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Como a Análise do Comportamento vem tratando a cultura e as questões sociais?

Compreender como entrelaçamentos de contingências atua na produção de uma conseqüência final, aumenta as chances de se elaborar planejamentos culturais adequados e eficazes, os planejamentos culturais bem sucedidos por sua vez, podem tornar mais eficazes prevenções de doenças, melhorias de trânsito, processos educacionais, processos políticos, dentre outros assuntos que dizem respeito ao indivíduo dentro de uma sociedade.

Em Analise do Comportamento dizemos que o comportamento dos indivíduos /organismos é selecionado por suas conseqüências, ou seja, pelo ambiente. Esta seleção pelas “conseqüências” ocorrem em três níveis: filogenético (relativo à espécie), ontogenético (relativo ao indivíduo) e cultural (relativo à um grupo de indivíduos).

Os comportamentos selecionados pelo nível FILOGENÉTICO são aqueles em comum a todos os indivíduos de uma mesma espécie, ou seja, aqueles comportamentos que na faculdade aprendemos como sendo reflexos inatos por exemplo, correspondem, aos comportamentos selecionados no nível denominado como filogenético, pois são compreendidos como selecionados pelo ambiente ao longo da evolução da espécie, afim de garantir a sobrevivência da mesma.

A unidade de Análise do Comportamento que estuda este nível é a de comportamentos reflexos ou inatos, onde a contingência de S-R, na qual dizemos que estímulos eliciam determinadas respostas, servem para compreender a função de comportamentos determinados no nível filogenéticamente, a exemplo da contingência onde um feche de luz ofuscante (S) elicia em um organismo, a resposta (R) de fechar os olhos.

Já na seleção do nível ONTOGENÉTICO, correspondem aos comportamentos específicos de cada indivíduo ou organismo, enquanto inseridos em uma determinada espécie e uma determinada cultura. Tais comportamentos / contingências, ocorrem durante toda a sua permanência na terra.

A unidade de Análise do Comportamento que utilizamos para estudar o nível ontogenético é a de tríplice contingência do comportamento operante, ou seja, aos comportamentos específicos de cada indivíduo, relativos a sua história de vida peculiar e particular, onde SA (Estímulo antecedente) – R (resposta) – SC (Conseqüência que segue uma resposta) é compreendida como: SA sinaliza quando R pode ser emitida obtendo determinada conseqüência, esta conseqüência, pode fortalecer, inibir ou extinguir um determinado comportamento. Por exemplo, na presença da mãe (SA) o bebê com fome emite a (R) choro e obtém como (SC) o leite da mamadeira que fortalece o comportamento de “cada vez que eu estiver com fome, na presença da minha mãe, posso chorar que ganharei alimento”.

Para esta situação específica na vida deste sujeito, poderemos dizer que ele aprendeu em história determinada ontogenéticamente que sempre que chora frente a situação de fome, obtém alimento de sua mãe. Para um outro caso, um outro bebê, precisaríamos utilizar a tríplice contingência para descrever outro tipo de função para este ou outro comportamento, ou seja, mesmo frente e um “mesmo” comportamento, a análise do comportamento, considerando o sujeito como único em sua totalidade, defende uma análise funcional para cada contingência, para cada sujeito, para cada situação.

A unidade de análise do nível ontogenético, permite que a Análise do Comportamento chegue a minuciosas considerações acerca dos comportamentos dos organismos, mesmo que aparentemente sejam em senso comum, considerados como iguais, ou seja, mesmo que irmãos gêmeos chorem na presença da mãe, mesmo que tenham fome, sua história ontogenética pode e provavelmente terá funções diferentes, mesmo que criados em um “mesmo” ambiente, pois lembrando de mais alguns conceitos, a Análise do Comportamento em sua busca pela raiz de comportamentos, considera hoje, não mais uma única resposta, mas sim, classes de respostas e classes de estímulos.

Por fim, o terceiro nível de seleção do comportamento, o nível de seleção CULTURAL, compreende aos comportamentos de indivíduos enquanto grupos praticantes e construtores de uma determinada cultura, práticas culturais que são selecionadas por suas conseqüências. Nas práticas culturais, como estamos falando do comportamento de vários indivíduos, estamos falando de várias e diferentes contingências do repertório de cada indivíduo, a estes conjuntos de contingências individuais, damos o nome de metacontingências.

A metacontingência por tanto é a unidade de Analise do Comportamento do terceiro nível de seleção (cultural), enquanto a contingência é a unidade de analise do nível de seleção ontogenético (comportamento operante).

Hoje em dia, ultrapassando horizontes, tratando-se de questões sociais, a Análise do Comportamento, em seus avanços, nos disponibiliza junto a sua literatura do Behaviorismo Radical o conceito de metacontingência, que por sua vez, está além de um conjunto de contingências / comportamentos de cada indivíduo, ou seja, para que um conjunto de contingências individuais constitua uma metacontingência (Unidade de análise da cultura), este conjunto deve possuir características como:

1) Entrelaçamento de contingências individuais;
2) Produção de uma conseqüência comum a longo prazo;

O entrelaçamento das contingências individuais refere-se a ligação entre as contingências que compõem a metacontingência. A organização de uma festa pode ser um exemplo de entrelaçamento de contingências individuais, onde você liga para um amigo que liga para outro até formar a festa. O entrelaçamento entre as contingências individuais permite que a conseqüência em comum ocorra. No exemplo da festa, as contingências individuais apenas do dono da festa por exemplo, não produziram uma festa, afinal, depende-se de quem organiza a festa, quem compra e vende os materiais necessários para festa, e assim por diante.As práticas culturais são por tanto, assim como o comportamento operante, selecionadas por suas conseqüências.

Compreender como entrelaçamentos de contingências atua na produção de uma conseqüência final, aumenta as chances de se elaborar planejamentos culturais adequados e eficazes, os planejamentos culturais bem sucedidos por sua vez, podem tornar mais eficazes prevenções de doenças, melhorias de trânsito, processos educacionais, processos políticos, dentre outros assuntos que dizem respeito ao indivíduo dentro de uma sociedade.

Além de propiciar aos analistas a possibilidade destacar, com a entrada deste novo conceito que agora, observamos também que as conseqüências a longo prazo da metacontingência, é que a depender da história de reforçamento, passa a manter comportamentos individuais dos sujeitos que participam deste entrelaçamento. Em outras palavras, o comportamento dos indivíduos de uma metacontingência, fica também sob controle da conseqüência final, não somente das conseqüências imediatas de seu comportamento. O leigo poderia afirmar que diante deste caso, houve uma conscientização da sociedade para determinada prática cultural, ou pior, comportamentos coletivos ditos como inadequados como poluir o ar, devastar a mata, violência urbana, desnutrição, dentre outros, podem ser exemplos de comportamentos mantidos por metacontingências.

Questões sociais por tanto, podem e provavelmente terão função coligadas aos três níveis de seleção da análise do comportamento. Compreender os indivíduos como “um todo” é considerar os aspectos filogenéticos, ontogenéticos e culturais via unidades empíricas de analise do comportamento que se baseiam em conceitos importantíssimos como seleção natural, freqüência de respostas, disposição, equivalência e controle de estímulos, sujeito único e comportamento verbal.

Hoje em dia, a Análise do Comportamento vêm investindo em pesquisas sobre questões sociais, a exemplo de TODOROV (1987;2004;2005;2006), TODOROV e MOREIRA (2004), alguns profissionais da PUC-SP e PUC-CAMPINAS dentre muitos outros trabalhos via mídia eletrônica e congressos de psicologia.

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