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Anorexia e obesidade e sua relação

Frequentemente observa-se crianças recém nascidas, e mesmo não tão “recém nascidas” assim, cobertas com camadas de roupas. Basta que o tempo esfrie um pouco, que logo a criança é coberta com grossos casacos , gorros, sapatos de lã e até luvas. Logicamente não se contesta e necessidade de proteger uma criança exposta à baixas temperaturas. O que seria normal e até esperado.Porem o que se observa é que certas mães “super aquecem” a criança, com medo que ela sinta frio. Seguindo este raciocínio podemos transportar esta mesma idéia para uma pessoa que se “cobre” com uma camada de gordura. O que esta pessoa estaria (entre diversos fatores) tentando evitar ? Um deles pode ser expor a sua própria fragilidade.

Ao nos depararmos com uma pessoa muito magra, sempre nos referimos a ela como alguém que transmite fragilidade: “É tão magro, parece tão frágil”. “Dá a impressão que os ossos vão quebrar”, etc. Em contrapartida quando nosso foco de visão é alguém gordo, muitas vezes dizemos, de maneira educada, que ele é “forte”. Um gordo nunca é frágil, ao menos fisicamente.

Se nos aprofundarmos nesta idéia vamos encontrar autores e teorias que associam anorexia a uma vontade de permanecer na infância, de não crescer, um medo de amadurecer. O amadurecimento, pelo menos físico, é inevitável. O que tornaria esta doença uma “verdadeira batalha” contra a própria natureza do ser humano, que passa por fases distintas de crescimento e amadurecimento.

Se na anorexia, se “quer” permanecer frágil e infantil. Na obesidade se quer extremante o oposto. Evitar esta posição e sua conseqüente sensação de fragilidade, que a infância nos expõe.

Um quer permanecer lá indefinidamente, enquanto o outro quer evitá-la a todo custo. Ambos estão em desequilíbrio. Ninguém é tão fraco que não tenha seus momentos de força. Nem tão forte que não tenha fraquezas, nem momentos de fragilidade.

Ao tentar ser sempre forte, me torno mais fraco. Todos passam por situações onde sentem-se frágeis, e incapazes de agir, limitados como se fossem crianças. Mas ao invés de tentar evitar estes sentimentos e encara-los, porque só assim temos a possibilidade de crescimento emocional de maneira efetiva, nos tornando fortes emocionalmente. O obeso se torna forte fisicamente. Colocando-se atrás de uma “cerca de proteção anti-fragilidade” chamada gordura.

Poderíamos chamar nossos pontos fracos de “fragilidades”. Eles seriam a porta de entrada para tudo que nos atinge. Se ficar extremamente magoada porque alguém não me convidou para uma festa, estou diante de um ponto fraco. Não sei lidar com a rejeição, ela me deixa “fraco”. Não gosto de ser frágil. E para não expor minha própria fragilidade (assim como a mãe não quer expor a criança ao frio), me cubro com gordura.

Assim como a anoréxica tem que encarar a sua própria maturidade, e o medo que tem dela. A compulsiva (geralmente com excesso de peso), deve encarar a sua própria fragilidade. Muitas pessoas começam a engordar depois de períodos, e/ou situações estressantes. Estas situações nada mais seriam do que ocasiões aonde nos sentimos frágeis, por não termos conseguido lidar com nossos sentimentos de perda,rejeição, angustia, ansiedade e até mesmo de incapacidade.

A gordura não protege, nem deixa ninguém mais forte, é algo ilusório que não protege de nada.
Só assumindo nosso lado frágil, nos tornamos fortes.

Texto: Valéria Lemos Palazzo CRP 06/35173

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