do IRAP para crianças com idade escolar, uma vez que nenhum estudo havia sido publicado sobre o assunto, a pesquisa mostrou que as atitudes das crianças revelam que os estereótipos de gênero parecem estar presentes em crianças pequenas.

 

Rabelo, L.Z.; Bortoloti, R. & Souza, D.H. (2014). Dolls are for girls and not for boys: Evaluating the appropriateness of the Implicit Relational Assessment Procedure for school age-children. The Psychological Record, 64,1, 71-77. Disponível em:http://link.springer.com/article/10.1007%2Fs40732-014-0006-2

 

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