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O desemprego e a posição do RH no Brasil sob a visão analítico-comportamental

A mídia direciona o olhar da população e isso é fato. Nós psicólogos temos que buscar o “além da coisa vista”, a causalidade, a raiz de uma determinada contingência, é exatamente neste sentido, que a análise do comportamento com base filosófica no behaviorismo radical do americano B.F. Skinner propõe quando traz o conceito de analise funcional do comportamento (situação antecedente a uma resposta – resposta de um organismo – evento conseqüente à resposta).
Quem define o salário “mínimo” no Brasil, certamente não sabe o que é pagar contas de água, luz, gás, telefone, mercado e compra do mês, vestimentas, material escolar dos filhos, gasolina ou vale – transporte para locomoção, medicamentos e perfumaria, padaria, açougue, cabeleireiro, e ainda….Investir uma quantia, se sobrasse….. em diversão, recreação e / ou lazer como por exemplo, um cinema.

Trabalho em agência de emprego, coordenando operações de recrutamento e seleção de 104 filiais brasileiras que atendem mais de 70 clientes de porte nacional. Temos ao mês, somente dos clientes nacionais, administro junto a minha equipe um giro de 400 / 500 vagas, desde perfis operacionais (operador de torno mecânico, copeira, auxiliar de produção, auxiliar administrativo, mensageiro, recepcionista, digitador, auxiliar de cozinha, etc.), técnicos (analistas de RH, analistas financeiros, analistas contábeis, etc.) até média gerência (Engenheiro de vendas, Gerente de Produção, Controller, etc.). Nos últimos meses com todo estes movimentos políticos que aproximam-se das eleições presidenciais de 2006, o que mais ouço é: “o desemprego cresceu no Brasil, vou investir em novas oportunidades de trabalho!”.

Ao olhar para as filas de candidatos que amanhecem nas portas das agências de emprego toda semana, a impressão que eu tinha era exatamente esta, pensava e refletia sobre a possibilidade de não haver vagas para tantas pessoas desempregadas, porém ao abrir mão da visão “senso comum” e inserir a visão de psicólogo – analista do comportamento, comecei a me perguntar o que poderia estar acontecendo, quais contingências ou metacontingências permeiam as relações entre estes sujeitos para que não consigam o tão desejado emprego? E mais, para que permaneçam dia – a – dia nesta mesma situação, emitindo respostas mesmo frente a toda possível estimulação aversiva de se procurar emprego em São Paulo e / ou expor-se incontrolavelmente a filas, com a possibilidade de não obter o reforçamento positivo (a desejada vaga de emprego).

Para começar, iniciei com a ferramenta mais importante de todo psicólogo: a observação. Na TV por exemplo, além das propagandas políticas, temos as reportagens afirmando como, quando e para onde vai o índice de desemprego no Brasil, mas em nenhuma delas, aponta evidentemente as causas de tal situação, se simplesmente dermos atenção a estas informações, vamos entrar no dilema: “Por que temos desemprego no Brasil? Resposta: Por que temos muito desemprego.” – “Por que temos muitos desempregos no Brasil? Resposta: por que temos muitos desempregados”. A mídia direciona o olhar da população e isso é fato. Nós psicólogos temos que buscar o “além da coisa vista”, a causalidade, a raiz de uma determinada contingência, é exatamente neste sentido, que a análise do comportamento com base filosófica no behaviorismo radical do americano B.F. Skinner propõe quando traz o conceito de analise funcional do comportamento (situação antecedente a uma resposta – resposta de um organismo – evento conseqüente à resposta).

Muitos olhares focam a contingência pela qual são expostos os sujeitos que compõe o mercado de mão-de-obra, mas poucos focam a realidade das Div. De Recursos Humanos das empresas, neste sentido chamo a atenção dos psicólogos a refletir o quanto o capitalismo, a globalização, o status de um país sub – desenvolvido agregam as organizações um caráter competitivo que elaboram políticas de seleção por conseqüências, ou seja, os talentos são selecionados pela empresa enquanto os classificados como “fora do perfil” são devolvidos ao mercado – de – trabalho, dando ao RH um papel de adaptar o quadro de funcionários as realidades econômicas x recursos necessários para agregar rentabilidade aos negócios.

Neste papel, o quanto de analistas de RH, psicólogos, selecionadores, assistentes de RH, dentre outros cargos coligados a seleção de pessoal não vêem suas vagas paradas por dias, semanas e em casos mais graves…meses? Quem passa no centro de SP e vê uma mesma vaga no mural de uma agência 30 dias seguidos terá qual impressão? Que a vaga não existe? Que a agência é fantasma ou não classificada como “séria”? Pois é, na verdade, não é que a vaga não existe, trata-se de pré – requisitos que o profissional de RH tem que respeitar enquanto exerce o seu papel de selecionador de “talentos”.

