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Continuando o Discurso da Finitude e O Desejo da Sedução Milagrosa

No artigo anterior "A Finitude e o Desejo da Sedução Milagrosa, Será Possível?" explanei em torno de uma das características mais marcantes do sujeito dos tempos modernos, seriam os medos da perda, solidão, tempo e desprazer. Apontando o ideal da sedução milagrosa como forma de seduzir o sujeito dito moderno a partir da imagem do corpo e da imagem de uma forma genérica, ou seja, tudo que se reflita enquanto uma imagem que sirva de elemento sedutor social.

No artigo anterior "A Finitude e o Desejo da Sedução Milagrosa, Será Possível?" explanei em torno de uma das características mais marcantes do sujeito dos tempos modernos, seriam os medos da perda, solidão, tempo e desprazer. Apontando o ideal da sedução milagrosa como forma de seduzir o sujeito dito moderno a partir da imagem do corpo e da imagem de uma forma genérica, ou seja, tudo que se reflita enquanto uma imagem que sirva de elemento sedutor social.

O que intriga no momento é esse ideal da sedução milagrosa, esse ideal que possibilita ao sujeito pensar; vale tudo pelo prazer, vale tudo para sentir-se amparado, vale tudo para não perder tempo. Aliás, tempo é uma das questões marcantes desse ideal, uma vez que, no imaginário social; tempo é dinheiro. De certa forma o vivenciar a perda leva ao colocar-se diante do desprazer que possivelmente levaria ou não o sujeito à perda de tempo.

O ideal da sedução milagrosa não limita-se as intervenções cirúrgicas mágicas e sedutoras, de fato, esse é extenso e diversificado em sua forma de apresentar-se no meio das relações humanas. Outra forma marcante desse ideal apresentar-se é através das drogas da felicidade, ou quem sabe, da felicidade momentânea como no caso do; Prozac. O uso dos psicofármacos ou de qualquer outro produto farmacológico, possibilita mesmo que de forma momentânea a eliminação do desprazer ou da dor que impossibilita os percursos cotidianos.

Não pretendo com isso criar uma afirmação para propagar ao algo do tipo; digam não aos medicamentos. Muito pelo contrário o que pretendo é construir para uma reflexão apresentando a seguinte questão; o medicamento ajuda, possibilita o caminho para a "cura", mas, será que todo desprazer ou sofrimento deve ser exclusivamente trabalhado a partir do medicamento? Acredito que de uma forma ou de outra, dependendo da etiologia do sofrimento o medicamento por si apenas não seja suficiente.

Faço minhas as palavras de Roudinesco citando Jean Dealey o principal representante da Psiquiatria Biológica; "Convém lembrar que, em psiquiatria, os medicamentos nunca são mais do que um momento do tratamento de uma doença mental, e que o tratamento básico continua a ser a psicoterapia" (ROUDINESCO, ELISABETH, 2000 p.22).

Os medicamentos são importantes inclusive no que diz respeito a diversas patologias, mas, não é o status quo principal para um tratamento, o sintoma é eliminando rapidamente, de forma mágica, sedutora e milagrosa, mas, no final a etiologia, ou seja, origem do mesmo fica mascarada. Esse é o grande diferencial entre Psiquiatria e Psicologia, a psiquiatria trabalha no nível sintomático, orgânico e estrutural do corpo, a escuta do psiquiatra é diferente da escuta do Psicólogo, a escuta da psiquiatria limita-se muitas vezes ao nível do sintoma e sua intervenção no final acaba em receitas milagrosas. A psicologia atua a partir da escuta, da palavra, do que existe por trás do não dito, não significa que exclua o sintoma, mas, significa que não fica apenas no sintoma, valorizando os aspectos que envolvem o sujeito além do sintoma; psíquico, afetivo, social, cultural e um olhar também direcionado para o organismo.

Hoje sabemos da existência de diversos medicamentos como o Viagra que seduz o sujeito com o discurso; resolva seu problema de forma rápida e eficiente. Aliás, o problema da disfunção erétil não limita-se ao orgânico, ao medicamentoso, e nem ao afetivo, de fato, trata-ser ia de uma questão afetiva que leva o sujeito a disfunção erétil a perda da potência sexual, aliás, existem também os casos de disfunção erétil que possuem como etiologia questões tipicamente orgânicas e químicas. No final nada limita-se ao psíquico ou ao orgânico, mas, a verdade talvez seja que a sedução milagrosa não possibilita ao sujeito entrar em contato com suas finitudes, desejos e quem sabe seus traumas que o levam a problemáticas como a disfunção erétil.

A sedução milagrosa é algo tão fático no sujeito moderno que o mesmo não se pergunta quais os perigos podem acarretar a sua saúde ao adquirir tal receita mágica e milagrosa. Concluirei essa explanação mais uma vez usando o título do Psicanalista Jorge Forbes "Você quer o que deseja?" (FORBES, JORGE, 2003). Ficando mais uma vez o enredo de que a vivencia da vida a partir da finitude e desejo da sedução milagrosa pode torna-se algo bem mais tóxico e ameaçador, do que, a bomba de Nagasaki de 1945, uma vez que, a sedução milagrosa ataca de forma silenciosa, mágica e pretensiosa.

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