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Velhice, instituição e produção de subjetividade

[size=small][font=Arial]Gabriela Felten da Maia* [/font][/size]

Autores:
Gabriela Felten da Maia**
Graciele Dotto Castro**
Susane Londero**

[size=small][font=Arial]A maior parte da literatura estudada, apresenta um idoso fragilizado e debilitado. São comuns formas de perceber, pensar, sentir e agir sobre essas pessoas como se fossem necessariamente associadas a uma série de doenças, incapacidades múltiplas e perda da autonomia e que, portanto, devem ser “cuidadas”, “assistidas”. Trata-se de um esvaziamento da subjetividade (ou a possibilidade de criação de uma outra subjetividade) de sua potência de vida e criação, pois fica atrelada a modelos, presa a sistemas totalizantes e universais. Essas formas hegemônicas de perceber, pensar, sentir e agir, forjam certas demandas de atenção ao idoso, como se estes fossem entidades neutras, ahistóricas e abstratas.[/font][/size] [size=small][font=Arial]Este trabalho faz parte de uma pesquisa realizada em um asilo e emerge de um momento de questionamento dos limites entre velhice, saúde e sofrimento. Interessava-nos a aproximação com velhos em asilos, tendo em vista um borramento das singularizações e uma ênfase da velhice ligada a noção de objeto de cuidado preso a um regime identitário.[/font][/size]

[size=small][font=Arial]Pensamos que cartografar um habitat para uma clínica com velhos institucionalizados, permitindo a criação de espaços de acolhimento não moralizadores das experiências de si, sem uma proposta de ‘retificação’ das subjetividades ou uma ortopedia dos sujeitos, e que possam oferecer uma escuta ao sofrimento, às formas de subjetivação emergentes, as sociabilidades que estão sendo produzidas com o objetivo de produzir redes e espaços de singularização, se faz necessário. Esta atividade de cartografar permite-nos mapear movimentos (e saber por onde passa o investimento dos idosos) que compõe a realidade dos idosos na instituição asilar, objetivando ser fonte para pensar possibilidades de atuação e intervenção com os moradores. Nosso desafio era cartografar os movimentos produzidos pelos múltiplos encontros de cada um e todos no asilo nesse processo de constituição dessa clínica. Assim, com esse fazer, procuramos desmanchar territórios de “verdadeiras interpretações”, potencializando construção de outros onde interpretações pudessem ser confrontadas.[/font][/size]

[size=small][font=Arial]No asilo encontramos uma paisagem que em alguns momentos nos causa estranhamento, seja pela força ou o inusitado da situação, podendo nos levar a classificá-la em formas já dadas de antemão. Nosso trabalho tem por objetivo, exatamente, observar que habitat é esse em que estamos inseridas, procurado sustentar esse encontro com os idosos, permitindo-nos experimentar os acontecimentos ocorridos nessa instituição. [/font][/size]

[size=small][font=Arial]Essas experiências com velhos
institucionalizados podem reinvocar formas prontas e totalizantes, permitindo ver a velhice a partir de uma variável fixa, que transforma a vida em destino, num acontecimento “indivisível e decisivo”. Pudemos vivencir a ocorrência de muitos acontecimentos, porém, dentro de outra lógica. São corpos que se movimentam em uma lógica que nos escapa: raiva, alegrias, comunicação, loucura. Percebemos que eles são atravessados por fluxos do ambiente, do presente e não só de lembranças do passado.[/font][/size]

[size=small][font=Arial]Pensamos que a velhice não é necessariamente isolamento e solidão, ela pode ser povoada. Na literatura estudada, assim como em discursos acompanhados pela sociedade em geral, os idosos institucionalizados são considerados isolados, fora do mundo. Não queremos negar que a velhice é livre de sofrimento, mas consideramos o investimento (que não é considerado o mais verdadeiro) e os territórios subjetivos criado no interior da instituição asilar. Pois, exatamente nesse contexto institucional em que trabalhamos, pode haver um nicho diferenciado em que proliferam outros modos de viver. Significa que, no contato com velhos institucionalizados, procuramos os modos de subjetivação, e, neste sentido, poder traçar as situações em que eles se produziram e se produzem, que forças se atravessaram e se atravessam e que efeitos estão se dando. Não se trata de reunir, unificar esse encontro em uma essência, como se buscássemos a verdade sobre a velhice e a clínica com velhos, mas de construir redes por ressonâncias, deixar nascer vários caminhos que nos levariam a diferentes lugares.[/font][/size] [size=small][font=Arial]Pensamos que há necessidade de desnaturalizar territórios fixados e tomados como dado de antemão (para sempre dados), explicitando o processo de produção desses territórios na história daquele sujeito e levando em consideração os múltiplos fatores que podem estar envolvidos nessa produção. Isto significa que procurávamos demarcar os novos e diferentes territórios dos velhos institucionalizados, descrevendo e intervindo (n)esses espaços .[/font][/size] [size=small][font=Arial]A partir deste contato pensamos que há necessidade de repensar as práticas psi com essa população, levando em consideração que territórios existências são constituídos nessa vivência de exclusão e confinamento.[/font][/size] [size=small][font=Arial]*E-mail para contato: [email protected][/font][/size] [size=small][font=Arial]** Acadêmicas do Curso de Psicologia da Universidade Federal de Santa Maria, RS.[/font][/size] [size=small][font=Arial]**Este trabalho faz parte de uma pesquisa desenvolvido pelo Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Santa Maria, tendo sido apresentado na VII Semana Acadêmica das Ciências Sociais, realizada na Universidade Federal de Santa Maria, RS. Agosto de 2005.[/font][/size]

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