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O que aconteceu com o Behaviorismo?

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  Por Henry L. (Roddy) Roediger

Presidente da American Psychological Society

Tradução para o português: Roosevelt R. Starling. FUNREY, MG.

 

O ano de 2004 marca o centenário do nascimento de B. F. Skinner. Penso que a maioria dos membros da American Psychological Society – APS (e mesmo uma menor proporção de todos os psicólogos) não irá dar muita atenção a este fato. Afinal, o behaviorismo não saiu de cena? Não vivemos nós na idade da revolução cognitiva, que ainda mantém o seu ímpeto e domina a maioria das subáreas da psicologia? Não é verdade que o campo da psicologia do aprendizado animal, o terreno de nascença do behaviorismo, pertence à década de 1950, da mesma época da televisão Preto & Branco, de três canais de televisão, de antenas nas casas? Muitos leitores da APS irão provavelmente responder sim para todas estas três questões. Se for esta resposta correta – e como vocês verão, eu não penso necessariamente assim – podemos então perguntar o que aconteceu.

Vamos voltar a cem anos atrás, quando a psicologia era uma nova área de conhecimento. Os primeiros laboratórios datam de 1879, ou próximo desta data (abstenhamo-nos de reabrir esta controvérsia) e, em 1904, ano do nascimento de Skinner, a psicologia lutava para emergir como uma ciência. Entretanto, os métodos era variados e os artigos nas revistas especializadas daquela época freqüentemente detinham-se longamente na observação e na especulação. Experimentações cuidadosas eram raras, senão de todo ausentes. Alguns artigos até mesmo bordejavam confusas tolices. Em Saint Louis, lugar de onde estou escrevendo, havia em 1904 uma famosa Feira Mundial e uma assembléia de muitos dos sábios daqueles tempos, incluindo psicólogos, reuniu-se com o propósito de proferir uma série de palestras sobre o estado-da-arte dos seus campos de estudos e, é claro, apresentá-los sob a luz mais favorável possível. Um exame das suas conferências, registros das quais foram preservados para a posteridade, permitem uma sinopse do estado-da-arte há 100 anos atrás.

Num próximo artigo, discutirei estas contribuições.

Em 1913, nove anos após o nascimento de Skinner, John B. Watson publicou o seu famoso artigo “Psychology from the stand point of a Behaviorist” [Psicologia do ponto de vista de um Behaviorista] na Psychological Review. Ele era breve, mas poderoso. Watson dizia que a psicologia deveria livrar-se do estudo introspectivo de eventos mentais que não eram diretamente observáveis – imagética, memória, consciência e etc. – e estudar o comportamento. Watson subscrevia a declaração de Walter Pillsbury de que “a psicologia é a ciência do comportamento” e ia além ao dizer que “Acredito que podemos produzir uma psicologia, defini-la como o fez Pillsbury e nunca recuarmos desta definição: nunca usarmos os termos consciência, estados mentais, mente, conteúdos introspectivamente verificáveis, imagética e assemelhados” (1913, p. 116). Osso duro de engolir! Estudar somente o comportamento! Psicólogos da velha-guarda provavelmente julgaram Watson meio maluco, mas os jovens psicólogos acorreram a ele em bandos e, ao longo dos anos, sua posição continuou a atrair adeptos convictos.

Se a psicologia era a ciência do comportamento, então as suas metas seriam, como diria Skinner anos depois, a predição e o controle do comportamento. Controle do comportamento! Fascinante!

O behaviorismo pretendia fazer da psicologia uma ciência natural. Durante os anos nos quais as idéias behavioristas estavam evoluindo, elas estavam em harmonia com a posição filosófica do positivismo, defendida pela física e outros campos. Os conceitos deveriam ser definidos pelas operações utilizadas para a sua mensuração, a fim de manter a ciência solidamente fundada em dados observáveis e para eliminar ilusórios vôos especulativos.

As décadas que se seguiram mostraram um behaviorismo em ascendência e os laboratórios de aprendizagem animal eram os estudos “quentes”; o rato branco e o pombo os organismos de eleição (com o pressuposto de que todos os organismos e todos os comportamentos obedeciam a leis semelhantes). Edgar Chace Tolman defendia a metodologia do behaviorismo e contribuía com trabalhos importantes. Alguns dos seus conceitos (aprendizagem latente, mapas cognitivos) ainda se podem ver hoje em dia, mesmo na literatura cognitivista. Os livros de Pavlov foram traduzidos na década de 1920 e nos últimos anos desta década e no início da década dos 30, Clark Hull iniciou a sua importante série de artigos na Psychological Review. O aluno mais famoso de Hull, Kenneth Spence, também iniciou seu relevante trabalho nos anos 30. Edwin Guthrie publicou as sua idéias sobre o papel da contigüidade na aprendizagem e a noção do aprendizado em tentativa única. Em 1938, B.F. Skinner publicou “O comportamento dos Organismos” e lançou o seu modelo operante, o qual se tornou a posição behaviorista de maior destaque e que, para muitos, parece ser a que ainda hoje representa o behaviorismo. Uma das minhas disciplinas favoritas na graduação era a Psicologia da Aprendizagem, ministrada pelo meu mentor David G. Elmes, com base em um livro de James Deese e Stuart Hulse, da John Hopkins University, o qual tinha este mesmo título.