Voltando a questão da mídia, já temos um dado novo: Não é que não temos vagas no Brasil, mas sim, não temos mão – de – obra qualificada para as demandas de vagas disponíveis. Lembro-me até hoje de uma situação, no 1º ano da faculdade (graduação de psicologia) quando fui a busca de um estágio (que por característica / lei , não deve exigir experiência anterior, afinal, objetiva desenvolver o estudante nas organizações…) e fiquei mais de 6 meses ouvindo: “O que você conhece de RH?”, “Qual a sua experiência anterior?” , “Qual teste você aplica?”, enfim, preciso dizer aos leitores que um estudante do 1º ano de psicologia nem teve psicologia organizacional, quanto mais técnicas de exame e aconselhamento psicológico (testes)?

Nos últimos anos, Os RHs das empresas tem acompanhado uma parte do capitalismo que é a seleção de mão-de-obra qualificada, mas esqueceu-se do contexto, da história de vida deste mercado, parte essencial do objeto de estudo da psicologia (o homem). Qual sujeito exposto a 1 salário mínimo brasileiro tem verba sobrando em seu orçamento para dar ao seu filho um curso profissionalizante do SENAI? Ou um curso de Informática da SOS Computadores? Ou pagar vestibular para que seu filho ingresse em uma faculdade pública?

A Analise do comportamento considera o homem como sujeito único, passível de interações com o ambiente, fruto de história filogenética (espécie), ontogenética (história particular de interações) e cultural (cultura a qual este sujeito está exposto), neste sentido, mais do que selecionar talentos, um desafio enfrentado pela analise do comportamento é o de desenvolver talentos fora do ambiente organizacional. Deveríamos ter um governo focado na educação desta população, para que tenham chances aproximadas para concorrerem a vagas de emprego. Para os psicólogos educacionais que estão lendo este texto, convido vocês a falarem sobre a situação real de nossas escolas públicas brasileiras, as necessidades e impasses institucionais que “barram” a nossa prática e comprometimento com o desenvolvimento humano, o que eu quero dizer, é que o atual mercado de mão – de – obra é fruto de contingências anteriores (metacontingências e macrocontingência) que modelaram o nosso país, destacando como sub – desenvolvido, sustentando nos ambientes organizacionais, assim como nos hospitalares, educacionais, etc, barreiras para a adequada atuação do psicólogo.

Profissionais de RH estão expostos a uma era que eu chamaria de “faca de 2 lados”, onde de um lado, as organizações que pagam o seu salário exigem que estes utilizem-se de seus artefatos psicológicos para identificar os melhores recursos humanos e do outro o mercado de mão – de – obra “clama” por intervenção e qualificação profissional. O que mantém então toda esta população nas filas de emprego?

Infelizmente não posso responder esta questão sem um aprofundamento experimental, pois a abordagem teórica (analise do comportamento) que me propôs a seguir, estuda relações baseadas no sujeito único, sob forte rigor científico e metodológico, porém posso afirmar que cada um possui os seus motivos, dentre eles: sustentar a família, ganhar liberdade financeira, pagar suas contas, alimentar-se, pagar conta de água, luz, telefone, é exatamente neste sentido que iniciei o parágrafo afirmando que os autores do salário mínimo do Brasil não sabem o que é expor-se a estas contingências.

Há estudos atuais em questões sociais para análise do comportamento que estão investigando as relações sociais (metacontingências e macrocontingência) para buscarem alternativas, compreensões, causalidade, para poderem propor intervenções a impasses como desemprego, poluição, delinqüência, dentre outros problemas de demandas “sociais”, até lá, conto e indico literatura de TODOROV, em seu livro “metacontingências” que reúne grandes autores, percussores do tema no Brasil.

Em RH ou em mercado de trabalho, temos conflito de exigências que permeiam as relações entre empresas x mão-de-obra que mais do que nunca, merece ser analisada funcionalmente para que possamos driblar os impasses desta era globalizada. Aos psicólogos de RH, deixo o desafio de tentarem implementar junto a sua (s) gerencia (s) planos de treinamento e capacitação de mão – de – obra, bem como, investir em responsabilidade social, para que possamos assim, oxigenar as contingências deste país subdesenvolvido e contornar as regras impostas por o que Skinner (1953) chamou de “Agências controladoras”.

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