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Busca por hegemonia econômica é insuficiente para explicar ações militares norte-americanas

Para doutoranda do Departamento de Ciência Política, é preciso buscar as motivações dessa estratégia no “projeto de identidade” norte-americano e nos elementos culturais que persistem ao longo da história e no cotidiano do país.
Para doutoranda do Departamento de Ciência Política, é preciso buscar as motivações dessa estratégia no “projeto de identidade” norte-americano e nos elementos culturais que persistem ao longo da história e no cotidiano do país.
Nem petróleo, nem hegemonia econômica. Para a cientista política Erica Simone Almeida Resende, os principais motivos para as ações militares dos Estados Unidos no Oriente Médio estão nos elementos que formam a identidade norte-americana e aparecem nas manifestações da cultura popular – como filmes, literatura e charges.

“O que vemos acontecer hoje é, ainda, uma continuação da busca por novas fronteiras, conseqüência da idéia de que o ‘homem branco’ tem uma missão civilizatória. No passado, era a região oeste da América do Norte. Hoje, são as ‘fronteiras ideológicas’ do mundo, locais onde há outros costumes, outras religiões”, afirma a pesquisadora, doutoranda do Departamento de Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.

A pesquisa de Erica segue uma linha que rompe com as correntes tradicionais nos estudos de política e relações internacionais. A idéia é dar mais atenção às questões culturais e procurar entender como elas influenciam estratégias políticas. Segundo a pesquisadora, as abordagens tradicionais tendem a relacionar as atitudes norte-americanas a interesses capitalistas ou às vontades de um pequeno grupo no governo, numa espécie de conspiração. “A maioria dos estudos acaba subestimando o fato de eles acreditarem no que dizem”, afirma Erica. Ao invadirem o Iraque, por exemplo, acreditavam que realmente seriam capazes de instalar uma democracia e que esta era a melhor solução.

A cientista política cita, como exemplos dos elementos que formam a identidade norte-americana, o individualismo, a ética do trabalho (idéia de que é o trabalho que dá valor ao ser humano) e a idéia do “fardo do homem branco”, segundo a qual o homem branco teria o papel de levar a “civilização” para os povos “bárbaros” ou “selvagens”. “Esses elementos estão presentes no cotidiano e se perpetuam historicamente entre os norte-americanos.”

Em sua pesquisa de mestrado, concluída em 2005 também na FFLCH, Erica estudou a passagem, na segurança nacional norte-americana, da Doutrina da Contenção para a Doutrina da Prevenção. A primeira, vigente durante a Guerra Fria, se caracterizava por uma postura defensiva e era aberta à cooperação internacional. A segunda, fundamentada no documento A estratégia de segurança nacional dos Estados Unidos da América, divulgado pela Casa Branca em 2002, aposta num comportamento preventivo e agressivo, que considera necessário acabar com as supostas ameaças antes que elas se concretizem, mesmo que isso contrarie regulamentos internacionais.

Para a cientista política, a adoção dessa nova estratégia foi um “tiro no próprio pé” por parte dos EUA. “Foi a primeira vez na História que um país em situação extremamente favorável se dispôs a alterar os fatores que condicionaram justamente essa situação, como os pactos internacionais.” Segundo ela, trata-se de uma atitude mais condizente com o “projeto de identidade” norte-americano do que com os interesses econômicos ou de hegemonia que os EUA pudessem ter. “É como se, ao invadir o Afeganistão e o Iraque ou ao ameaçar o Irã, o país estivesse sendo coerente com a idéia de ‘ser americano’, que inclui uma repulsa à possibilidade de serem considerados ‘covardes’ e uma idéia de dever, seja para defender a própria honra ou para ‘libertar’ povos.”

Segundo Erica, é necessário fugir de análises simplistas sobre as atitudes norte-americanas. “Nós, brasileiros, não entendemos os Estados Unidos. Há pouca bibliografia e pesquisa nessa área de análises culturais, e muita opinião. Os artigos publicados na imprensa, por exemplo, não vão muito além da superficialidade. Geralmente, ou acabam caindo numa explicação que se baseia apenas em interesses econômicos, ou dão margem à idéia de que há uma conspiração”, critica.

Fonte: [url=http://www.usp.br/agenciausp/repgs/2006/pags/176.htm]www.usp.br[/url]

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