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Nova estrutura psiquiátrica traz sobrecarga para trabalhadores

Brasil adota novo modelo de atendimento psiquiátrico, que tem com um dos objetivos acabar com as internações. De acordo com estudo, o período de mundança traz sobrecarga de trabalho e precariedade para profissionais.
Brasil adota novo modelo de atendimento psiquiátrico, que tem com um dos objetivos acabar com as internações. De acordo com estudo, o período de mundança traz sobrecarga de trabalho e precariedade para profissionais.
Na Faculdade de Medicina (FM) da USP, uma pesquisa analisa o impacto sofrido pelos profissionais de saúde mental desde a implantação, a partir de 2002, de um novo modelo de atenção para o setor no Brasil. Segundo o estudo, durante este período de transição ocorre a desestruturação de um modelo de atendimento psiquiátrico sem a plena implantação do outro. “Isso resulta em sobrecarga para os trabalhadores e compromete a qualidade do serviço oferecido”, diz a professora Selma Lancma, que coordena a pesquisa.

Um dos objetivos dessa reestruturação, que está sendo implantada em todo o Brasil pelo Ministério da Saúde, é diminuir as internações psiquiátricas. Em seu lugar são propostos serviços substitutivos e os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), onde além de cuidados médicos e alimentação, busca-se integrar o doente à sociedade.

A pesquisa, do Laboratório de Intervenção e Investigação em Saúde e Trabalho (LIIST) da FM, foi proposta por um edital do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) sobre políticas de saúde mental. De acordo com o estudo, o processo de mudança tem trazido desorganização e falhas de assistência, sobrecarregando os dois modelos de atendimento. Estão sendo estudados – por um conjunto de metodologias, entre as quais grupos de reflexão com os profissionais – o Centro de Saúde Escola (CSE) do Butantã, em São Paulo, onde ainda funciona o antigo modo de atendimento, e o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), da mesma região, que surge a partir da nova estrutura.

No CSE há uma sobrecarga do atendimento, pois a demanda continua a mesma, apesar de o novo modelo ainda não funcionar como o previsto. Os profissionais acabam por precisar consultar um número muito maior de pacientes do que o inicialmente previsto. “Além disso, os trabalhadores continuam atuando no modelo antigo e passam por uma crise de identidade”, alerta a professora, lembrando que eles “não vêem o modelo novo consolidado e, por outro lado, o modo como trabalharam até agora parece não fazer mais sentido.”

No CAPS, a precariedade de materiais, pessoal e estrutura desse início de implantação gera um trabalho improvisado e aquém da necessidade. “O financiamento dos recursos ainda não está bem definido e esta instabilidade e precariedade traz um sofrimento psíquico para o profissional de saúde mental que atende nesses lugares”, diz Selma.

O antigo modelo de atenção à saúde mental era hierarquizado em vários níveis de atendimento, desde as Unidades Básicas de Saúde, para os casos mais simples, até os Hospitais Psiquiátricos, para os pacientes mais graves. “Se um doente sofria uma piora, por exemplo, era encaminhado para outro nível de atenção. Mas havia uma desarticulação nessa transferência, o que prejudicava os tratamentos”, conta Selma.

O CAPS, além de coordenar as ações nos diferentes níveis de atendimento ao doente mental e dar suporte aos médicos dos programas de atenção primária, deve promover a inclusão social do paciente. “Uma das propostas é criar fontes de geração de renda para essas pessoas, que não se adaptariam ao trabalho formal, e promover maior integração com os vários ambientes sociais, evitando a exclusão”, explica Carolina Alonso, que estuda no programa de mestrado do LIIST, orientada pela professora Selma.

A pesquisa, que está sendo realizada em parceria com o Departamento de Engenharia de Produção da Escola Politécnica, com o Centro de Saúde-Escola Samuel B. Pessoa e com a Fundação Getulio Vargas, também utilizará outras metodologias. A organização e a análise ergonômica do trabalho, além das políticas de saúde mental serão igualmente avaliadas.

Fonte: [url=http://www.usp.br/agenciausp/repgs/2006/pags/205.htm]www.usp.br[/url]

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