RedePsi - Psicologia

Notícias

Revista PSYU Nº8 – Coluna FALO (Política) – Junho/2001

Somos loucos por

Paredes. Um silêncio de gritos e ruídos. Uma escuridão de futuro e uma sombra de passado. Presos, com dor e pela dor, são privados de todos os direitos. Inúmeras pessoas estão internadas em manicômios espalhados por todo o país. Depósitos construídos para milhares esquecerem e para poucos ganharem muito dinheiro. Evidência da mais alta hipocrisia de profissionais de saúde que alimentam esse jogo com a sociedade. Mas não de todos.

Há tempos que o Movimento da Luta Antimanicomial, formado por psicólogos, usuários e ex-usuários de serviços de saúde mental, simpatizantes, médicos, assistentes sociais, entre outros, vêm avançando para o fim dos manicômios no Brasil. Dia 27 de março, o substitutivo do projeto de Lei que dispõe sobre a extinção progressiva dos manicômios e sua substituição por outros recursos assistenciais foi aprovado. A nova lei é uma versão mais branda da proposta do Deputado Paulo Delgado (PT), mas avaliada por ele mesmo, como uma grande vitória.

Estamos acostumados a pensar que as coisas sempre podem mudar, mas para pior. Mesmo sem paredes, vivemos trancados nessa idéia, no imobilismo e no derrotismo. Até noticiar vitórias parece piegas e exagerado. Estamos acostumados a analisar a conjuntura criticamente e perder as esperanças de transformá-la. Ora, que seja esse um exemplo de transformações penosas, ainda inacabadas, mas reais.

Num país onde se costuma dizer que existem leis que pegam e outras que não, a implantação desta preocupa. Porém, a lei só pode ser aprovada porque no cotidiano de muitas instituições existem pessoas trabalhando para construir formas efetivas de tratamento. Só pôde ser aprovada porque existe um Movimento organizado e incansável que leva à população questionamentos e pressiona as autoridades. Só pôde ser aprovada porque hoje essa idéia ganha a opinião pública e se traduz em arte (como no filme “Bicho de 7 Cabeças”). Foi através das revoluções cotidianas que se construiu o contexto dessa aprovação e é através de novas e pequenas revoluções no dia-a-dia de instituições de saúde mental de universidades e até de conversas em bares de estudantes de psicologia, que a lei poderá passar da verdade da caneta para a realidade de fato.
————————————————————–

Avaliação de um movimento

Esté é o segundo ano que o curso de Psicologia pretende ser avaliado pelo Provão. No ano passado, uma prova bastante questionável em conteúdo, forma e proposta, deixou embaraçado até o mais fervoroso defensor desse tipo de avaliação. O questionamento sobre a eficiência do exame e sua implicação política está presente em muitos cursos de Psicologia, porém poucos agem para modificar a situação. Mas existem excessões louváveis. É o caso dos alunos da USP-SP, USP-RP e UNESP-Bauru, que já começaram com ampla divulgação na mídia com a campanha pelo boicote ao Provão, por uma avaliação de verdade. A idéia é ser crítico com a avaliação, para um dia a avaliação ser crítica.

Na PUC-SP, a direção e a maioria dos alunos é contra o exame, mas não houve nenhum movimento de boicote ou protesto. Com a cômoda posição de (conceito) “A” no último resultado, os poucos que tentavam articular algum movimento perderam força. No Mackenzie a situação é ainda mais grave. A direção se declara contra o Provão, mas incluiu na grade do curso (5º ano) uma matéria de revisão para o exame. Esta decisão foi pautada no baixo conceito que recebeu na última avaliação.

Analisando com mais cuidado a situação, devemos considerar que os dois cursos têm algo em comum (que os difere daqueles onde há mobilização): eles não são públicos. Ser uma Universidade que vive com as mensalidades também contribui e muito, para o receio ao boicote e suas conseqüências no mercado de ensino superior. Em contrapartida, dentro das Universidades públicas há um crescente movimento contra esse tipo de avaliação. No caso das estaduais de São Paulo ele ganha força porque as universidades podem legalmente recorrer para não fazerem a prova. Mas acima de tudo é inegável que o nível de envolvimento político dos alunos destas faculdades hoje, não só com relação a esse assunto, tem se mostrado muito maior do que o da PUC-SP e do Mackenzie.

Cabe à articulação do Movimento Nacional (CONEP), do Movimento Regional (COREP-SP) e principalmente dos C.A.s e D.A.s dessas instituições, tentar reverter o processo de imobilismo dos estudantes.
ANA TERESA C. BONILHA

Acesso à Plataforma

Assine a nossa newsletter