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Clima e arquitetura em Walden II

“… eu acho que arquitetura é vida, ou, pelo menos, é a própria vida
tomando forma e, por isso, é o registro mais verdadeiro da vida
como ela foi no passado, como é hoje ou como será então.”
Frank Lloyd Wrigh
Arquiteto norte-americano.

O artigo visa fazer uma análise das características arquiteturais dos ambientes construídos em Walden II. Essa análise se centra na relação que os projetos de edifícios de Walden II têm com o clima e a luz natural. Procura-se mostrar também como esse livro de ficção da literatura estadunidense traz em si uma proposta de tecnologia do comportamento que não é fruto, simplesmente, da imaginação, aliás, traz uma série de propostas implícitas ou não que se ligam aos princípios mais modernos do pensamento Ecológico e do Desenvolvimento Sustentável.

Walden II é uma novela sobre uma comunidade utópica escrita por Burrhus Frederic Skinner no começo do verão de 1945. A “engenharia do comportamento”, que Skinner menciona no livro com tanta freqüência, e que permite a existência daquela comunidade naqueles moldes, era considerada na época quase ficção científica.
Atualmente sabemos que a “engenharia do comportamento” é uma realidade: em pequena ou grande escala, na Clínica ou na Educação, na Saúde Pública ou nas Organizações mais e mais Analistas do Comportamento observam,analisam, quantificam, planejam e lidam com contingências de reforçamento.

Tourinho (1999 apud NETO)afirma que os Analistas do Comportamento trabalham baseados em uma área da Ciência Natural e
“De acordo coma sua estrutura, a área ampla seria chamada simplesmente de Análise do Comportamento (AC). O seu braço teórico, filosófico, histórico, seria chamado de Behaviorismo Radical. O braço empírico seria classificado como Análise Experimental do Comportamento. O braço ligado à criação e administração de recursos de intervenção social seria chamado de Análise Aplicada do Comportamento. As três subáreas estariam inter-relacionadas em um processo contínuo de alimentação recíproca […] nenhuma das três existiria de forma autônoma, por mais que, algumas vezes, os seus representantes não consigam identificar claramente seus vínculos com as demais.”

Devido aos grandes problemas causados pela ação humana, a Análise do Comportamento intensifica a produção de trabalhos de pesquisa que se centram na resolução de problemas de cunho ambiental: na conservação de energia, na reciclagem, na redução e reutilização de produtos, na “conscientização” da população urbana frente aos problemas da degradação ambiental, na facilitação da coleta e seleção do lixo, no desenvolvimento sustentável, na educação para a sustentabilidade.

Thomas Woelz (2005) afirma que no seu artigo “De boas intenções o inferno está cheio”

“Sabemos que os principais problemas ecológicos atuais são produtos do comportamento humano. Não é suficiente o desenvolvimento de uma para melhorar o aproveitamento energético de máquinas, reciclagem, despoluição e assim por diante. O que precisamos é de uma tecnologia comportamental eficaz para lidar com o problema. Cada ação humana cotidiana tem implicações para o ecossistema, e muitas destas produzem alterações ambientais nocivas.”
Uma tecnologia eficaz e comprometida com a mudança de comportamento deve ter um efeito real
“Muito se investe em informação, educação e demais variáveis antecedentes, visando produzir uma maior consciência ecológica, ou mudança comportamental. No entanto esses tipos de intervenção quase nunca produzem uma alteração significativa em comportamentos destrutivos ou de preservação. As intervenções mais eficazes utilizam não apenas variáveis antecedentes genéricas, mas sim tipos específicos destas planejados para uma situação específica.” (WOELZ, 2005)

Woelz ( 2005) acrescenta ao término do seu artigo
“Idealmente deveríamos adotar uma abordagem experimental para a adoção de políticas de preservação ambiental.Investir constantemente o efeito desses programas, e modifica-los de acordo.Vários programas de intervenção estão documentados, podendo ser adotados ou modificados. Infelizmente, políticas públicas não são baseadas em pesquisa, e os políticos estão muito longe de adotar uma postura experimental. E boas intenções não vão ser o bastante para evitar uma destruição ambiental.”

O clima e a luz são duas temáticas ligadas intimamente ás questões suscitadas acima, pois interferem na conservação da energia, na economia de recursos, no conforto dos organismos e na satisfação das suas demandas fisiológicas.

