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Futebol de rua une moradores e ajuda a tornar vizinhança mais segura

Jogos de garotos entre 9 e 18 anos movimentam rua da periferia de São Paulo há três gerações, tem incentivo de moradores mais velhos e criam uma rede de proteção entre os vizinhos.
Jogos de garotos entre 9 e 18 anos movimentam rua da periferia de São Paulo há três gerações, tem incentivo de moradores mais velhos e criam uma rede de proteção entre os vizinhos.
Para um grupo de 19 garotos do Campo Limpo, na Zona Sul de São Paulo, jogar futebol na rua não é apenas uma rara opção de lazer na periferia. A atividade ajuda a definir a rede de relacionamentos entre os moradores da vizinhança, como observa o professor de educação física Jorge Hideo Tokuyochi, em pesquisa para dissertação de mestrado apresentada na Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP.

Durante dois meses e meio, Tokuyochi observou o dia-a-dia de uma rua no Campo Limpo, especialmente as partidas de futebol entre os jovens, com idades entre 9 e 18 anos. “É uma rua residencial sem saída, com uma oficina mecânica no meio, e no outro extremo há um bar e o ponto inicial de uma linha de ônibus”, conta. “Em torno da rua, os moradores constroem suas relações de sociabilidade, seu ‘pedaço’ dentro do bairro.”

O professor ficou surpreso com o fato de a maior parte das partidas de futebol serem disputadas à noite. “A maioria dos garotos não joga de dia porque estuda ou trabalha, mas é um horário inusitado em um bairro considerado violento”, diz. “A presença dos carros em conserto da oficina também impede que eles joguem mais cedo, exceto os menores, e houve uma época em que os ônibus iam até o fim da rua.”

Do alto de dois sobrados, moradores mais velhos observam o movimento, criando uma rede de proteção na vizinhança. “Até mesmo o dono da oficina mecânica reconhece que as partidas de futebol ocupam a rua e a tornam mais segura”, lembra Tokuyochi.

O futebol de rua também causa problemas na vizinhança. “É muito comum as bolas caírem dentro das residências, causando reclamações, mas alguns moradores mais velhos incentivam e até participam dos jogos”, diz Tokuyochi. O bar serve como ponto de encontro. “Mas ao contrário de outras ruas da região, ninguém colocou pregos nos portões para impedir que sejam usados como gol.”

Ao entrevistar antigos moradores, o professor descobriu que os jogos mobilizam os garotos da rua há três gerações. “São mais de vinte anos de histórias, como a do jovem que iria treinar num time profissional, mas foi morto no litoral, após ter reagido a um assalto”, conta.

Os jogos atingiram um razoável nível de organização. “Os garotos ganharam duas pequenas traves de metal para delimitar o campo de jogo e costumam arrecadar dinheiro para comprar bolas”, destaca o professor. Sempre há uma bola para os mais novos e outra para os mais velhos. “A mais usada é a de futebol de salão, pois pula menos e facilita o controle.” Como a rua está num plano inclinado, muitas bolas se perdem ao serem atingidas pelos ônibus.

Professor de educação física numa escola municipal próxima à rua, Tokuyochi destaca a importância do futebol como alternativa de lazer no bairro. “Há muitas ocupações irregulares, uma delas no prédio em que deveria funcionar um posto de saúde, mas a área de um campo de futebol foi preservada”, relata. “Há muitas equipes formadas em torno dos campos e quadras, e nos finais de semana, há uma grande circulação de pessoas por causa dos jogos.”

Fonte: [url=http://www.usp.br/agenciausp/repgs/2006/pags/194.htm]www.usp.br[/url]

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