O autor faz uma análise do processo coletivo Movimento de Luta Contra o Desemprego, ocorrido nos anos de 1983 a 1985, sob referencial teórico de Tafjel e Turner, considerando-o como um fenômeno heterogêneo composto por sub-unidades. Chama a atenção sobre a crescente urbanização que tem tornado mais salie …
O autor faz uma análise do processo coletivo Movimento de Luta Contra o Desemprego, ocorrido nos anos de 1983 a 1985, sob referencial teórico de Tafjel e Turner, considerando-o como um fenômeno heterogêneo composto por sub-unidades. Chama a atenção sobre a crescente urbanização que tem tornado mais salie …
O autor faz uma análise do processo coletivo Movimento de Luta Contra o Desemprego, ocorrido nos anos de 1983 a 1985, sob referencial teórico de Tafjel e Turner, considerando-o como um fenômeno heterogêneo composto por sub-unidades. Chama a atenção sobre a crescente urbanização que tem tornado mais salientes antigos problemas não equacionados pelo avanço das ciências e tecnologias (pobreza, violência, desemprego) e da organização de grupos buscando melhores condições de vida e, a partir da década de 70, do surgimento dos Movimentos Sociais Urbanos ou Novos Movimentos Sociais.
A crise nacional da economia, surgida por volta de 1981 e agravada nos anos de 1983 e 1984, gerou o desemprego em massa, que caracterizou a exclusão do mercado de trabalho, de um grande número de trabalhadores que iniciaram os primeiros ensaios de organização dos desempregados realizando atos públicos, passeatas, saques contra estabelecimentos comerciais e depredações.
Estas manifestações foram atribuídas a um grupo de protesto denominado Movimento de Luta Contra o Desemprego, objeto de estudo do autor, cuja preocupação está direcionada na compreensão dessas manifestações quanto à organização dos desempregados e sobretudo, sobre as explicações que a Psicologia dispunha para esse tipo de fenômeno.
De acordo com a literatura psicológica, o autor verificou que o desemprego estava vinculado à condição de apatia e depressão do desempregado. Considera que o fenômeno poderia ser melhor configurado na categoria de Movimentos Sociais e Comportamento Coletivo, colocando a sua indignação da falta de interesse da literatura psicológica em relação aos Movimentos Sociais. Critica a Psicologia Social que prioriza os estudos enfatizando o comportamento entre indivíduos ignorando os processos de grupo e da sociedade como um todo.
Cita a análise de Tajfel sobre Movimentos Sociais que se fundamenta em alguns pressupostos da teoria da Identidade Social que objetiva demonstrar a distinção psicológica entre o comportamento interpessoal e intergrupal.
O grupo (Tuner e Giles, 1981), pode ser compreendido tanto como processo psicológico quanto produto social sendo que “o grupo psicológico se torna uma realidade social à medida que um número de indivíduos compartilha e, em circunstâncias relevantes, atuam, em termos de uma mesma identidade social”.
Os Movimentos Sociais evidenciados enquanto fenômeno de grupo necessita de uma análise que priorize a sua formação, características e relações, com uma visão diferente da tradicional (comportamento entre indivíduos do grupo), para uma perspectiva grupal do comportamento entre indivíduos.
Após a análise dos estudos sociológicos dos Movimentos Sociais fica evidenciada a dificuldade de se definir Movimentos Sociais ou de se fazer uma classificação entre as chamadas “ações populares” e observa-se que as denominações Movimentos Sociais, Movimentos Sociais Urbanos, Movimentos Populares Urbanos, Lutas Populares Urbanas, Mobilizações Populares, Manifestações Populares, têm sido utilizadas indiferentemente.
Segundo o autor, uma Psicologia Social voltada para o comportamento humano deve necessariamente considerar a heterogeneidade do ambiente social e a aquisição de identidade social, que define a posição que o indivíduo ocupa na sociedade, é resultante da filiação a diferentes grupos sociais.
De acordo com Tajfel (1981) Identidade Social compreende “aquela parte do autoconceito do indivíduo que se deriva do reconhecimento de filiação a um (ou vários) grupo social juntamente com o significado emocional e de valor ligado àquela filiação” (p.63)
Sendo a sociedade formada por diferentes grupos sociais cada filiação a um grupo específico contribuirá positiva ou negativamente para a formação da auto-imagem do indivíduo. A filiação grupal (Tajfel, 1981; Deschamps, 1984; Van Knippenberg, 1984) apresenta como resultante um processo cognitivo e emocional, sendo que o processo cognitivo implica no reconhecimento, feito pelo indivíduo, de que ele é parte de um conjunto de pessoas que se diferencia de outros conjuntos.
Estudos realizados por Reicher (1984), com base no modelo de identidade social, sobre a rebelião de St. Pauls ocorrida em Bristol (Inglaterra), demonstram que o comportamento coletivo pode ser modelado pela identidade social e que, inversamente, aquele pode modelar a identidade social. Dessa forma, o comportamento coletivo teria um papel importante no desenvolvimento da natureza das ideologias sociais e a ação coletiva representa uma interpretação criativa dessas identidades em uma nova situação.
Em seu vasto estudo sobre as teorias, por vezes contraditórias, sobre os Movimentos Sociais, sob enfoques alternativos da Sociologia ou da Psicologia, Del Prete enfatiza as dificuldades subjacentes à compreensão dos mesmos devido à falta de referencial amplo e integrado, sugerindo “a necessidade de uma abordagem psicossocial para os estudos nessa área, implicando numa tarefa e num desafio de integrar a análise da estrutura e dinâmica internas do movimento à análise de suas relações, enquanto sujeito coletivo, com o contexto social do qual pode ser dialeticamente, agente e paciente”.
Autor da Opinião: AlaideDeganideCanton
Link Relacionado: Centro de Estudos e Pesquisas em Psicologia Saúde