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Idosos mais dependentes são principais vítimas da violência

O idoso que aparentemente sofre mais violência é, na sua maioria, do sexo feminino, tem 75 anos ou mais, baixa escolaridade e apresenta alguma doença neurológica, reumática ou psiquiátrica.
O idoso que aparentemente sofre mais violência é, na sua maioria, do sexo feminino, tem 75 anos ou mais, baixa escolaridade e apresenta alguma doença neurológica, reumática ou psiquiátrica.
Usando como base dados do Estudo Saúde, Bem-Estar e Envelhecimento (SABE) da Organização Pan Americana de Saúde (OPAS), de 2000, a psicóloga Ana Paula Sanches buscou elaborar um perfil do idoso que sofre agressão. “O SABE realizou entrevistas domiciliares com idosos em sete países latino-americanos (Argentina, Barbados, Brasil, Chile, Cuba, México, Uruguai) e Caribe sobre suas condições de vida e saúde”, conta a psicóloga.

Ana Paula, que abordou o tema em sua dissertação de mestrado, defendida na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, conta que após as perguntas, o entrevistador deveria responder se observou sinais de violência no idoso e quais eram esses sinais. A partir das respostas positivas a essas questões, ela relacionou essas perguntas às demais características observadas no questionário.

No Brasil, o Estudo do SABE foi realizado em São Paulo, sob a coordenação dos professores Ruy Laurenti e Maria Lúcia Lebrão, da Faculdade de Saúde Pública da USP. Dos 2.143 idosos entrevistados, 31 apresentaram possível sinal de violência, como uma aparência de falta de cuidados, referência a brigas com familiares ou relatos de abandono. Ana Paula lembra que, apesar do número parecer pequeno -1,1% dos entrevistados – representa cerca de 9.480 idosos, quando projetado para a população de São Paulo em 2000. “Além disso, embora os entrevistadores tenham recebido treinamento e orientação adequada, a questão era subjetiva e muitos podem não ter percebido ou prestado atenção nos sinais de violência”, ressalta a psicóloga, sugerindo que esse número pode ser maior. Ela ainda destaca a escassez de pesquisas sobre o tema no País.

Perfil
A maioria dos entrevistados da SABE tinha entre 60 e 74 anos, mas grande parte dos idosos com possível sinal de violência tinha 75 anos ou mais. “Aparentemente são os mais velhos que sofrem mais com o problema”, diz Ana Paula. Nesse perfil também estão inclusos os solteiros ou viúvos e as pessoas com menor escolaridade.

Esses idosos, em geral, também apresentavam, algum declínio cognitivo, como perda de memória ou dificuldade para realizar atividades do cotidiano. Os sinais de provável violência também eram maiores nos que tinham alguma doença neurológica, reumática ou psiquiátrica. “São problemas limitantes, que causam maior dependência e podem deixar os idosos mais vulneráveis”, explica a psicóloga. A maior parte deles também apresentava uma depressão leve. Um número muito grande de quedas também pode ser indicador da existência de violência.

Negligência
Segundo Ana Paula, na maioria dos casos a violência parece ocorrer mais por situações de negligência e violência psicológica: como a falta de um ambiente adequado para a residência do idoso e o despreparo para atender suas necessidades e desejos. “Há um tênue limiar entre a violência, a desinformação e a falta de condições. Um idoso pode não ter ajuda para o banho ou ficar sozinho em casa porque sua família precisa trabalhar para comprar seus remédios, por exemplo”, conta a psicóloga.

Ela lembra que não é possível condenar, sem antes dar condições e informações sobre os cuidados necessários. “A prisão de um familiar por negligência, prevista no Estatuto do Idoso, neste caso pode apenas transferir a forma de violência: retiramos o idoso de sua família e colocamos em uma instituição, sem preservar seus laços sociais, que deveriam ser prioridade no seu atendimento”. Além disso, traz à tona a questão do que fazer com esse idoso. Ele geralmente não tem mais condições de morar sozinho e nem sempre o asilo é uma opção melhor. “Essa é uma das grandes barreiras à denúncia da agressão, a punição da família muitas vezes não resulta em melhores condições para a vida do idoso”, ressalta Ana Paula.

Cerca de metade dos casos de possível violência, relacionava-se a abuso psicológico, o que inclui o abandono e a negligência. Segundo a pesquisa, 63% dos idosos que têm sinal de violência dependem de ajuda para suas tarefas do dia-a-dia, mas não a recebem. Outros 21% recebem auxílio de apenas uma pessoa. Um dos questionamentos da psicóloga é se isso acontece porque os familiares não podem ou porque não querem auxiliá-los.

O SABE está sendo reeditado (2006/2007). Na sua nova edição, um protocolo específico sobre violência contra o idoso será aplicado em São Paulo, para identificar a existência da violência contra o idoso.

Fonte: [url=http://www.usp.br/agen/repgs/2006/pags/263.htm]Agencia USP de Notícias[/url]

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