Pois bem. Voltando ao behaviorismo, vejamos a caricatura da história da psicologia na qual parecem acreditar muitos dos psicólogos cognitivistas (o que é dizer, a maioria dos psicólogos, nos dias atuais). Nesta visão caricata, a Historia da Psicologia é alguma coisa equivalente à História da Civilização Ocidental e diz assim: os primeiros psicólogos, tais como Willian James, tinham grandes idéias e especulações e os psicólogos estudavam da melhor maneira possível fenômenos cognitivos, tais como imagética; James e seus colegas corresponderiam aos antigos Atenienses, talvez Sócrates, Platão e Aristóteles. Contudo, mais tarde, e devido a Watson, Skinner e outros da sua laia, a Idade das Trevas cobriu o mundo: a ortodoxia religiosa do Behaviorismo cobriu a terra e sufocou as concepções criativas sobre os fenômenos cognitivos e outros temas. Finalmente, a Renascença aconteceu no início dos anos 50, quando o trabalho experimental de George Miller, Donald Broadbent, Wendell Garner e outros, como também os escritos de Noam Chomsky, conduziram a psicologia para fora da idade negra e em direção à luz da revolução cognitiva. O movimento ganhou impulso nos anos 60 e, em 1967, o grande livro Psicologia Cognitiva, de Ulric Neisser, ao mesmo tempo deu nome ao novo campo de estudos e, com competência, resumiu seu conteúdo. O behaviorismo ainda vivia, durante os anos 60 e início dos anos 70, assim reza a estória, mas vistos os fatos a luz da atualidade, somente como um movimento intelectual de retaguarda, que estava em seus últimos suspiros de popularidade. Por volta da década de 1990, o domínio das abordagens cognitivas em quase todas as áreas da psicologia (até mesmo no aprendizado animal!) era quase completo. Para se ter uma medida disto, verifique-se: nos anúncios publicados na American Psychological Society Observer, com que freqüência se vê os termos cognitivo ou neurociência cognitiva em um anúncio relativo a behaviorismo ou a aprendizagem animal?

Assim, voltando a minha questão original: o que aconteceu com o behaviorismo? Neste ponto, tenho algumas possíveis respostas. Deixarei para pessoas mais esclarecidas do que eu o encargo de ponderá-las e decidir se a resposta final poderia ser alguma combinação das alternativas que ofereço ou mesmo nenhuma delas.

Uma possibilidade é a de que o declínio do behaviorismo representou o advento de uma revolução intelectual e jovens cientistas, tal qual os jovens de todos os tempos, apreciam o inebriante fervor de uma revolução. Assim, tendo estado o behaviorismo em ascendência durante tanto tempo na psicologia, de maneira especial e principalmente na psicologia americana, os tempos estavam maduros para uma revolução intelectual. As análises dos primeiros psicólogos cognitivistas (Broadbent, Miller, Garner e outros) eram rigorosas, provocativas e abriam novas paisagens intelectuais. Muitos dos problemas que estavam de certa forma fora do interesse das análises comportamentalistas – percepção, atenção, lembranças, imaginação, pensamentos – eram abordadas de uma maneira completamente nova. De acordo com esta narrativa, nada “aconteceu” ao behaviorismo; nem mesmo foi demonstrado que ele estivesse por qualquer forma “errado”. Ao invés disso, a abordagem cognitiva simplesmente gerou adeptos às expensas da ordem estabelecida, abriu novas técnicas e métodos de estudo e criou uma excitação que atraiu os estudantes de graduação, fazendo-os deixar os laboratórios animais. (Alguns tipos de análise cognitiva que pareciam tão espetaculares nos anos 60 mostram-se bem gastas atualmente. Por exemplo, os modelos metafóricos e os diagramas de caixa e setas, tão populares então, parecem extravagantes, quando comparados ao mapeamento que faz a neurociência cognitiva dos circuitos cerebrais subjacentes ao desempenho cognitivo). Resumidamente, as análises cognitivistas galvanizaram e entusiasmaram o clima da época como sendo mais excitantes e interessantes para a abertura de novas áreas de estudo.