Antes da fixação dos primeiros grupos humanos em regiões as comunidades mantinham uma relação de equilíbrio material e de sustentabilidade com o seu entorno. Os pequenos grupos caçavam, pescavam e extraiam o que necessitavam para a sua sobrevivência. O aumento da freqüência de práticas culturais baseadas no sedentarismo, a evolução da agricultura e da domesticação de animais criaram as bases para o surgimento das primeiras cidades. A invenção das cidades, o aperfeiçoamento tecnológico da cadeia produtiva da mineração/fundição, o surgimento do paradigma da posse e do acúmulo de riquezas na civilização ocidental e a Revolução Industrial firmaram o surgimento de uma nova Era…

A Era da exclusão social, da geração desproporcional de lixo, da contaminação da água, do solo, e do ar, da violência, da disseminação de epidemias e da ploriferação de acidentes.

Walden II foi escrito 26 anos antes do surgimento do Clube de Roma, 27 anos antes da abertura da Conferência de Estocolmo, 38 anos antes da criação da Comissão Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento, 47 anos antes da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (ECO-92) e da elaboração da Agenda 21 – documento corroborado por 173 países durante a Rio 92, que propõe novos modelos políticos para construção do desenvolvimento sustentável e que apresenta um conjunto de estratégias que possibilitam a reversão da degradação do Planeta.

No prefácio da edição de (1976/2002 p.9) Skinner faz colocações interessantes a respeito de seu livro:
“Mas havia, penso eu, uma razão maior para que mais e mais pessoas começassem a ler o livro. O mundo começava a enfrentar problemas de uma magnitude inteiramente nova – o esgotamento dos recursos, a poluição ambiental, a superpopulação e a possibilidade do holocausto nuclear, apenas para mencionar quatro deles. A tecnologia física e biológica poderia, naturalmente, ajudar. Seríamos capazes de encontrar novas fontes de energia e de usar mais adequadamente as já existentes. O mundo poderia alimentar-se, plantando mais grãos nutritivos e consumindo grãos em lugar de carne. Métodos de controle de fertilidade mais seguros poderiam limitar o crescimento populacional. Defesas inexpugnáveis poderiam tornar impossível a guerra nuclear. Porém isso só ocorreria se o comportamento humano mudasse; e a forma como poderia ser mudado ainda era uma questão sem resposta. Como se iria induzir as pessoas a usar novas formas de energia, a consumir grãos ao invés de carne e a limitar o tamanho de suas famílias? E como manter os estoques de bombas atômicas fora do alcance dos líderes desesperados?”

O exposto acima é um exemplo do compromisso que Walden II revela com a proposição de solução para alguns dos maiores problemas enfrentados pela civilização.
Mais adiante é apresentado um modelo de planejamento regional e organização urbanística que é semelhante ao modelo defendido também por Frank Lloyd Wrigh, um dos maiores arquitetos norte-americanos:
“Sugeriu-se que, com os modernos sistemas de comunicação, os Estados Unidos da América do futuro poderiam ser simplesmente uma rede de pequenas cidades – por que não dizer de Walden Twos? Alguns esqueletos urbanos poderão sobreviver, tal como os ossos de dinossauros nos museu, como remanescentes de uma fase transitória na evolução de um modo de vida. […] Muitos dos atuais projetos para novas fontes de energia e novas formas de agricultura parecem perfeitamente adequadas para serem desenvolvidos por pequenas comunidades. Uma rede de pequenas cidades, ou de Walden Twos, teria seus próprios problemas, porém o fato surpreendente é o de que teria condições de resolver bem mais facilmente muitos dos problemas cruciais que o mundo hoje enfrenta”(SKINNER,1978/2002 p.11 e 12).

