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Hospital das Clínicas lança tratamento para sequestrados

“Ninguém é o mesmo depois de passar um tempo em cativeiro.” Essa frase do empresário Roberto Benito Júnior, que passou 120 dias sequestrado, chamou a atenção do psiquiatra Eduardo Ferreira-Santos, supervisor do serviço de psicoterapia do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas (HC), em São Paulo.
“Ninguém é o mesmo depois de passar um tempo em cativeiro.” Essa frase do empresário Roberto Benito Júnior, que passou 120 dias sequestrado, chamou a atenção do psiquiatra Eduardo Ferreira-Santos, supervisor do serviço de psicoterapia do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas (HC), em São Paulo.
“Percebi que havia uma preocupação muito grande em traçar o perfil do sequestrador, mas não do sequestrado”, afirma. Além disso, a população-alvo dos sequestradores já não é mais a minoria composta pela classe alta. “Hoje, até pessoas de baixa renda são vítimas de sequestros.” Por isso Ferreira-Santos decidiu criar no HC um serviço gratuito de psicoterapia em grupo para quem passou por essa situação.

Segundo ele, os sequestros, mesmo os do tipo relâmpago, e os assaltos em que a vítima é mantida refém por algumas horas podem significar um grande abalo emocional e dar origem a um trauma. “O trauma pode causar um estresse pós-traumático, uma espécie de crise que pode surgir até um ano após o incidente”, diz o psiquiatra.

Para Maria, que pediu para não ser identificada pelo nome verdadeiro, de 22 anos, a crise surgiu um ano depois de um grupo de assaltantes invadir sua casa e manter sua família como refém durante cinco horas. “Por conseguir dialogar com os bandidos, acabei sendo a que mais apanhava. Batiam em mim na frente dos meus pais para conseguir jóias e dinheiro. Como não tínhamos nada, eles não paravam de bater”, conta a jovem. Um dos assaltantes se irritou e levou Maria para um quarto ao lado de onde sua família estava. Lá, ela foi violentada.

Segundo ela, a tortura física, embora difícil, foi suportável. “A violência mental e sexual machucam muito mais.” Ela tentou lidar sozinha com o incidente, mas não conseguiu. Chegou a procurar um profissional, mas não tinha dinheiro para pagar as sessões. “Quando soube que o HC estava oferecendo esse serviço, percebi que alguém havia escutado minhas preces”, conta. “Estou deprimida, eu me sinto um lixo. Parte de mim morreu depois disso. Perdi todo o meu encanto.”

Até o fim de março, Ferreira-Santos está selecionando pessoas para o novo grupo de psicoterapia. “Para criar um grupo homogêneo, preciso excluir portadores de outros problemas psicológicos, como neuroses e paranóias. Se a seleção for rigorosa, o êxito do tratamento será de 100%.”

O tratamento deve durar dez semanas, o que é chamado de psicoterapia breve, pois há um tempo determinado para tratar um problema específico. Além de melhorar a qualidade de vida da vítima, a terapia evita que o quadro evolua para outros problemas, como fobias. “É importante falar sobre o incidente. É preciso libertar essas emoções”, diz o psiquiatra. A psicoterapia proposta por Ferreira-Santos usará psicodrama, em que a vítima dramatiza o incidente para ajudá-la a exteriorizar suas emoções mais profundas. Ele empregará também outro recurso, chamado imaginação ativa, no qual a pessoa conta o que aconteceu como se estivesse revivendo aquele momento.

Além de oferecer o serviço, o psiquiatra pretende realizar um estudo com os pacientes para avaliar a eficiência da psicoterapia para vítimas de sequestro. Mas ele garante que isso não irá atrapalhar o projeto. “O objetivo do trabalho é assistencial. O estudo é secundário.” Mais informações: tel. 0/ xx/11/3069-6576.

Sintomas de quem precisa procurar ajuda

Tremores generalizados

Isolamento

Insônia

Irritabilidade

Ansiedade

Medo

Falta de concentração

Perda de produtividade

Fonte: Folha de São Paulo
GABRIELA SCHEINBERG
free-lance para a Folha
14/03/2002 – 08h31

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