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PSYU Nº1 – Coluna CATARSE – Março/2000

Esse texto caberia bem dentro da coluna NEO, que discute Psicologia, Tecnologia e Comunicação. Mas reservamos esse espaço para o texto que recebemos do estudante Eduardo Honorato (Vício Moderno) e criamos essa nova coluna para o site, CATARSE, para publicar os textos que, de certo modo, funcionam melhor como um diálogo direto com os leitores.

A Psicologia no Admirável Mundo AOL-Time Warner
Esse texto caberia bem dentro da coluna NEO, que discute Psicologia, Tecnologia e Comunicação. Mas reservamos esse espaço para o texto que recebemos do estudante Eduardo Honorato (Vício Moderno) e criamos essa nova coluna para o site, CATARSE, para publicar os textos que, de certo modo, funcionam melhor como um diálogo direto com os leitores.

A Psicologia no Admirável Mundo AOL-Time Warner
No filme O Demolidor, com Silvester Stallone, diversas características interessantes podem ser encontradas, até algumas referências bibliográficas. Por exemplo, a personagem namoradinha do protagonista fortão chama-se, bem me lembro, Lenina Huxley, uma pérola da homenagem sutil. Aldous Houxley, nos anos 70, escreveu o livro Admirável Mundo Novo no qual uma das protagonistas chamava-se Lenina.

Seu livro descrevia uma sociedade utópica na qual não havia reprodução humana, no sentido conhecido atualmente, apenas produção de seres, entre diversas outras coisas. Era uma sociedade perfeita, na qual todos estavam felizes e bem acomodados, sem violência. Esta é a sociedade vista no filme.

Até agora não está claro onde eu quero chegar começando pela citação de um filme, digamos, nada enriquecedor culturalmente.

Um outro ponto interessante é que um dos personagens diz, ao levar o fortão e a namoradinha num restaurante, que aquela era a única rede de alimentação que existia no mundo. Houve um terremoto, ou algum desastre, que exterminou as outras redes e só aquela sobreviveu, dominando o mundo com seus serviços.

Daí eu me pergunto: será que, fazendo uma analogia, essas big compras, mega fusões de empresas, podem ser esse tipo de “desastre” que vai tornar o mundo um só? Será que daqui uns “x” anos só vai haver Mc Donalds, Microsoft e AOL – Time Warner?

Esta última empresa é a mais interessante. Já que está na boca do povo, quer dizer, dos economistas e interessados, vamos falar sobre ela.

Milhões de teorias tentam se aproximar dos verdadeiros motivos que levaram a AOL a despender 156 bilhões de dólares na compra da maior empresa de comunicação, cinema e informação do mundo, a Warner. Economistas e estudiosos do mundo inteiro estão voltados para o assunto, preocupados com as conseqüências na economia e estabilidade do planeta. Mas os efeitos somente serão sentidos daqui a uns 10 anos.

Uma das teorias é bastante provável. Com a fusão, as duas empresas uniram suas incertezas com relação ao futuro e fizeram delas soluções. A AOL se pergunta hoje: o que será de mim com os provedores gratuítos? A Warner se pergunta: num mundo no qual eu posso pegar MP3 e filmes inteiros pela internet, onde é que eu entro e o que eu faço com a distribuição?

O evento do milênio (?) une o útil ao agradável e ainda sai por cima: com a fusão, o futuro do entretenimento e das empresas virtuais está garantido para essa nova empresa. A Warner já tem como se adaptar à nova onda do e-commerce, pois está ligada à maior provedora de acesso do planeta. E a AOL já tem o que a torna novamente aprazível ao público: filmes, música, canais de TV a cabo, enfim, informação.

A última grande saga dos quadrinhos da editora DC Comics no Brasil, DC Um Milhão mostrava uma sociedade futurista que valorizava muito mais a informação que o dinheiro, aliás este era o dinheiro deles. Isso chegava a um extremo que os ladrões de hoje viraram furtadores de informação. Tudo pelo conhecimento e divulgação. Este é o ponto em que chegamos: vende-se informação. Tudo pela produção e distribuição do conhecimento, sem, é claro, questionar que tipo de informação é produzido e distribuído hoje, nos tempos da bunda-music e Pokémons epiléticos.

Mas a teoria mais interessante que eu li foi uma que envolve muita psicologia. É fato que, em 1980, Steve Case, então recém formado, enviou um curriculum para a HBO, canal da Time Warner, para trabalhar lá. No curriculum prometia “inovações em telecomunicações (…) que transformarão nossas TVs (…) em uma rede de informações, notícias e educação”. Seu curriculum foi recusado, o tempo passou, ele criou uma empresinha de acesso à internet e, vinte anos depois, o jovem pretendente a estagiário conseguiu o que queria: trabalhar na empresa como dono.

O que uma grande frustração não faz na vida, hein? Ok, o mundo pode ser um só. Pode ser só Mc Donalds e Microsoft, mas a psicologia vai continuar alí, firme e forte, atuando e especulando.

É claro que um evento desse ‘naipe’ não foi decidido num choro de bar, onde Case, num copo de ‘cowboy’, dizia “eu quero trabalhar na Warner!”. Existe uma equipe imensa de economistas e analistas que vão dizer o que dá, o que não dá, o que pode e o que não deve. Mas eu aposto a minha futura carteirinha do CRP que Case pensou um dia nessa frustração.

Ai se todas as frustrações dessem tanto dinheiro assim. Tinha gente batendo no Mike Tyson e correndo atrás da Feiticeira só pra se frustrar e comprar um Club Mediterranêe, uma Globo, uma Blockbuster.

Sei lá, eu me questiono se uma boa terapia pode deixar o mundo um pouquinho melhor. É uma forma de dizer que, com esse meu trabalho eu posso controlar um pouquinho o mundo a minha volta, torná-lo mais, ao meu ver, melhor. Mas quem tem mais poder? Alguém sabe por acaso se o Case ou os Bills dos EUA fizeram terapia para decidir os rumos dos mundos?

Ok, se todas as decisões estão baseadas no âmago da alma, nas frustrações e condicionamentos vividos, ou melhor, se todos decidem as coisas baseado em seus problemas a resolver, lacunas não preenchidas, que raios de mercado de trabalho é esse que ninguém me chama pra estagiar?
MAURÍCIO SALLES, EDITOR DO PSYU

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