POIESIS
Olhar não posso;
Espero.
Lembrar é tarde;
Respiro
O sol inflama os dias,
Não me admiro :
A noite é uma cicatriz.
O céu é provisório;
Procuro
Olhar não posso;
Escuro
Aquilo que me chama é eco
De um espelho estilhaçado,
Longe
Perto é o futuro.
GABRIEL SIQUEIRA
O limite que cabe um mundo
Na linha do cair
No quase abismal
No gozo intenso
Na beira
Espaço por todos os lados
Não há lugar
Só a ponta dos pés pisam o que existe
A intensidade da escolha
O risco
Suicídio ou salvação, sempre há morte
Nasço de um salto, perco os pés, ganho o céu
O tempo me acolhe num canto do grande
Acrobacias movem o tapete de terra estendido
Sob a corda bamba
A mão de um trapezista risca o ar
Não há rede, apenas dedos buscando toque
E um corpo, todo um corpo existindo
Com a gravidade dos dias.
MAYRA LINS
A Cascata
A casca ata em desatino
No ato de atar-se desata
Ata ao ato o desato
Desatando-se no ato que ata
Entorna a si e torna
A tornar-se
Um entorno de si
Que torna a emborcar
E transborda a borda
Que borda
Ao transbordar
Vem do vir
Volta ao ir
Reflui do influxo de sua revolta
E flui ressaída de si
Revulsionando os intestinos
Evoluindo rumo à origem
Retransida em si
Quando desmesurada
De si mesma escapa
JOÃO PAIVA
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Claquete
Pearl Harbor – Efeitos especiais sensacionais envolvidos por um romance ao estilo bonitinho sofre por deixar a bonitinha, é a forma de contar o ataque japonês a Pearl Harbor, estratégica localização de uma frota americana, em 1941, incluindo os EUA e o Japão na 2ª Guerra Mundial.
Os produtores – os mesmos de Armageddon (inclusive Ben Affleck também está lá, com uma parceira muito parecida com Liv Tyler) – são mestres na arte digital e numa reprodução fiel dos veículos, figurinos da época e as trágicas batalhas.
Em muitos momentos, se você sentir semelhança com O Resgate do Soldado Ryan ou mesmo com Titanic, não será mera coincidência. Um filme belíssimo, falta apenas aquela mensagem principal da obra. Para um sábado a noite.
Pearl Harbor, EUA, 2000. Dir.: Michael Bay. Com Ben Affleck, Josh Hartnett, Kate Beckinsale, Cuba Goodwin Jr., Alec Baldwin, Jon Voight. 180 min.
MAURÍCIO SALLES
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Sapientia
Toda obra que faça referência ao corpo e ao sexo costuma causar polêmica. Falar do tema do corpo, sexo e espiritualidade produz ainda mais interesse e polêmica. Há um livro em que Osho trata do Tantra, uma proposta oriental que aponta principalmente o sexo como caminho para elevação espiritual.
Chama atenção como o Tantra lida com o sexo e o corpo: propõe que se conheça o corpo e o sexo, início de um processo de auto-conhecimento que leva ao conhecimento do Cosmos, além de também questionar o modo como o sexo e o corpo têm sido entendidos e vividos nas diversas sociedades. Cita autores como Freud, Jung e Reich e fala de orgasmo fugindo do tom de “sacanagem” acerca desse assunto, tão facilmente encontrado no imaginário a respeito de qualquer questão que aborde o tema da sexualidade.
Leitura indispensável para se conhecer uma diferente maneira de conceber a sexualidade e uma possível relação entre sexo e espiritualidade, cuja aproximação é dificultada por conta das peculiaridades social-religiosas da cultura em que vivemos.
OSHO. Tantra: Espiritualidade e Sexo. Ed. Masdras, São Paulo, 2ª edição.
JULIANA IGLÉSIAS
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Dissonâncias
Forró universitário? tudo bem, mas você já ouviu um tal de Sivuca? Muitos o confundem com Hermeto Pascoal: ambos são nordestinos, albinos, são ótimos instrumentistas e fazem mais sucesso no exterior do que aqui. Acontece que Sivuca não é Hermeto; e ainda bem, pois assim temos duas feras ao alcance de nossos ouvidos.
Sivuca toca como poucos, improvisando melodias incríveis sobre baiões, xotes, forrós e chorinhos. Seus discos não são muito fáceis de achar, mas qualquer boa seção de música instrumental brasileira deve ter ao menos um de seus CDs. Nele é possível encontrar esses ritmos que fazem sucesso agora, tocados de maneira vigorosa.
Dance com Falamansa e outros, mas antes carregue as pilhas com esse sanfoneiro. Sivuca faz arrasta-pé para ouvir!
THIAGO RODRIGUES