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PSYU Nº3 – Coluna FALO (Política) – Junho/2000

Olhar Paulista
Olhar Paulista
Que lindos olhos tem minha Paulista. Que puderam assistir a história de uma cidade. Desde as greves de operários italianos e da vida dos ricos barões do café até as greves do funcionalismo público e o cotidiano das empresas transnacionais. Olhos que tantas vezes brilharam na virada do ano e nas tantas comemorações de campeonatos esportivos que assistiu.

Olhos que puderam ver o que aconteceu no dia 18 de maio. Quando muitas pessoas foram para a avenida mais famosa de São Paulo. Quando muitas pessoas foram protestar, muitas foram trabalhar, muitas foram comprar e passear.

Nesse dia, na manifestação do funcionalismo, uma pista foi pouco para o tamanho da indignação com suas condições de trabalho e salário. Uma pista é pouco para a indignação do povo brasileiro com a realidade de seu país. Mas uma pista foi bastante para a tropa de choque agredir, machucar e violar os direitos do cidadão paulista e brasileiro. Cidadãos que não tiveram para onde correr quando, na pista que segundo afirmam, tentavam desobstruir, a tropa de choque da polícia começou a atirar. Bombas de efeito moral e gás pimenta. Faziam uma varredura na avenida, todos se aglomeraram nas portas fechadas dos prédios. Branco de fumaça, ficou o coração de São Paulo, aos sons de gritos e bombas.

Os policiais atiravam no povo aglomerado nas calçadas, que tentava desesperadamente entrar nos prédios. Sem olhar para as pessoas, atingiam crianças que vinham de lanchonetes, adolescentes que saíram do colégio, estudantes universitários, professores, funcionários públicos, executivos e idosos. Todos desarmados. Quarenta minutos nos quais manifestantes e transeuntes, acoados nas paredes, xingaram ou pediram em desespero pelo fim da violência. Quarenta minutos que depois de cessados, foram substituídos por mais vinte em que pessoas reagiram com paus e pedras do Parque Trianon. A polícia revidou com balas de borracha para todos os lados, quebrando vidros, pernas e olhos.

Olhos da minha Paulista que lacrimejaram com o gás e que choraram de desespero e de dor. Olhos da minha Paulista que sangraram com as balas da violência do Estado que em cheio a acertaram.

Nesses olhos, refletida me vejo. Paulista, não feche seus olhos. Mesmo que doa tanto mantê-los abertos. Por favor, mantenha-os livres se emocionando e se indignando. Não feche os olhos, porque de tão machucados que estão, se fechá-los agora, ao abri-los poderá nada mais enxergar.
ANA TERESA C. M. BONILHA

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