A seguir Skinner explica o porquê de se pensar Walden II como uma pequena comunidade relacionando isso com o conceito de felicidade para a Análise do Comportamento:
“[Uma pequena comunidade] possibilita, de acordo com os princípios de uma análise comportamental aplicada, a organização de ‘contingências de reforçamento’ mais efetivas […] Para induzirmos as pessoas a se adaptarem a novos modos de vida, que levam a uma menor consumo (e, por, isso a uma menor poluição), não precisamos falar de frugalidade ou de austeridade como se isso significasse sacrifício. Há contingências de reforçamento, sob as quais as pessoas continuam a perseguir (e até mesmo a alcançar) a felicidade, consumindo bem menos do que agora consomem. A análise experimental do comportamento mostrou claramente que o que importa não é a quantidade de bens (como sugere a lei da oferta e da procura), mas a relação contingente entre bens e comportamento […]. Numa comunidade experimental, contingências de reforçamento que levam a gastos desnecessários podem ser corrigidas. Quanto á poluição,as comunidades pequenas possuem as condições mais favoráveis para a reciclagem de materiais e para o emprego de métodos de distribuição que evitam o desperdício.[…]Se o mundo vai economizar alguma parcela de seus recursos para o futuro, deve reduzir também, além do consumo, o número de consumidores.Em uma comunidade experimental, deveria ser fácil modificar-se a taxa de natalidade.”(SKINNER,1978/2002 p.12)

Todo o prefácio da edição de 1978 á construído visando a apresentação de propostas, que Walden II contém, implícitas e explícitas, para a resolução de alguns problemas enfrentados pela civilização ocidental em especial – fato visível nos trechos escolhidos acima fica visível a preocupação com a redução do consumo de bens, com a economia de recursos e energia.

Skinner (1978/2002 p.13) continua o prefácio afirmando que “se o mundo vai economizar alguma parcela de seus recursos para o futuro, deve reduzir também, além do consumo o número de consumidores”.
A Sustentabilidade envolve alguns fatores: envolvimento, participação, pertencimento, emancipação e sustentabilidade social, cultural, econômica e ecológica.

Sustentabilidade de acordo com o dicionário Aurélio é a “qualidade de sustentável” e sustentável é o “que se pode sustentar” é aquilo que é “capaz de se manter mais ou menos constante, ou estável por longo período”.

Miriam Duailibi (2006) expõe as dimensões da Sustentabilidade resumindo-as em seis tipos:
Sustentabilidade econômica: eficiência econômica sem priorização de lucratividade financeira imediata;
Sustentabilidade social: redução da distância entre os padrões de vida abastados e não abastados, melhoria da qualidade de vida de todos os envolvidos nas distintas iniciativas de desenvolvimento.

Sustentabilidade ecológica: conservação dos sistemas naturais,
preservação da biodiversidade, respeito a sociodiversidade, garantindo sua capacidade de suporte e regeneração diante dos impactos causados pela ação humana.

Sustentabilidade espacial: configuração rural-urbana mais equilibrada e uma melhor distribuição territorial de assentamentos humanos e atividades econômicas.

Sustentabilidade cultural: respeitadas as peculiaridades locais, projeção participativa de um futuro apropriado às expectativas, necessidades e características da população.

Sustentabilidade pedagógica: criação de ambientes propícios a formação de comunidades de aprendizagem onde os processos possam ser constantemente avaliados e replanejados de forma a manter um caráter de dialogicidade além de serem passíveis de replicabilidade.

Todas as dimensões acima citadas estão preconizadas em Walden II. Nas relações econômicas que não são mediadas pelo princípio do lucro e pela “lei” da oferta e da procura já que todos os bens são produzidos pela e para a comunidade, sendo divididas de acordo com as necessidades de cada um; na inexistência de diferenças sócio-econômicas entre os integrantes da comunidade, pois todos possuem padrão de vida semelhante; no respeito ao Meio Ambiente já que a comunidade foi construída e se sustenta visando à utilização somente do que precisam para sobreviver e para se abastecer; na relação de integração com o ambiente rural já que a comunidade se insere no mesmo, pois se leva em consideração que todo assentamento humano depende do espaço rural, direta ou indiretamente para a produção de bens e matérias primas essências; no uso de rebanhos de carneiros para se alimentar do gramado utilizado pelas crianças para brincar a automaticamente apará-lo com se fosse um gigantesco cortador de grama; no respeito ás singularidades individuais e dos subgrupos que constituem a comunidade através da tolerância dos diferentes modos de se vestir, de falar de, se portar no impedimento por parte da comunidade de “fofocas” e de desrespeito para com as particularidades individuais de vida; no estabelecimento de padrões de comportamento que dão base a uma contínuo processo de experimentação, avaliação e planejamento de práticas culturais visando o desenvolvimento contínuo da comunidade e a sobrevivência dos organismos e dos padrões de vida que constituem a mesma.
Baum(1999, p.267) afirma que:

