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Revista PSYU Nº6 – Coluna PROFISSÃO – Novembro/2000

Sobre Parafilias e Perversões

Sobre Parafilias e Perversões

Hoje em dia os psicólogos, cada vez mais, têm tido de lidar com questões relacionadas à sexualidade e apesar de nossas crenças de sabermos o que é certo ou errado, aqui todas as fronteiras se tornam sutis. Assim, torna-se importante a compreensão sobre os transtornos de preferência sexual envolvidos.

Os autores e os manuais de classificação médica divergem em alguns tópicos na caracterização diagnóstica desses transtornos.

Em linhas gerais, podemos dizer que as parafilias ou transtornos de preferência sexual são distúrbios diretamente relacionados à “escolha” do objeto sexual. O termo escolha está em aspas porque até hoje, apesar de toda contribuição da psicanálise e da biologia, não podemos dizer que a definição de um objeto sexual é totalmente inconsciente, determinada socialmente, ou tem sua abordagem biológica. O que podemos e devemos afirmar é que esta “escolha” é involuntária.

Na definição do objeto sexual, a pessoa acaba fixando-se ou num determinado comportamento ou fantasia relacionado com qualquer outra coisa que não um outro ser humano adulto – ou adulto jovem -, inteiro e voluntariamente disponível para o ato sexual.

Difícil, não? Não muito, se pensarmos que fantasias sexuais todos temos, mas elas ocupam uma pequena parte de nossas atividades sexuais, e nos preparam para o ato sexual em si.

Nas parafilias, o ato sexual em si perde a importância tanto para o objeto, quanto para a fantasia.

Segundo autores americanos, só a fantasia duradoura (mais de seis meses) basta para o diagnóstico, não sendo necessário o comportamento – a ação propriamente dita. Só fantasiar de vez em quando, ou usar recursos fantasiosos com a finalidade de incrementar uma relação sexual, não faz de ninguém um parafílico.

Esta característica deve também causar sofrimento psíquico ao indivíduo, para que possamos chamá-lo de parafílico. Um dado importante, mas que deve-se tomar cuidado com interpretações feministas, é que a quase totalidade das parafilias se dá em homens, muitas vezes heterossexuais.

Tão longa é a lista das possíveis parafilias, quanto a imaginação humana. Aqui, busca-se caracterizar os comportamentos ou fantasias duradouras:
Fetichismo: Uso, ou fantasias de uso, de objetos inanimados com a finalidade de estímulo para a realização sexual; muitas vezes os objetos são extensões do corpo humano, como por exemplo, meias ou luvas.
Exibicionismo: Exposição da genitália a estranhos, com o intuito de chocar. Geralmente é um homem heterossexual, muitas vezes casado e com uma vida sexual ativa.
Pedofilia: Preferência sexual por crianças pré-puberes ou no início da puberdade. Alguns autores estabelecem uma idade máxima de treze anos para a caracterização de pedofilia. O interesse pode ser por meninas, meninos, ou ambos. Se o comportamento é estabelecido por outra criança, ou um adolescente, deve-se tomar muito cuidado para estabelecer esse diagnóstico, pois pode-se tratar de um acontecimento isolado. As vezes esse quadro também pode ser caracterizado como incestuoso.
Sadomasoquismo: Alguns autores dividem em quadros separados, sadismo e masoquismo, outros não. Envolve submissão e/ou inflição de dor, humilhação ou sofrimento. O sufocamento como forma de aumentar o prazer pode ser incluído como um comportamento sadomasoquista.
Travestismo Fetichista: Uso de roupas do sexo oposto para obtenção de prazer sexual. Geralmente é um homem heterossexual, que após a masturbação ou ato sexual, desvencilha-se das roupas. Não deve ser confundido com o que popularmente chamamos de travesti, que é um homossexual que se veste de mulher com o intuito de atrair outros homens. Nem deve ser confundido, também, com transexual.
Voyeurismo: Ato de observar, sem a anuência ou consentimento, uma pessoa despir-se, ou em atividade sexual. Geralmente é acompanhada de masturbação. Atitudes esparsas de voyeurismo na adolescência é comum e não deve ser considerado anormal. O uso de filmes ou revistas pornográficas para a excitação sexual, também não deve ser considerado patológico ou voyeur, tendo em vista que são confeccionados para esta finalidade.

Além destas, muitas outras são possíveis, mas com menor freqüência:
Zoofilia: atração por animais,
Necrofilia: atração por cadáveres,
Frotteurismo: tocar ou esfregar-se em uma pessoa sem o seu consentimento, e outras.

Muitas vezes, as alterações de preferência se associam, transformando-se em múltiplas. Por exemplo, um sadomasoquismo com fetichismo, uma pedofilia com voyeurismo, etc..

Os parafílicos sofrem não só psiquicamente, mas também socialmente, pois em nossa sociedade, estes comportamentos são de difícil aceitação.

Tratamentos existem, mas ainda têm efeitos parciais e dependendo do tipo de parafilia, quase nenhum.

Em alguns países os parafílicos tentam se associar em grupos, tentando legalizar-se como minorias, a exemplo do que aconteceu com os homossexuais – considerados como doentes durante décadas.

Outro fenômeno interessante é o uso da internet como veículo de fantasias parafílicas, ou como canal de comunicação para encontros, ou como troca de informações.

A veiculação de fotos ou filmes, via internet, envolvendo crianças e portanto se referindo a pedofilia, é alvo de críticas e sensura em vários países.

De qualquer forma, o parafílico ainda é considerado um doente, que merece tratamento médico, desde que busque ajuda para o seu sofrimento.
ALEXANDRE SAADEH, PROFESSOR DE PSICOPATOLOGIA NA FACULDADE DE PSICOLOGIA DA PUC-SP, PSIQUIATRA, PSICODRAMATISTA, MESTRE EM PSIQUIATRIA PELA USP, MÉDICO ASSISTENTE DO INST. PSIQUIATRIA – HC/FMUSP E MEMBRO DO PROSEX (PROJETO SEXUALIDADE DO IPq – HC/FMUSP)

Fonte: www.saudetotal.com.br

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