Palavras-chave: epistemologia moderada, pluralidade do conhecimento, epistemologia do comportamentalismo radical.
A falta de unidade da psicologia freqüentemente inquieta o estudioso dessa disciplina – especialmente o mais jovem. Inquietam-se os estudantes. A pluralidade da disciplina não é vista como sinal de vigor, mas de fraqueza. Atormentamo-nos com esta indagação: É possível demarcar uma episteme psicológica da doxa, é possível demarcar um conhecimento psicológico verdadeiro da opinião infundada, da crença ingênua?
Trata-se, pois, de saber preliminarmente o que é ciência. Devemos dirigir aos filósofos da ciência esta pergunta: O que é ciência? A resposta é surpreendente: as representações da ciência são tantas e tão variadas que nos defrontamos agora com uma segunda pluralidade, a pluralidade da própria idéia de ciência. Mais surpreendente talvez seja verificar que as psicologias são arredias às representações antigas e recentes da ciência – ruiu até mesmo a representação científica do comportamentalismo em termos do positivismo lógico depois da memorável análise feita, em 1986, por Lawrence Smith no seu livro Comportamentalismo e positivismo lógico: uma reavaliação da aliança. Diante desse quadro, talvez seja melhor adotar uma estratégia de investigação epistemológica moderada. Quer dizer, se for tomada em seu sentido forte, se for identificada com teoria do conhecimento científico, a epistemologia não representa uma estratégia de pesquisa produtiva para a psicologia.
Tomada em seu sentido fraco, epistemologia da psicologia refere-se à investigação do estatuto epistemológico próprio de qualquer psicologia. Desse modo a psicologia reencontra-se com a filosofia. Mais produtivo esse encontro, pois, revelado o texto filosófico, esclarece-se em que sentido o texto psicológico é, ao fim e ao cabo, texto filosófico. Dessa perspectiva elucida-se a pluralidade do texto psicológico no horizonte do texto filosófico e compreende-se que tal pluralidade é parte integrante da natureza da psicologia. Quer dizer, a unidade dessa disciplina – se houver – não pode ser concebida no ponto de partida, mas somente no ponto de chegada. E ainda assim em traços muito gerais, por exemplo, na idéia de que a psicologia é uma disciplina que estuda o comportamento, como quiseram, não somente B. F. Skinner e outros comportamentalistas, mas também Kurt Koffka, Wolfgang Köhler, Jean Piaget, Lev Vygotsky. A guisa de conclusão, e para demonstrar a tese da epistemologia fraca, examinaremos a noção de conhecimento no comportamentalismo radical.
autor: José Antônio Damásio Abib (Universidade Federal de São Carlos, SP)