“As idéias expostas por Skinner em […] Walden II, por exemplo, se assemelham as processo de ensaio-e-erro que, pelo qual engenheiros e planejadores passam quando estão tentando criar um produto que funcione. O arquiteto que projeta uma casa faz um esboço, talvez construa um modelo, examina esse protótipo buscando falhas e testa o anteprojeto mostrando-o ao seu cliente. A qualquer altura do processo, e particularmente se o cliente rejeita o projeto, tudo volta à estaca zero. Poucas pessoas se opõem a projetos governamentais como treinamento profissional ou incentivos fiscais; eles são vistos como tentativas legítimas de levar as pessoas a se comportar de uma maneira socialmente desejável.”

Baum (1999, p.70) continua explicitando que “para sobreviver, uma cultura deve ser capaz de mudar, pois ela só poderia permanecer estável em um mundo sem novos desafios ambientais e sem competição por parte de outras culturas”. Se o conceito de sobrevivência de Baum for relacionado com o de sustentabilidade no dicionário Aurélio percebe-se que sustentabilidade não é sinônimo de permanência, de postura estática, assim a mudança contínua faz parte da cultura de comunidades auto-sustentáveis.

Mascaró (1983, p.48) afirma que “associar os dados climáticos às
formas arquitetônicas e aos materiais constritivos é relativamente simples para alguns tipos de climas”. Se for levada em consideração uma série de dados que fazem referência ás construções em Walden II e estão presentes no livro poderemos associar o clima da região idealizada a algum tipo mais específico de clima, através é claro da inferência, já que este livro é de ficção.A associação entre dado climáticos, as formas arquitetônicas e os materiais construtivos utilizados em Walden II pode dar a noção de como Skinner repassou ao público leigo uma série de princípios e dimensões da Sustentabilidade.

As dimensões econômica, ecológica e espacial são dimensões da sustentabilidade que estão mais ligadas à relação que existe entre clima, formas e funções arquitetônicas e materiais construtivos utilizados nos edifícios de Walden II.

Walden II é uma cidade-fazenda ou fazenda-cidade que congrega em torno de 1000 habitantes e foi pensada como sendo localizada provavelmente em algum estado Norte Americano visto que o nome do local em que se situa Walden II se chama Canton (não se sabe se um lugar real – no Estado de Minnesota ou Indiano – ou criado por Skinner). A história do livro se baseia em uma visita em que dois cais de jovens (Rogers e Bárbara Mackmilin e Jamnik e Mary Grove) e dois professores universitários um de Psicologia (Burris) e outro de Filosofia (Augustine Castle) decidem fazer a Walden II comunidade no interior de um estado que tem como um dos seus membros fundadores um amigo de Burris e ex-professor de Psicologia (T. E. Fraizer).
Skinner (1978/2002 p.17) começa descrevendo Walden II de maneira direta através de Burris, personagem da novela:
“Havia algumas casas de fazenda e estábulos; mais adiante, o terreno se inclinava levemente á direita onde havia uma série de construções de outro tipo. Eram cor de terra e pareciam ser de pedra ou concreto com um desenho simples e funcional. Havia várias alas e extensões que davam a impressão de não terem sido construídas ao mesmo tempo ou de acordo com um único plano. Estavam dispostas em vários níveis e alinhamentos seguindo a inclinação do terreno […] Á nossa esquerda havia outras construções no mesmo estilo funcional.

A configuração rural-urbana é visivelmente mais equilibrada do que
nas cidades reais. Através de desenhos simples e funcionais além do fato das construções se adequarem à forma do terreno e serem feitas de material mais barato e durável (cimento e pedras) as edificações de Walden II revelam um compromisso com a economia (energética e financeira), o utilitarismo e a simplicidade arquitetônica (fato que facilita a construção e permite que os próprios membros da comunidade edifiquem as construções sem precisar de mão de obra especializada ou caros recursos tecnológicos). A realidade geográfica em que Skinner escreveu a sua novela induz a acreditar que as características climáticas dessa região se assemelham as de região em que vivia o que leva a concluir que se caracteriza por possuir um clima frio, típico das zonas setentrionais. O material de que Burris acredita serem feitas as construções são maciços, pois se adequam a zonas de climas frio e temperado.

