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Família enfrente problemas ao tratar anorexia e bulimia

Cuidar de uma pessoa com distúrbio alimentar pode levar a família do enfermo a sérios problemas que vão desde dificuldades financeiras até o desgaste de relacionamentos e frustração de sonhos. Isso foi o que mostrou a tese de doutorado Família e transtornos alimentares: uma forma singular de estar no mundo, da professora Lucia Helena Grando, defendida recentemente na Escola de Enfermagem (EE) da USP.
Cuidar de uma pessoa com distúrbio alimentar pode levar a família do enfermo a sérios problemas que vão desde dificuldades financeiras até o desgaste de relacionamentos e frustração de sonhos. Isso foi o que mostrou a tese de doutorado Família e transtornos alimentares: uma forma singular de estar no mundo, da professora Lucia Helena Grando, defendida recentemente na Escola de Enfermagem (EE) da USP.
Lucia estuda distúrbios alimentares desde 1981, quando começou a trabalhar na enfermaria Infantil e de Adolescentes do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas (HC) da USP. A idéia de abordar a família em sua tese surgiu como conseqüência do amplo aparecimento do tema em seu mestrado, que trata de transtornos alimentares e do cuidar em enfermagem. “Num primeiro momento, o tema família surgiu de forma espontânea nos relatos, como um grupo social primário que faz cobranças e que, como elemento formador, tem participação na origem do distúrbio. Em seguida, o tema aparece já encaminhado para a compreensão da família como elemento mantenedor do transtorno alimentar”, conta. “Queríamos mostrar como a família vê a doença, o que sente e como trata”, explica.

A pesquisadora realizou seis entrevistas com mães de pacientes. O estudo envolveu famílias que tiveram a vivência de pelo menos uma internação psiquiátrica, parcial ou integral, o que, de certa forma, aponta para a gravidade do caso. Lucia lembra o relato de Iara, nome fictício dado a uma das entrevistadas: “Mas no começo, no auge mesmo da doença, ela chorava muito, muito depressiva… muito violenta… falava com ela e ela agredia… gritava… o que tinha na mão atirava…. então, era muito difícil, muito difícil mesmo…”. Lucia conta que esta mãe só descobriu que a filha tinha anorexia quando de sua internação no IPq com 28 quilos.

Segundo a professora, as famílias demoram, em média, cinco anos para descobrir a doença da filha, e o desenvolvimento de um transtorno alimentar ocorre a partir da interação entre fatores biológicos, psicológicos, familiares e culturais. No entanto, as mães entrevistadas apontaram, quase sempre, a televisão e as amigas como culpadas pela doença da filha.

Características
Distúrbios alimentares não são problemas exclusivamente femininos. A anorexia, que acontece na proporção de 20 mulheres para cada 1 homem, é caracterizada por um quadro no qual a pessoa está pelo menos 15% abaixo do peso corporal normal, mantém o regime apesar da magreza, se vê gorda mesmo estando magra e, em mulheres, existe a ausência de 3 ciclos menstruais consecutivos. Já na bulimia, distúrbio em que a pessoa tende a apresentar períodos em que se alimenta em excesso e, para compensar, exercita-se de forma excessiva ou vomita o que come, a proporção registrada é de 9 para 1.

Trabalhar com um esquema compensatório e normalmente praticar horas de exercícios depois de se alimentar, constituí-se uma outra categoria de bulimia menos conhecida e menos vista como distúrbio: a purgativa. “Tive uma paciente que fazia 9 horas por dia de exercícios”, conta Lucia.

O estudo mostrou também que as famílias tendem a confundir os sintomas e tratá-los de formas distintas ao invés de juntá-los, o que evidenciaria os distúrbios alimentares. Além disso, muitas vezes, a vontade de não comer é vista como rebeldia juvenil. “Só levam ao médico quando vêem problemas físicos, ou quando a pessoa já está esquelética”, complementa a professora.

Para melhor detectar o problema, a pesquisadora relata alguns comportamentos que podem ajudar as famílias a procurar o tratamento certo. “Essas jovens costumam mudar os hábitos não fazendo as refeições com outras pessoas, ter dificuldade de manter-se trabalhando e não aceitam estar doentes. Elas geralmente são ótimas alunas, perfeccionistas e infantis e os problemas surgem em famílias na qual o pai é ausente e a mãe é dominadora, não permitindo que a filha desenvolva sua autonomia. Já vi casos em que a mãe competia em beleza com a filha”.

Uma vez aceita a existência da doença na família, muitas mães se apóiam na religião ou até desenvolvem uma vida secreta para esconderem esse problema da sociedade. Outras, crêem que só depende das filhas sair desse quadro, semelhante ao que acontece com muitas famílias de usuários de drogas.

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