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O Sagrado e o Profano



O Sagrado e o Profano

Estatueta Marajoara - Museu Paraense Emilio GoeldiO
Sagrado e o Profano

por Sheila
Duarte Pereira

e Hélida Portolani

Desde os tempos pré históricos
a humanidade tem transmitido e perpetuado seus conhecimentos, sua forma
de pensar, de sentir o mundo e a si mesmo, através de atos sagrados.
As informações que chegaram até nós através de desenhos, já nos põem
em contato com rituais sagrados. Os primeiros textos escritos ou tratavam
de listar propriedades e produtos comerciais ou de relatar crenças,
vivências religiosas e mitos de seus povos; mesmo as histórias de seus
governantes estavam marcadas pela visão mítica e buscavam a explicação
da origem e existência dos homens.

Estes fatos nos fazem pensar
que desde sempre a vida foi entendida através do sagrado. Tratou-se
de tentar responder as tradicionais, fundamentais e eternas questões:

De onde viemos? O que somos?
Porquê somos? Porque estamos aqui? Para onde vamos?

Em contato com as forças naturais
os homens encontraram a dualidade da existência, a transformação enquanto
princípio, a síntese como criação e como etapa de entendimento, a experimentação
enquanto forma e a representação enquanto expressão.

Na tentativa de penetrar estas
respostas criamos nossos mitos, estruturamos nossas religiões, fundamos
nossas seitas e nossas ciências e nos retratamos em nossa arte. Somente
através do entendimento de nossas criações podemos rastrear a nós próprios
e continuarmos na eterna busca das respostas tão perseguidas .

Circulo numérico cabalistico- KabaláPara
garantir a sobrevivência, nos organizamos em sociedade e os povos sempre
organizaram os espaços de vivência mística dentro de suas comunidades,
o que permitiu ao ser humano vivenciar socialmente de seu universo místico
interior e tratar de forma compartilhada suas problemáticas psíquicas
com o acolhimento necessário a sua sanidade.

A transcendência sobre universo
concreto, as transformações da vida e da psique de cada indivíduo eram,
nos primórdios da civilização, absorvidas como naturais pela sociedade
em sua cultura, ritualizadas e marcadas como momentos importantes nas
vidas das comunidades e das pessoas que incorporavam e integravam as
dificuldades individuais minimizando sofrimentos e desequilíbrios psíquicos.

O trato íntimo com os sofrimentos,
paixões e relações das pessoas nas comunidades, pôde criar a "compaixão"
enquanto prática, (paixão com, estar no lugar de) e enquanto conceito
de grande parte das religiões, chegando hoje a ser um valor humano.

A humanidade, apesar de ter
lidado melhor com as questões internas dos indivíduos nos estágios civilizatórios
de antanho, sempre produziu suas insanidades e os homens, atrás de formas
de buscar a cura, encontraram os mesmos que se detinham em encontrar
as respostas àquelas perguntas fundamentais.

Os Sacerdotes e Padres serviram
como psicólogos, as Bruxas, curadoras, os Xamâs, médicos, os Pais de
Santo foram sempre o apoio de sua comunidade.

Calendário AztecaEstas
personalidades, por vocação, função ou contingência, tiveram que penetrar
mais que ninguëm a alma humana, existindo ainda hoje grandes homens
que detendo conhecimentos e técnicas, as vezes bastante sofisticadas,
as utilizam no auxílio e cura de quem lhes procura. Bem se vê que a
psicologia e a religião sempre se cruzaram, grandes estudiosos do seculo
passado (1880/90) como Willian James, Starbuk, Stanley Hall para citar
alguns, tratavam do tema psicologia e religião com rigor cientifico
e suas pesquisas além de
contribuirem  para o desenvolvimento da psicanálise manêm sua atualidade
nos dias de hoje, tonando-se referencias importantes para aqueles que
querem compreender o fenomeno religioso na psique humana.

Não podemos esquecer, também,
que sempre existiram charlatões e agora às vésperas da passagem do milênio,
proliferam muitos pseudo-iluminados se colocando como curadores, sábios,
milagreiros, e outros, comercializando com a fragilidade humana. Este
crescimento, no entanto, faz parte da nossa sociedade atual que com
seu consumismo, padronização de comportamentos e massificação, assegura
cada vez menos os espaços adequados para a incorporação, do diferente,
do novo e para o acolhimento dos sofrimentos. A maioria dos cidadãos
das grandes Urbes, têm pouco ou nenhum espaço para sua expressão individual,
com o que criamos cada vez mais doente mentais.

Não é por conta da existência
do charlatanismo, entretanto, que devemos desconhecer o conhecimento
real acumulado a partir da vivência humana do sagrado, ou mesmo descartar
a priori experiências atuais que podem responder a velhos problemas.
É fundamental o resgate dos conhecimentos guardados por aquelas personalidades,
nas organizações não formais e no seio das comunidades. Assim, em conjunto
com o debate acadêmico, poderemos desfrutar da sabedoria da humildade
de quem sempre tem o que aprender.

No estudo da psiquê e na busca
da saúde, mais do que em qualquer outro campo das ditas ciências, somos
obrigados a penetrar o conhecimento de nossas representações e vivências
místicas, para além da história de vida, sob pena de sermos superficiais,
tacanhos e ficarmos formalizando conceitos e pré-conceitos que nos fecharão
o caminho do conhecimento naquelas sínteses parciais que nos deveriam
servir de alavanca.

Ë nesta proposta que esta
seção deverá trabalhar tentando trazer a tona experiências e reflexões
de novos paradígmas e vivências de sociedades tradicionais, junto com
o diálogo científico.



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