“Estruturas grossas e pesadas são fortes, duráveis e comportam bem térmica e acusticamente, armazenado o calor que lhes e fornecido e devolvendo-o ao ambiente logo que a fonte de calor se extingue”. (MASCARÓ, 1983 p. 57).

As edificações podem ser construídas baseadas em dois parâmetros: os projetos podem ser baseados no consumo de energia ou em função do clima. Os primeiros estão dentro da modalidade regenerativa e os segundos dentro da modalidade conservativa. Mascaró (1983, p.56) afirma que “a necessidade de se fazer o investimento refúgio-permanente foi satisfeita normalmente construindo edifícios maciços […]tais construções trazem consigo vantagens ambientais que tornaram-se tão usuais em três milênios de civilização européia , que se supôs falsamente que eram inerentes a todas as soluções ‘estruturais’ “. Edifícios de paredes pesadas e espessas são mais econômicos, pois conservam mais energia. O uso intensivo de “energia regenerativa” caracteriza as sociedades urbanizadas modernas e é feito através de equipamentos eletromecânicos de climatização, esse tipo de avanço tecnológico deu mais independência de arquitetos a engenheiros á soluções de climatização baseadas na estrutura, ou seja, na seleção e na conservação de energia.

“A revolução da tecnologia ambiental dada pelo uso generalizado do ar condicionado (o clima feito pelo homem) a iluminação fluorescente e os forros acústicos suspensos, permitem substituir estruturais pelo uso maciço de energia operante… liberando o edifício o edifício de seu caráter controlador de espaço… dando-lhe independência do clima… aparecem os edifícios de grande porte… e os novos problemas ambientais (maior volume de material e ar fechado) […] …O grande tamanho, próprio dos edifícios de altura, criou novos problemas do entorno ambiental; não só pelos maiores volumes de ar fechado senão também pela influência das condições meteorológicas exteriores, ao suportar as pressões do vento ou a cobrir com sombras grandes áreas do solo” (MASCARÓ, 1983 p. 71 e 72)

Importante citar que Mascaró nem cita no seu texto a necessidade de energia excedente que uma edificação que tem o clima controlado artificialmente demanda.

Frazier uma dos personagens do livro que fazem parte da comunidade e é amigo de Burris ao apresentarem os edifícios pra o grupo de visitantes afirma

“- Os edifícios principais, naturalmente, foram construídos por nós mesmos. O material Burris, é terra batida, ainda que algumas paredes sejam feitas de pedra da antiga pedreira que se pode ver acima dos edifícios, na Colina das Pedras. O custo foi fantasticamente baixo se considerarmos a cubagem como fazem nossos arquitetos ou, o que me parece mais importante, o espaço vital que há dentro. Nossa comunidade tem agora perto de mil membros. Se nós estivéssemos vivendo nos edifícios que vêem adiante, estaríamos ocupando cerca de duzentos e cinqüenta casas residenciais e trabalhando em escritórios, lojas, armazéns e depósitos. É uma enorme simplificação e uma grande economia de tempo e dinheiro” (SKINNER,1978/2002 p.12)
Como se pode ler no trecho acima Skinner tinha consciência do porquê de se idealizar as edificações com aquelas determinadas características e da possibilidade de se poupar muito tempo e dinheiro nas construções funcionais.

O mais impressionante na obra é que as preocupações com o clima vão além de questões conservacionais. Frazier continua expondo os benefícios de se morar em uma comunidade construídas com aquelas características até que chega na questão do controle climático sem a necessidade do uso de máquinas de climatização artificial, ou seja , na relação de conforto , de bem-estar, de congruência ambiental que uma moradia deve proporcionar ao Ser Humano.

“- Uma vantagem de nossa moradia comunitária – disse Frazier, – é que podemos controlar o clima. Edward Bellamy tentou isso, vocês se lembram. As ruas de Boston no futuro de cobririam, quando chovesse. […] – Bem, o que é que vocês fazem aqui quando chove, a não ser deixar que chova? – Numa comunidade deste tamanho – continuou Frazier imperturbável, – é possível ligar todos os quartos com as salas, salas de jantar, teatro e livrarias. Você pode ver como isso foi feito pela disposição das construções. Todos os nossos entretenimentos, funções sociais, jantares e outros compromissos pessoais ocorrem conforme o planejado. Nunca temos de sair para nada. – E quanto ir para o trabalho? – perguntou Rogers. – O trabalho ao ar livre é uma exceção. Com tempo ruim nossos caminhões nos levam aos nossos locais de trabalho.” (SKINNER,1978/2002 p.25 e 26)
Não é só Frazier que pensa na utilidade, na comodidade, na funcionalidade e eficiência de um abrigo humano, Le Corbuzier (1924, apud Rêgo, 1999) um dos maiores arquitetos da humanidade também expressou isso em suas obras e em palavras

