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Revista PSYU Nº6 – Coluna CULTURA – Novembro/2000

Poiesis

Embora tenhamos nos apropriado da noção de amor idealizado como sendo aquele que devido ao seu caráter sublimatório, produza uma deserotização das relações humanas, o que, por muitas vezes, resulta num fato psíquico, não podemos despresar que, em seu surgimento, o “amor cortês” (criado pelos poetas medievais no séc. XII) possua uma inegável repercussão na história da emancipação da mulher, assim como na história do desenvolvimento da psique no Ocidente.

O “amor cortês” é um conjunto de idéias, práticas e condutas encarnadas em uma coletividade e compartilhadas por ela, e seus códigos são ainda hoje vigentes em muitos de seus aspectos. A sua origem remonta a inúmeras influências, entre elas o cristianismo, Platão e os poetas do Islã, sem no entanto, estar subordinado a nenhuma delas. Em alguns pontos foi contrário ao dogma do catolicismo romano e, inclusive, repudiado pelas autoridades eclesiásticas, podendo ser entendido como uma transgressão, uma dissidência tanto do cristianismo como do platonismo (já que o Eros platônico desnaturalizou o amor e o transformou num erotismo filosófico e contemplativo do qual, além disso, estava excluir a mulher). O termo “amor cortês” reflete a diferença medieval entre corte e villa. Não é o amor villano – cópula e procriação -, mas um amor carnal apenas. Seu objetivo era o amor refinado, o fin amors, uma misteriosa exaltação, ao mesmo tempo física e espiritual, ou a joi de vivre.

Suas práticas de cortesia galanteadoras, que incluiam provações, súplicas e aceitações, mas também, o amor carnal (drutz) sãoinfluenciadas pelos árabes na medida em que adotaram o costume de inverter a relação tradicional entre os sexos, chamando a dama de senhora e a eles de seus servos, promovendo assim, uma alteração na hierarquia dos sexos que subvertia a ordem reinante, permitindo que a mulher ascendesse da posição de objeto à posição de sujeito na relação amorosa, o que resultou num passo em direção à igualdade dos sexos.

Termino aqui com uma frase do belíssimo livro do poeta Octavio Paz, de onde tirei alguns extratos transcritos no texto: “O trânsito da sexualidade para o amor se caracteriza… pela intervenção de um agente que leva o nome de uma linda princesa grega: Psique. A sexualidade é animal; o erotismo é humano. O amor por sua vez… é uma purificação, como diziam os adeptos do “amor cortês.”
JOÃO PAIVA
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Dissonâncias

A maldição toma conta de Zeca Baleiro. Ainda bem. Em seu recém lançado CD, Líricas, Zeca explora uma poesia que o aproxima dos grandes ‘malditos’ da canção popular brasileira: ressoam (ou dissoam) Arnaldo Baptista, Tom Zé, Arrigo Barnabé, Itamar Assumpção, entre outros.

Nos seus outros CDs, o namoro com o verso livre e com a liberdade criativa já se manifestava, tanto que a última faixa do Vou Imbolá (1999) se chama justamente Maldição e brada: “meu coração não quer dinheiro, quer poesia”. As referências ao mundo pop continuam sendo bem utilizadas por um compositor que se supera. Há uma fina ironia que dialoga com paixões e provocações ao establishment musical nacional.

Zeca está mais cosmopolita e subversivo. Bendita maldição!
THIAGO RODRIGUES
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Claquete

O Sabor da Paixão – Um filme quase totalmente brasileiro, com Murilo Benicio, a espanhola Penélope Cruz (que trabalhou com Almodóvar em Tudo sobre minha mãe), dirigido pela venezuelana Fina Torres, escrito pela paulista Vera Blasi e produzido pela toda-poderosa americana Fox Films.
Um caliente casal brasileiro passa por sua crise conjulgal de traição, o que cilmina com a fuga de Isabella (Cruz) para San Francisco. Lá chegando, tenta um emprego de cozinheira, sabendo de seu dom para a cozinha. Toninho (Benicio) vai então à sua procura, o que gera inúmeras situações desconcertantes para todos.
Uma comédia romântica inteligente e adocicada. Recheadíssima de Brasil por todo o filme. Pela primeira vez no cinema, eu vi um filme que falasse sobre o Brasil sem exageros ou gafes fenomenais. Vê-se a comida, o violão, o gingado e a sensualidade romântica brasileira. Pena a atriz não ser realmente brasileira e a língua original do filme ser inglês. Mas essa fusão com uma outra estrutura de filmagem ficou realmente bem feita e sensata. Parabéns a todos e ao nosso ator Murilo Benicio, que está muito bem no trabalho.
Dois anos foram gastos na procura pela trilha sonora, que inclui Paulinho Moska, Lenine, Alceu Valença, entre outros. Um violão bossa nova brasileiríssimo e da mais fina qualidade.
Além disso, o filme consegue mostrar o brasileiro típico na terra do tio Sam. Fala sobre umbanda, muita pimenta e o calor sensual que o brasileiro inspira. As cenas românticas protagonizadas pelo casal, usando pimenta e óleo de dendê, são bastante saborosas. Não deixe de ver com seu parceiro.
MAURÍCIO SALLES

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