Uma segunda razão possível é que, na década de 70, as análises behavioristas estavam se tornando por demais microscópicas. Como ocorre na maioria dos campos de estudo durante o seu desenvolvimento, os pesquisadores começaram a estudar cada vez mais e mais sobre cada vez menos e menos. Ao invés de manter o foco nos problemas centrais, críticos, os pesquisadores behavioristas voltaram a sua atenção para problemas cada vez mais sutis (isto é, cada vez mais insignificantes), acarretando um aumento da complexidade das análises experimentais em total desproporção com os ganhos em conhecimento que elas proporcionavam. (É digno de nota o fato de que muitas das grandes e fundamentais descobertas na maioria dos campos de estudo são freqüentemente simples, diretas e básicas, de tal maneira que outros se perguntam: “Por que eu não pensei nisto antes?”). O número de parâmetros e epiciclos no modelo Hull-Spence explodiram. Examinem o enfadonho “Schedules of Reinforcement” de Ferster e Skinner, publicado em 1959, comparado às formulações bem mais diretas escritas por Skinner em seu “The Behavior of Organisms”, publicado em 1938. Nesta versão da história, havia algo errado com o Behaviorismo nos anos 70 e 80: ele ficou muito focalizado em problemas específicos e perdeu de vista o quadro maior.

Uma outra maneira pela qual o behaviorismo se perdeu é que muitos psicólogos (de maneira especial psicólogos cognitivistas) não focalizam a história de aprendizagem dos organismos. Como me escreveu John Wixted, ao comentar este artigo, “os pesquisadores se esqueceram de explicar porque nós nos comportamos como nos comportamos. Muito daquilo que fazemos é função de conseqüências anteriores de nossas ações e nós aprendemos a partir destas conseqüências. Modelos cognitivistas freqüentemente são substitutos desta história de aprendizado (eles se referem a um computador mágico na nossa cabeça sem considerar o que explicaria as habilidades computacionais deste computador…). Dessa maneira, na medida em que a psicologia cognitivista e a neurociência cognitiva não se interessam pela história de aprendizagem dos seus sujeitos – e, na sua maior parte, elas não se interessam – o behaviorismo perdeu.”

Uma terceira resposta é a de que não há nada de errado com o behaviorismo atual, obrigado por perguntar. A premissa inicial deste artigo está simplesmente errada. O Behaviorismo está vivo, passa bem e nada “aconteceu” a ele. O Journal of the Experimental Analysis of Behavior – agora editado pelo meu colega Len Green – continua sendo uma vitrina viva disto, como também o é o Journal of Applied Behavior Analysis. Estas duas revistas são publicadas pela Society for the Experimental Analysis of Behavior, que permanece forte e sadia desde 1957. O principal congresso dos behavioristas é o da Association for Behavior Analysis, ou ABA, que teve mais de 4 200 participantes em 2003 e que, no seu congresso de 2002, registrava 3 200 participantes. Incluindo as organizações afiliadas em todo o planeta, ela tem em torno de 12 000 associados (comunicação pessoal de Jack Marr). Ao longo dos anos, a ABA tem mostrado um crescimento espantoso e ainda atrai 250 novos membros a cada ano, somente nos Estados Unidos. Na Society for the Quantitive Analysis of Behavior, que realiza seu encontro antes e durante o congresso da ABA com seus próprios critérios matematicamente sofisticados de afiliação, muito dos trabalhos apresentados estão baseados em pesquisas com humanos (e não somente com pombos e ratos, conforme uma visão estereotipada sugeriria).

Por que este entusiasmo todo? Porque as análises comportamentais funcionam! Sabemos agora como aliviar ou eliminar fobias através de terapias baseadas em processos de extinção; conhecemos o poder de uma economia simbólica para ajustar o comportamento em hospitais psiquiátricos; podemos reduzir a probabilidade de comportamentos problemáticos e aumentar a probabilidade de comportamentos desejáveis através da oferta ou retirada judiciosa de reforçadores. Mesmo para problemas estudados por psicólogos de orientação cognitivista, terapias comportamentais são o tratamento de escolha. As técnicas comportamentais de Lovaas para crianças com autismo são as que proporcionam as maiores esperanças, e, para dizer a verdade, até a presente data a única esperança (está tudo bem com debates sobre a Teoria da Mente no autismo, mas não se o que você deseja é terapia e tratamento; neste caso, procure o behaviorismo). De igual maneira, por mais interessantes que possam ser as análises psicolingüísticas para a gagueira e afasias, os tratamentos vêm majoritariamente dos laboratórios comportamentais. No ramo de neurobiologia da aprendizagem o modelo central é o do condicionamento clássico e o principal modelo teórico é o de Rescorla-Wagner. Análises comportamentais existem também para programas de auto-desenvolvimento, na indústria (Organizational Behavior Management), nos esportes, na educação de filhos e, é claro, no treinamento de animais de estimação e de zoológicos. Em qualquer situação na qual a predição e o controle do comportamento aberto seja importante, encontrar-se-ão análises comportamentais funcionando. Em suma, esta resposta afirma que o behaviorismo continua vivo e florescente, embora talvez não tanto em voga na profissão como esteve antes.