“A casa tem duas finalidades. É, em primeiro lugar, umamachine à habiter, ou seja, uma máquina destinada a dar-nos uma ajuda eficaz para a rapidez e a exatidão no trabalho, uma máquina diligente e atenta para satisfazer as exigências do corpo: comodidade.”
A respeito da utilização da luz solar para iluminação e da relação de funcionalidade que as edificações mantêm com uma iluminação interior adequada Burris, em um passeio pelas construções de Walden II observa que

“A nossa esquerda, havia salas que mais pareciam de trabalho, com grandes clarabóias, mas nenhuma janela. Algumas estavam mobiliadas para música, com pianos, vitrolas e estantes de música e discos. Outros pareciam ser estúdios coletivos. Vários trabalhos de arte em processo lá estavam, mas as salas estavam agora servindo para encontros informais. (SKINNER, 1978/2002 p.42)
Mascaró (1983 p. 49) explica (levando-se em consideração, é claro que o clima local se trata de um clima temperado ou frio) o porquê dessas características funcionais e culturais

“Já se disse que os habitantes de climas frios vivem em suas casas e os de climas quentes vivem ao redor de suas casas. Trata-se, evidentemente, de uma simplificação excessiva, porém evidencia uma diferença no comportamento de uso, condicionado pelo clima. É claro que os que vivem em zonas setentrionais da Europa, América ou Ásia, efetuam a totalidade das funções de sua vida cotidiana dentro de casa. Por isso, será necessário proporcionar uma iluminação interior adequada, justamente para permitir o correto desempenho das tarefas visuais diárias. Isso nem sempre é possível através de iluminação natural, já que a abóbada dessas regiões caracteriza-se por ser encoberta e de luminância baixa.
Mais do que uma novela da literatura estadunidense Walden II pode se lido nos dias de hoje como um manifesto, uma proposta, em projeto, um plano, um modelo de desenvolvimento sustentável.

Procurei fazer uma apreciação crítica dessa proposta correlacionando-a com conceitos científicos e á luz de uma teoria científica, o que não significa que uma apreciação crítica de um fenômeno a partir dessa ótica seja estática, simplista, ou desumana; na verdade uma apreciação científica de um objeto deve trazer em si tanta criatividade, ousadia e bom-senso quanto o que existem na Arte. Aliás, a própria Arte é objeto de estudo da Ciência.

“A realidade da edificação não
consiste nas quatro paredes e o teto, e
sim no espaço entremeio onde se vive.”
Laotze
Poeta-profeta japonês.

Referências bibliográficas

BAUM, Willian M. Compreender o behaviorismo: ciência, comportamento e cultura. Porto Alegre: Editora Artes médicas SulLtda,1999.

CARVALHO NETO, M. B. Análise do comportamento: behaviorismo radical, análise experimental do comportamento e análise aplicada do comportamento. Interação em Psicologia, 2002, 6(1), p. 13-18.

ECOAR. Instituto Ecoar para a Cidadania. Apresenta slides sobre a Educação para a Sustentabilidade que foram a base de palestra de Miriam Duailibi. Disponível em
< www.ecoar.org.br >. Acesso em: 14 out. 2006.

MASCARÓ, Lucía Raffo de. Luz, clima e arquitetura. 3 ed. São Paulo: Nobel, 1983.

Novo Dicionário Eletrônico Aurélio versão 5.0. 3ª. Edição. Editora Positivo.

RÊGO, Renata Leão. A palavra arquitetônica. Organização e tradução: Renata Leão Rego. São Paulo: Arte & Ciência, 1999.

SKINNER, B.F. Walden II: uma sociedade do futuro. 2 ed.São Paulo: EPU,1978.

WOELZ, Thomas. De boas intenções o inferno está cheio. Psyu Psicologia, São Paulo ed. 18, ano 5, nov. 2005.

Acesso à Plataforma

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