Um estudo realizado nos Estados Unidos e Inglaterra permite concluir, pela primeira vez, que existe uma idade ideal para aprender língua gestual, tal como já se supunha acontecer com a linguagem verbal.
Um estudo realizado nos Estados Unidos e Inglaterra permite concluir, pela primeira vez, que existe uma idade ideal para aprender língua gestual, tal como já se supunha acontecer com a linguagem verbal.
Neurologistas examinaram a atividade cerebral de indivíduos que aprenderam a falar língua gestual norte-americana (ASL, sigla em inglês; em português os surdos-mudos utilizam a Libras – linguagem brasileira dos sinais) em diferentes períodos da sua vida, um trabalho publicado na edição de janeiro da revista “Nature Neuroscience”.
Através da técnica de ressonância magnética funcional (fMRI, sigla em inglês), os cientistas descobriram que os padrões da atividade cerebral das pessoas que aprendem ASL são diferentes se a aprendizagem ocorre antes ou depois da puberdade.
Segundo este trabalho, existem regiões no hemisfério direito do cérebro que são ativadas quando é pedido às crianças que aprenderam ASL antes da puberdade que leiam frases nesta língua.
Por seu lado, os cérebros das crianças que aprenderam a língua gestual norte-americana depois da puberdade demonstraram uma atividade cerebral no hemisfério direito muito menos intensa durante a realização da mesma experiência.
Existe uma aceitação generalizada entre a comunidade científica de que há um período crítico para a aquisição de uma primeira língua e de que as crianças que não forem expostas a nenhum tipo de idioma antes da puberdade são incapazes de a dominar totalmente mais tarde. Existem também indícios de que o mesmo se passa em relação á aprendizagem de uma segunda língua.
“Sabemos agora que os alunos tardios da ASL, embora possam ser muito fluentes, nunca o serão tanto como quem tem a ASL como língua nativa ou a aprendeu precocemente”, explicou David Corina, professor associado de psicologia na Universidade de Washington e co-autor do estudo.
“Um dos aspectos mais difíceis da ASL para os alunos tardios são os verbos que expressam movimento. É possível detectar erros sutis na utilização desses verbos tal como se descobrem pequenas imprecisões gramaticais quando se ouve alguém a falar numa língua que não é a sua nativa”, sublinhou.
As outras instituições envolvidas no estudo são a Universidade de Oregon, a Universidade de Rochester, ambas nos Estados Unidos, e o Hospital John Radcliffe, em Inglaterra.
O estudo envolveu 27 indivíduos bilíngues, dos quais 16 eram pessoas com audição, filhos de pais surdos. Estes aprenderam ASL e inglês desde pequenos como línguas nativas.
Os restantes 11 indivíduos tinham o inglês como língua nativa e só mais tarde aprenderam ASL, após a puberdade ou na entrada na idade adulta.
Todos os envolvidos na pesquisa foram observados através da técnica de fMRI enquanto lhes era pedido que lessem frases em inglês e em ASL.
“Este trabalho é importante para compreender quais são os sistemas neurológicos envolvidos no processo da linguagem”, explicou Corina.
“Queremos saber nomeadamente se estes sistemas são maleáveis ou fixos e o grau em que variam de uma língua para outra”, continuou.
Este estudo permitiu aos cientistas saber que existe ativação do hemisfério direito do cérebro quando os falantes nativos vêem os símbolos da ASL.
A prova de que existe uma relação entre uma aprendizagem precoce e esta atividade cerebral sugere que existem idades específicas em que os sistemas neurológicos envolvidos no processo da linguagem podem estar particularmente sensíveis à mudança.
O investigador da Universidade de Washington acrescentou ainda que o estudo pode ter implicações na educação das crianças porque sublinha a importância de as expor o mais cedo possível à aprendizagem de uma língua, uma preocupação que agora se revelou igualmente importante na educação de crianças surdas (ou que se relacionam com indivíduos com esta deficiência) para assegurar a sua competência em língua gestual.
Fonte: Agência Lusa
03/01/2002 – 16h11