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Inquilinos do além 2

A vida fica bem menos solitária e o mundo bem mais povoado quando pensamos que os mortos estão sempre entre nós. Sendo o morto absolutamente bonzinho, não havendo dúvidas quanto às suas boas intenções, estaremos seguros de constante boa companhia e proteção.
Agora, se associarmos à isso a teoria de que entre nós estão predominantemente os mal resolvidos, aí a coisa fica mais apavorante. Pois uma pessoa mal resolvida dificilmente é uma boa companhia. Mesmo querendo ajudar, acaba atrapalhando. Pois sendo mal resolvida, acha que quer uma coisa quando na verdade quer outra. Não sabe o que quer e quando faz as coisas, faz atravessado: desconta raiva em inocentes; super-protege ou “ama” demais para recalcar ódio ou rejeição; se vinga de Fulano simplesmente porque esse se parece com Beltrano, sem nem mesmo saber que odiava ou desejava vingar-se do segundo. O mal resolvido é isso. Agride sem saber, indiretamente, de repente. Ou agride quando no fundo desejava amar e não pode. É a maldade sem motivo ou o amor que mata, o “amor” que aparece pra encobrir talvez uma censurável rejeição ou mesmo o ódio.

E se continuarmos na trilha desta teoria, a de que os espíritos entre nós geralmente são os mal resolvidos, aí a coisa fica preta. É, pelo que me lembre, dizem que os bem resolvidos vão logo pro firmamento, para algum lugar, para um destino mais certo. Não ficam perambulando por aqui, partem logo pra outra. Então quer dizer que o além é feito de muito sonho e temor. Porque é bom sonhar com o além ou um terror imaginar o que pode estar acontecendo às nossas costas por meio da obra de nossas más companhias, as almas penadas. É, de fato, a vida não é um lugar seguro, nem mesmo para o que não se relaciona com ela. Viver é ser, por excelência, frágil. E o além dos vivos é, por definição, mal resolvido.

 

 

 

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