Uma outra formulação para a resposta anterior (devida a Endel Tulving) é a de que existem várias ciências psicológicas igualmente válidas. Num comentário enviado sobre um rascunho deste artigo ele diz que “Está bastante claro em 2004 que o termo “psicologia” agora designa pelo menos duas ciências bastante diferentes: uma do comportamento e outra da mente. Assim como outras ciências do comportamento, ambas lidam com criaturas vivas, mas a sua interseção é fraca, provavelmente não maior do que a que existia entre a psicologia e sociologia quando as coisas começavam. Ninguém jamais conseguirá juntar novamente estas duas psicologias, porque o seu objeto de estudo é diferente, seus interesses são diferentes e o entendimento do tipo de ciência com o qual elas trabalham é diferente. Por demais esclarecedor é o fato de que estas duas espécies se movimentaram para ocupar diferentes territórios, não dialogam uma com a outra (não mais) e seus membros não se associam. Este estado das coisas está exatamente do jeito que deve ser.”

Talvez a resposta mais radical que eu ofereço é que o behaviorismo é menos discutido e debatido hoje em dia porque, na verdade, ele venceu o debate intelectual. Num sentido muito real, todos os psicólogos contemporâneos – pelo menos aqueles que conduzem pesquisas empíricas – são behavioristas. Mesmo os experimentalistas de máxima orientação cognitiva estão estudando algum tipo de comportamento. Eles podem estar estudando os efeitos de variáveis relacionadas com o apertar de teclas de computadores, de preencher checklists, de completar avaliações de confiabilidade, de padrões de fluxo sanguíneo ou de lembrar palavras escrevendo-as em folhas de papel, mas eles estão estudando, na maioria absoluta das vezes, comportamentos objetivamente verificáveis. (Até mesmo experiências subjetivas, tais como avaliações de confiabilidade, podem ser replicadas entre diferentes pessoas e em diferentes condições). Este passo, o de passar a estudar comportamentos objetivamente verificáveis, representa uma enorme mudança em relação ao trabalho que muitos psicólogos conduziam em 1904. Hoje em dia os campos da psicologia cognitiva e da neurociência cognitiva é altamente comportamental, se se incluem neles medidas neurais do comportamento. Verdade: necessariamente, não existe nada de intrinsecamente interessante em apertar teclas num computador, mas, por outro lado, as leis fundamentais do comportamento foram desenvolvidas com base em ratos pressionando barras e percorrendo labirintos ou pombos bicando discos, ações que não se poderiam considerar comportamentos por direito próprio. Em todas estas instâncias, é a esperança fundamental do cientista descobrir princípios interessantes a partir de análises experimentais simples e elegantes. O pesquisador cognitivista vai além e procura evidências que permitam uma convergência entre as observações comportamentais e o funcionamento interno dos sistemas mente/ cérebro. Mas enquanto experimentalistas, tanto o pesquisador cognitivista quanto o comportamentalista estuda o comportamento. O comportamento venceu.

Acredito que poderia prosseguir dando outras razões ou especulações, mas vamos deixá-las em cinco. Deixe-me explicar porque eu deixei fora desta lista uma explicação popular que li nos livros de história. Não é verdade que a revisão de Noam Chomsky sobre o Comportamento Verbal de Skinner reduziu a pó a análise comportamental e demonstrou que, no que diz respeito à linguagem, ela é falida? Li este debate por algumas vezes e, embora interessante, sempre me pareceu que os protagonistas estavam argumentando com propósitos desencontrados, a partir de diferentes paradigmas. Chomsky era e é um racionalista; no que diz respeito à linguagem, ele não vê utilidade em análises experimentais ou dados de qualquer natureza e até mesmo a psicolingüística experimental é de pouco interesse para ele. Meu palpite é o de que a revisão de Chomsky pode receber crédito como uma causa menor da revolução cognitiva. Para a grande maioria dos psicólogos, fundamentalmente empiristas na sua visão-de-mundo, foram os novos e importantes experimentos que pesquisadores conduziam em temas cognitivos que criaram a revolução cognitiva, e não a revisão de Chomsky sobre o livro de Skinner (aliás, refutada com bastante eficácia numa argumentação desenvolvida por Kenneth MacCorquodale).

