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Revista PSYU Nº7 – Coluna ABERTA (1) – Maio/2001

Carta a um jovem calouro
Carta a um jovem calouro
Meu caro amigo:

Fiquei muito feliz com a notícia da sua entrada na universidade. Então agora você vai cursar Psicologia? Que coisa boa, parabéns!

Acredito que nunca lhe disse isso antes, mas eu estou cursando o quinto ano de Psicologia. Não que isso fosse um segredo, mas talvez não tivéssemos intimidade suficiente para falar a esse respeito. De qualquer maneira, o que importa é pensarmos nos nossos momentos, tão próximos e ao mesmo tempo tão distantes um do outro: enquanto você se depara com as novidades de atividades, sentimentos, perspectivas na entrada da faculdade, eu as encaro na saída.

Eu me lembro da minha primeira semana de aula. Provavelmente, você passou por algo parecido. No meu caso, tive de usar uma camiseta de cor diferente a cada dia da semana, fui pintada. Uns caras da FEA queriam cortar minhas unhas porque não podiam cortar meu cabelo… Aí, no segundo ano, agente faz com gosto o que fizeram conosco, porém de maneira mais humana que veteranos de outras faculdades, né?

Mas o trote é só o começo da aventura, que vai ficando cada vez mais interessante ao longo dos anos. A gente conhece outros mundos. Tem o mundo da universidade; o mundo do sexo-oposto-na-faculdade; o mundo do Freud, do Sartre, do Skinner, da genética, dos componentes cerebrais; tem ainda o mundo dos novos outros e, além de muitos outros mundos, o que eu acho mais fascinante de todos: o mundo do novo eu. Esse é o melhor de ser vivido, observado, dissecado, estudado. E é também o único que une todos os outros mundos dos quais começamos a tomar conhecimento ao estudar Psicologia. Você verá, cedo ou tarde, que entrar na faculdade foi como passar por um portal para outras dimensões. A psicologia é ao mesmo tempo passaporte, passagem e viagem, de uma certa maneira. Claro que há outros portais por aí, mas esse é absolutamente especial e específico. Você entrou de uma forma e jeito em 2001 e sairá, sem sombra de dúvida, ao menos parcialmente mudado em 2006.

Estou a quatro anos na PUC e vi muitas coisas acontecerem. Mudamos de século e milênio, farei parte da primeira turma de formandos do século XXI. Muitas vezes, tive a sensação de que tudo que vivera antes era irreal ou inverdade (sinceridade? Tenho esta sensação o tempo todo!). Acredito que nunca mais olharei para um fósforo da maneira como fazia antes de ingressar na faculdade. As mudanças, ao menos para mim, foram radicais. Se eu pudesse lhe dar um presente ou desejar algo para o seu bem, esperaria que, no seu ano de formatura, você pudesse dizer o mesmo.

Há maneiras e maneiras de se viver o curso de Psicologia, de se vivenciar cada um desses mundos aos quais ela dá passagem. Creio que procurar vivê-la ao máximo, experimentando com atenção e devagarinho momentos ou oportunidades que o curso lhe proporcionar, é uma atitude bastante saudável. Não entre na primeira porta que encontrar e se sente, dizendo que “finalmente achei meu lugar”. Não que isso seja errado, apenas possivelmente o impedirá de se sentir a vontade para abrir portas que o levarão a lugares completamente diferentes. Você verá que a escolha de um “assento teórico” na Psicologia, as vezes parecerá a saída para a angústia diante de tamanha diversidade. Sabe o que é o melhor a fazer? Se deixe levar pela maré, vá sentindo com outras partes do corpo além do cérebro o que lhe parece fazer mais sentido e seja gentil com você mesmo.

E não se esqueça de ser paciente: uma hora ou outra, as coisas tomam sentido, se encaixando. É aí que esses mundos fantásticos tornam-se unificados e nós, da mesma maneira, mais integrados. Esse é o momento mais lindo de toda essa viagem, a aventura de conhecer, descobrir, seja a nós mesmos, seja o universo ao nosso redor.

Pensou que tivesse simplesmente entrado na faculdade? Querido, é por essas e outras que eu nunca havia lhe dito isso antes…

Boa sorte nessa façanha!!!
JULIANA IGLÉSIAS

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