Por que mesmo pessoas inteligentes cometem burradas inadmissíveis com dinheiro? Por que é tão difícil executar um orçamento familiar? Por que o dinheiro parece sumir magicamente do seu bolso? Para responder a essas e outras perguntas, nas últimas décadas aliou-se à Economia a uma visão marcantemente psicológica, fazendo nascer um fascinante ramo do estudo do comportamento humano.
Para entender essa revolução, importa lembrar que durante sua formação, a Economia adotou uma visão de homem segundo a qual esse é um decisor racional, que objetiva tão somente seu próprio bem. A Economia, como diz Levitt, em seu bestseller “Freaknomics”(1) é o estudo dos interesses humanos diante de escolhas. A Economia Clássica, portanto, defende que os homens, diante de escolhas a respeito de bens econômicos (como dinheiro, tempo, materiais, etc) tomam decisões sensatas, através de procedimentos exatos, agindo de forma previsível e producente.
Diante da óbvia, mas por décadas e décadas tolerada insuficiência de tal teoria, a Economia Comportamental veio com tudo, impulsionada pela matemática da Teoria dos Jogos e pelas pesquisas em Psicologia Social. Essa nova abordagem, que alguns dizem ser uma nova disciplina, possibilitou inclusive um Prêmio Nobel, (de Economia, em 2002), a um psicólogo, que declarou: “Outra visão de homem precisa fundamentar a compreensão das relações econômicas” (2)
A compreensão de que o homem é influenciado por “viéses comportamentais” (3) durante suas decisões econômicas suscitou uma revolução na forma de pensar não apenas a macroeconomia de grandes acordos internacionais e corporativos. Influenciou também as Finanças Pessoais (que já foram chamadas de “Economia Doméstica” nos anos 1950), que tratam das decisões de indivíduos a respeito de seu dinheiro. A “psicologia do uso do dinheiro” passou a fazer parte do trabalho de planejadores e consultores financeiros, ao lado da Contabilidade e da Economia, como atesta o Instituto de Educação Financeira, o primeiro do Brasil (4).
O interesse social por essa compreensão psicológica dos fenômenos financeiros explica inclusive bestsellers como “Pai Rico, Pai Pobre”, “O Homem Mais Rico da Babilônia”, dentre outros. A sociedade brasileira, já habituada a viver sem inflação desde a década de 1990 e adquirindo rapidamente o hábito de investir na Bolsa de Valores, demanda por Educação Financeira.
É nesse contexto que cabe questionar: será a “Orientação Financeira” uma nova área de atuação profissional para psicólogos, como uma especialização seja da Orientação Profissional ou da Clínica?
O objetivo desta coluna, chamada “Finanças Comportamentais”, aberta com este artigo, é tentar responder a pergunta acima.
Bibliografia
(1)Levitt, Steven. “Freakonomics : O lado oculto e inesperado de tudo que nos afeta”, Ed, Elsevier.
(2)Daniel Kahneman, psicólogo israelense prêmio Nobel de Economia em 2002.
(3)NOFSINGER, John“A Lógica do Mercado – Como Lucrar com Finanças Comportamentais”, Ed. Fundamento.
(4)Instituto de Educação Financeira. www.edufinanceira.org.br