É verdade que eu mesmo sou um psicólogo cognitivista, mas favoreço várias respostas. O Behaviorismo está vivo e a maior parte de nós é behaviorista. É possível que isto possa ser mais verdade no que me diz respeito do que no que concerne a muitos outros. Minha produção teórica é habitualmente de natureza bastante funcional. Alguns críticos reclamam que eu não tenho “teorias reais” ou que eu estou somente descrevendo mais uma vez os dados; alguns argumentam que minhas idéias são muito descritivas para serem testadas; não obstante, outros, desconsiderando as críticas acima, empenharam-se em testá-las e acharam que elas estavam empiricamente erradas (hmm…ambos os conjuntos de críticos não podem estar simultaneamente corretos, penso lá eu). Tendo sido parcialmente formado na tradição intelectual funcionalista de Johan McGeoch, Arthur Melton e Robert Crowder, é bem verdade que eu meu sinto mais confortável me mantendo perto dos dados e que, ao contrário do que fazem muitos dos meus colegas cognitivistas, eu me engaje em poucos vôos teóricos extravagantes.

Há poucos anos atrás, Robert Solso editou um volume intitulado Mind and Brain in the 21st Century (MIT Press) [A Mente e as Ciências do Cérebro no Século 21] para o qual eu escrevi um capítulo no qual faço previsões audaciosas para o futuro da psicologia cognitiva. Minha décima-primeira e última previsão é a de que uma poderosa forma de behaviorismo faria um retorno ao centro das tendências da psicologia. Isto não significa que eu acredite que o movimento por qualquer forma se esvaiu, ainda que pense que a revolução behaviorista tenha sido bem sucedida em sua maior parte e que as suas premissas centrais tenham sido incorporadas à psicologia. Afinal, mesmo o mais ardente behaviorista concordaria em que os grandes debates que turbilhonavam dentre e entre os behavioristas, já não ocorrem mais na corrente principal da literatura contemporânea. Como John Wixted apontou na citação acima, psicólogos cognitivistas tendem a ignorar a história da aprendizagem nas suas teorizações. Se começássemos a incorporar em nossas considerações a história da aprendizagem, o behaviorismo já estaria fazendo uma reentrada. Contudo, e ao mesmo tempo, está claro que muitos aspectos do behaviorismo jamais saíram de cena. Mais propriamente, muitos psicólogos simplesmente ignoram o bom trabalho de pesquisa que está sendo produzido na tradição behaviorista.

Permitam-me sugerir uma maneira pela qual vocês podem celebrar o centenário de Skinner e descobrir a elegância e o poder das análises comportamentais. Cuidem do seu aprimoramento e leiam o livro Ciência e Comportamento Humano, escrito por Skinner há 50 anos atrás, que ainda é publicado. O livro tinha o propósito de introduzir o behaviorismo e foi escrito com força e elegância. O Journal of the Experimental Analysis of Behavior publicou cinco artigos retrospectivos no seu exemplar de Novembro, 2003, intitulado “The Golden Anniversay of Skinner’s Science and Human Behavior”.

Leiam o livro e celebrem o poder das análises comportamentais, mesmo se – e principalmente se – você for um daqueles psicólogos cognitivistas que acreditam que o behaviorismo é irrelevante, obsoleto e/ou que está morto; ele não está


Nota do Autor: Len Green, Jack Marr, Jim Neely, Endel Tulving, Bem Willians e John Wixted ofereceram comentários que muito auxiliaram minha conceituação destes temas. Agradeço a permissão dos Drs. Tulving e Wixted para citar as mensagens que enviaram.

Nota do Tradutor: Este artigo foi publicado no American Psychological Society Observer (APS Observer, Volume 17, no. 3, março de 2004).O artigo pode ser encontrado no original em inglês em http://www.psychologicalscience.org/observer/getArticle.cfm?id=1540

Nota do editor: Tradução publicada com autorização da American Psychological Society APS; a publicação original não contém resumo no texto; o resumo acima é o apresentado no Sumário do Observer 
(uma espécie de anúncio sobre o tema central tratado no artigo).

Artigo publicado no Brasil pela Revista Brasileira de Análise do Comportamento no Volume 1, Número 1 em julho de 2004. http://www.ibac.com.br/rebac/

Visite http://seab.envmed.rochester.edu/jeab/toc/cur/jeabcurrent.shtml

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