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O contracontrole como auxílio no gerenciamento eficaz

Stephen Kanitz em um artigo escrita a mais de um ano atrás traçou resumidamente o perfil dos tipos de empresas que existem no Brasil, o fez de maneira genérica e descompromissada, mas mesmo assim foi claro ao apresentar os cinco tipos de companhias brasileiras, resultado dos seu 25 anos de experiência com a administração.

De uma maneira lúdica e falando à luz dos conceitos utilizados pela administração o autor começa apresentando os três primeiros tipos de empresas em que de acordo com ele, somente o dono, os filhos do dono, ou ninguém se diverte. O que elas têm em comum? Todas são empresas familiares, não são administradas por profissionais, especialistas preparados nos bancos das Academias e selecionados com base em seu conhecimento, experiência e currículo. São típicas empresas patriarcais onde a administração se dá influenciada demasiadamente por interesses familiares.

Falando em linguagem Behaviorista Radical. Elas geralmente não possuem processos de gerenciamento baseados em contingências de reforçamento, as ações das empresas giram em torno de opiniões que muitas vezes não são baseados em dados, principalmente na área de recursos humanos. Métodos científicos de levantamento e análise de dados do comportamento dos funcionários e consumidores não são utilizados por que se acredita demasiadamente no poder da “experiência”, da “intuição”. O comportamento dos “administradores” é muito mais controlado por regras – que não são revistas periodicamente já quem cria as regras de gerenciamento é quem as aprova – do que por contingências naturais. Também não existe controle externo de qualidade logo a capacidade que as ações e regras têm de estarem defasadas é proeminente, o comportamento dos administradores facilmente se torna disfuncional ao longo do tempo frente aos seus funcionários.

O quinto tipo de empresa que Kanitz apresenta é a empresa pública. Devido ás características específicas desse tipo de empresa não iremos tratar dela aqui.

O quarto tipo de empresa que Kanitz ressalta é a empresa “na qual todo mundo se diverte. Ela não tem um único dono, é uma associação coletiva de pequenos acionistas, a maioria formada de trabalhadores da própria empresa, fundos de pensão de trabalhadores, de classe média, de médicos e engenheiros, poupando para a aposentadoria, para não depender do salário dos filhos. São empresas de capital democrático, em que não há ações sem direito a voto, onde todos votam, […] Normalmente, o presidente dessas empresas é um administrador profissional, funcionário demissível a qualquer momento, como todos os outros […] O presidente dessa companhia é escolhido pela competência administrativa, e não pelo parentesco familiar ou loteamento político. Como esse administrador depende da cooperação de todos para manter-se no poder, a opinião geral é ouvido, todo mundo faz parte da solução, ele acredita no trabalho de equipe. As idéias de todos são desejadas e levadas a sério. Nessas empresas, o presidente não destrata nem desrespeita os subordinados, jamais berra em público, não é dono da verdade, caso contrário não sobreviveria. São empresas preocupadas com o social e não somente com o bolso do acionista controlador, que nessas empresas nem existe”.

Enfim, são as empresas mais democráticas que existem no país.

Para o Behaviorismo Radical a democracia é uma versão do contracontrole planejado para solucionar o problema do controle aversivo.

Skinner (1982 apud Weber) observa que, se o indivíduo tomar consciência deste processo que está ocorrendo, [o controle], ou seja, se for capaz de analisar as contingências envolvidas na situação, ele será capaz de exercer o que Skinner chama de contracontrole. O contracontrole acontece quando os controlados passam a agir.

Assim é possível “se opor a esse tipo inapropriado de abuso de poder [controle aversivo] e ajudá-lo [o organismo] a estabelecer procedimentos poderosos e adequados de contracontrole, de forma a impedir que aqueles que detêm o poder possam abusar dele com facilidade” (REED, 2003).

“O contracontrole ocorre quando os controlados escapam ao controlador – pondo-se fora do seu alcance, se for uma pessoa; deserdando de um governo; apostasiando de uma religião; demitindo-se ou mandriando – ou então atacam a fim de enfraquecer ou destruir o poder controlador, como numa revolução, numa reforma, numa greve ou num protesto estudantil. Em outras palavras, eles se opõem ao controle com contracontrole” (SKINNER, 1982 apud WEBER).

Weber fala que geralmente, pessoas mal informadas acerca da teoria behaviorista, de um modo geral, acreditam que Skinner e o Behaviorismo visam “controlar” ao máximo: o mundo, as pessoas, os ratos, etc. Na verdade, Skinner passou a maior parte de sua vida fazendo “análise do comportamento” e não “análise experimental do comportamento”, e nessa sua caminhada mostra a necessidade não de “controlar”, mas de saber sobre os controles existentes, ter consciência acerca dos inúmeros tipos de poder em nossa sociedade e, sobretudo, ter capacidade de exercer o contracontrole.

O contracontrole ocorre largamente nas empresas de capital aberto. É por isso que elas são mais interessantes, mais reforçadoras, mais democráticas, como nos fala Kanitz, Além dele ocorrer largamente ocorre de maneira sistematizada, planejada, sem abusos por parte dos contracontroladores. Estabelece-se uma relação de co-dependência saudável entre administrador e funcionário.

Empresas como essas tendem a sobreviver por mais tempo e com mais estabilidade no mercado.

Referência Bibliográfica

KANITZ, Stephen. Empresas onde todos se divertem. Ponto de Vista. Revista Veja; 9 de novembro de 2005.

REED, Raymond. A revolução comportamental. 2003.

WEBER, Lídia Natália Dobrianskyj. Algumas notas sobre o conceito de poder em Skinner. (Ano desconhecido pelo autor).

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