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Mudança de escola pode trazer problemas de adaptação para criança

O dinheiro encurtou, o endereço novo é longe demais ou a escola de sempre não tem ensino médio. As razões podem ser muitas, mas o clima de apreensão na hora de mudar o filho de escola quase não varia. Será que ele vai se adaptar?

O dinheiro encurtou, o endereço novo é longe demais ou a escola de sempre não tem ensino médio. As razões podem ser muitas, mas o clima de apreensão na hora de mudar o filho de escola quase não varia. Será que ele vai se adaptar?

“Para as crianças menores, o começo em uma nova escola parece tão estranho como a primeira vez em que ela foi deixada no berçário”, compara a psicóloga e diretora do Colégio Magno/Mágico de Oz, Cláudia Tricate. “Algumas se sentem abandonadas, ficam com medo de que a mãe não volte para buscá-las no fim do dia.”

Mais do que da idade, porém, a reação à mudança depende muito da personalidade. “Algumas crianças encaram com tranquilidade, outras choram por se afastar dos velhos amigos ou dos pais” diz Cláudia Tricate. “Nessa hora, o importante é não exigir que ele se afaste das outras coisas de que gosta. Entre os mais novos, por exemplo, não é hora de tirar a chupeta ou trocar a lancheira.”

É preciso também dar um tempo para que o estranhamento inicial passe. “O Rodrigo chorou dez dias seguidos ao trocar de escola, no ano passado. Ele chegava lá e não queria sair do carro, mas nunca dizia o porquê”, conta a mãe, Luciana Fajardo Vidigal, 36, que propôs a mudança por achar que tinha havido queda na qualidade da antiga escola.

Passado o primeiro mês, Rodrigo, 6, já estava completamente adaptado e cheio de novos amigos, apesar da timidez. “Ele começou a tocar prato na bandinha da escola, a levar os coleguinhas para casa e acompanhou muito bem o nível do ensino”, conta a mãe.

Com o outro filho de Luciana, Diogo, dois anos mais velho, a reação foi oposta. Feliz com a mudança desde o princípio, Diogo encontrou dificuldades em acompanhar o novo currículo. “Eu achava tudo muito difícil e ficava aflito”, lembra ele. Aulas de reforço resolveram a questão didática, enquanto terapias semanais ajudaram a reduzir a ansiedade de Diogo.

“Agora ele está menos preocupado com a escola, tira notas boas e tem um grupo de amigos”, afirma a mãe.

Mais demorado Com os mais velhos, pode não haver cenas de choro, mas a adaptação tende a ser mais problemática no princípio, por causa da personalidade grupal típica da adolescência. “O adolescente age conforme os valores aceitos em seu grupo, que pode ser o da bagunça, da paquera ou do estudo”, explica o orientador educacional do ensino médio do Módulo, Enoch Araújo Flor, 40.

Ao mudar de escola, o adolescente se separa da turma que já conhece e terá de se inserir em outra, o que pode demorar até três meses. “Por isso, é importante escolher uma nova escola que tenha características -classe social, atividades esportivas ou musicais, tratamento formal ou não- parecidas com aquela da qual o aluno está saindo”, diz a psicóloga Cláudia Tricate. “Ele terá maior facilidade de adaptação assim.”

A partir da pré-adolescência, é imprescindível que os pais deixem o aluno participar da seleção da escola, oferecendo cinco ou seis opções, explica Enoch Araújo. “Nessa idade, eles tendem a ir contra tudo o que for imposto”, diz. “Se ele tiver boa vontade com a escola, a adaptação será muito mais fácil.”

Mas nem por isso indolor. “Chorei muito por ter que deixar meus amigos e pela incerteza da mudança”, conta Michelle Smarczewski Mereb, 16, que teve de deixar o colégio onde estudou durante oito anos por motivos financeiros. Mesmo participando da escolha, a adaptação levou uns três meses.

A participação ativa de professores e coordenadores é ainda mais importante nessa fase, para que o aluno se sinta em casa. “Logo de cara, fiquei amiga dos coordenadores e do diretor, que são muito abertos para o diálogo”, conta Michelle, que vai prestar vestibular para Rádio e TV no ano que vem. “Eles me aconselharam na carreira que quero seguir e me ajudaram a conhecer um novo grupo de amigos”.

Segundo a psicóloga Cláudia Tricate, não existe “melhor fase” para mudar o filho de escola -se não houver problemas, ele pode passar toda a vida escolar no mesmo lugar. “A troca é necessária quando a escola não está atendendo às expectativas do aluno ou dos pais, ou quando o estudante não se adaptou a uma característica específica da escola, como a religião, o método ou o grau de exigência”, afirma a psicóloga.

Foi o que levou Rafael Parisi, 11, que saiu da escola de freiras onde estudava para uma que desse mais ênfase aos esportes e atividades extra-curriculares.

“Eu tinha que estudar demais e não sobrava tempo para fazer as coisas de que gosto: jogar tênis e andar de skate”, declara Rafael, que já praticou judô, capoeira e futebol desde que começou na nova escola, há um ano.

Mesmo contente com a troca, Rafael levou cerca de dois meses para se adaptar. “Eu sou muito bravo e brigava demais”, diz o garoto, que começou a fazer terapia por indicação da coordenadora da escola. “Agora estou mais tranquilo, parei de brigar e já tenho vários amigos.”

O acompanhamento de pais, professores e coordenadores é fundamental nessa fase de transição. Mas uma coisa é certa: ninguém fica traumatizado com a experiência. “Afinal, que adulto se lembra do ‘terrível dia’ em que começou na escola nova?”, pergunta Cláudia Tricate.

CARLA GOMES

Fonte: Revista da Folha
28/01/2002 – 13h55

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